Garth Ennis sempre declarou ser abertamente contra a convenção de super-heróis americana, achando algo completamente infantil e fora da realidade (o que não é nenhuma mentira). Podemos ver essa carga de crítica ao gênero em diversas obras suas, mas a que mais chama a atenção, com a mais absoluta certeza é: The Boys: O Nome do Jogo, aonde ele escancara a sua visão da forma mais absurda e divertida possível.
Antes de mais nada, é importante frisar que esta obra contém muito material pornográfico, palavrões, violência gráfica descarada e sem qualquer pudor, e é completamente desaconselhável para menores de 18 anos, ou para pessoas mais sensíveis a este tipo de conteúdo.
O título se popularizou graças a adaptação da obra em série, produzida pela Amazon Studio em 2019, a série conta com duas temporadas, sendo que a segunda chegou recentemente na plataforma de streaming. O sucesso da série talvez se deu por conta do entusiasmo em torno do gênero, e apresentar de forma muito divertida e crível a construção dos personagens envolventes e carismáticos.
Escrita por Garth Ennis (Preacher) e desenhada por Darick Robertson (Transmetropolitan), The Boys se passa em um mundo aonde heróis uniformizados cortam os céus e vigilantes mascarados espreitam à noite. Como uma forma de controlar estes supostos “super-heróis”, a CIA forma uma equipe de pessoas extremamente perigosas, sendo eles: Billy Carniceiro, Hughie Mijão, Leite Materno, O Francês e A Fêmea (conhecida como Kimiko na série). Desta forma os The Boys nascem, um grupo de pessoas, que tem a função de “cuidar” dos supers que não se adequam a lei, e isso quase nunca é bonito de se ver.
O roteiro de Ennis é realmente destinado a uma espécie de crítica aos super-heróis, sempre mostrando eles como seres completamente escrotos nos mais diversos níveis imagináveis e inimagináveis. Mas a grande sacada é mostrar uma ambiguidade tanto no lado dos super-heróis, colocando eles como os vilões, quanto do lado dos supostos mocinhos tendo um lado completamente visceral e maligno muitas vezes.
A narrativa é repleta de violência gráfica completamente expositiva e momentos de realmente enojar o leitor, o que acaba sendo muito divertido, pois causa uma sensação de novidade misturada com apreensão, aonde somos pegos de surpresa a cada página que lemos.
A arte de Darick Robertson é um soco no estômago a cada página, se valendo de técnicas de luz e sombra, consegue apresentar muito bem a dualidade citada acima dos personagens, apenas trabalhando com os cenários. Mas o que realmente chama a atenção são as cenas altamente gore, apesar de serem notoriamente nojentas, contém um conhecimento de anatomia realmente invejável, o que rende cenas graficamente lindas, e mostra que o artista está se divertindo fazendo essa história.
Apesar de ser uma leitura divertida e não esconder que possui cenas realmente pesadas, a quantidade exacerbada de conteúdo gore torna a leitura um pouco desagradável, se valendo de cenas pesadas para transformar a história mais pesada do que ela realmente é, mas isso é mais uma liberdade do artista que opta por estes quadros mais viscerais (literalmente falando).
Este volume contém as edições de The Boys 1-6, lançadas originalmente em 2006, mais alguns extras e mais um adesivo, em 154 páginas. Com o formato 16,5 x 24 cm com miolo couché, possui capa cartona pelo preço de R$ 65,00, que você pode achar para comprar em diversos sites por preços mais em conta.
A título de curiosidade, o nome deste primeiro encadernado nos Estados Unidos era para ser: Tocando o Puteiro! que sejamos sinceros, combina muito mais com a pegada da história, mas teria uma receptividade bem negativa com o público, ainda mais como as primeiras histórias, felizmente não foi e fez sucesso.
The Boys – O Nome do Jogo, é uma sátira muito bem feita que questiona completamente o status quo estabelecido por anos de histórias com super-heróis. Apesar de ser propositalmente absurda as vezes, ainda é uma leitura divertida, aonde vemos que os artistas também estão se divertindo muito causando todas neste universo aonde literalmente tudo é possível a cada história.