Adão Negro é um projeto que surgiu com a pretensão de mudar a “hierarquia do universo DC”. Dwayne Johnson através do personagem encontrou uma maneira de ingressar no gênero de heróis e buscar a sua própria franquia. Entretanto, tal proposta de fato é concretizada? Vemos aqui um caso que não é único nos últimos tempos, de um projeto que não consegue suprir suas próprias expectativas.
No filme acompanhamos Teth-Adam (Dwayne Johnson) que é invocado novamente e acorda no período atual após praticamente 1000 anos hibernando. Ao acordar ele vê uma Kandhaq dominada por forças militares, então cabe a Adão Negro enfrentar essa situação e o seu passado.
O Problema The Rock

Em momento algum desde os trailers nós sabíamos que esse filme teria muitos trejeitos de The Rock. Um filme de ação que foca no ator e seu carisma. Contudo havia uma expectativa de abordar novas nuances do universo DC, e até mesmo ser um respiro em meio ao caos que acontecia nos bastidores. E essas expectativas geradas, acabam não sendo atendidas.
Quando eu olho para o protagonista, ainda fica claro que aquele é o The Rock das redes sociais, e da maioria dos seus filmes (exceto por Be Cool que é uma pérola). E de fato o seu carisma ajuda a manter o ritmo do filme, entretanto acaba não sendo o suficiente. Sendo um personagem não tão versátil, o potencial do próprio ator fica limitado a um “vilão carrancudo”. E quando é preciso mudar o foco, não há nenhum ponto de interesse na trama que mantenha o seu ritmo.
Existe alguns personagens secundários que servem para apresentar o universo para o personagem e estabelecer os acontecimentos presentes. O problema é que são tão expositivos que se tornam até mesmo irritantes. Eu entendo o fator de que a maioria das pessoas no cinema não conheça o personagem. E apesar disso, não se justifica um Abecedário sobre cada fato do universo DC até aqui.
A necessidade de apresentar um anti-herói carismático, cria também problemas para situar ele, dos quais fomentam uma base genérica. Ao invés de usar o que já foi construído até aqui da DC, eles apenas buscam desafiar, insinuando sempre que o personagem é mais poderoso. E com isso, nossa atenção acaba sendo desviada para outros heróis.
A Sociedade da Justiça

A equipe surge para tentar impedir os avanços de Teth-Adam e suas ameaças. E nesse caso há méritos para os roteiristas Adam Sztykiel, Rory Haines e Sohrab Noshirvani. Há neles um carisma muito bem desenvolvido com pouco tempo de tela. Vemos as suas motivações, peculiaridades e diferentes poderes que os tornam singulares. Uma equipe onde suas histórias se passam normalmente no passado, há uma boa adaptação para o presente. O Design de Produção de Tom Meyer também se destaca, onde os trajes de cada um traz uma fidelidade ao material base e aos poderes de cada um.
Seu papel como contraponto do Adão Negro funciona e traz um fôlego para boa parte do segundo ato do filme. Contudo o problema surge através das críticas apresentadas durante o enredo. A questão antiimperialista é muito abordada no primeiro ato, onde eu vi um potencial. Isso é levado aos heróis que buscam aplicar suas leis em outros países. Existe uma base interessante para se desenvolver, mas é perdida pelo próprio filme.
Honestamente, isso foi o ponto mais interessante da trama. O enredo acaba contudo não se interessando nisso, afinal de contas o seu foco é no Adão Negro e seus poderes. E por mais que a Sociedade se destaque, são expectativas para o futuro, e não o presente. E indo além disso, vemos na própria direção, resquícios e problemas do passado.
Os Resquícios Snyderianos
O diretor Jaume Collet-Serra traz uma direção muito similar a Homem de Aço. Além disso ele consegue elaborar novamente toda a estética do DCEU. Há ali momentos que são praticamente colados de outros filmes. Isso gera uma estética caricata e interessante, apesar disso eu ainda enxerguei os problemas do passado. O uso em excesso de câmeras lentas, e uma fotografia que apela para um alto contraste. Tudo isso estabelece algo já visto, tanto em seus acertos, quanto em suas falhas.
A forma como os efeitos especiais são usados funciona, trazendo criatividade para as cenas de ação. Lutas interessantes e que sempre buscam usar o máximo da peculiaridade de cada herói. Porém aqui também há problemas do passado. Assim como Homem de Aço, há um excesso na ação, que é usada para preencher tempo, gerando uma confusão gráfica e cansativa.
Quando você percebe o caminho do filme, já enxerga o seu final. Apesar de ter uma gama de personagens interessantes, ainda é preciso focar no protagonista. Por causa disso, o filme se sustenta no anti-herói, que não consegue segurar o enredo. E o caminho no final é o mesmo, assim como os filmes mais genéricos do gênero.
Isso é um problema atual tanto na Marvel quanto DC. Quando eu ou você vamos ver um filme de herói nos cinemas, há sempre expectativa para o futuro. O presente fica relegado a um projeto genérico que serve somente para estabelecer uma franquia. A necessidade pelo fan service talvez gere isso, ou um problema ainda maior, o cinema como um produto em larga escala. Eu honestamente espero o melhor para o DCEU tendo agora James Gunn assumindo as coisas. Afinal de contas, enfim temos a possibilidade de ver o azulão de volta.