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Superman – 40 anos | A batalha de Richard Donner para salvar o filme dos produtores

Quando Homem de Aço chegou aos cinemas, em 2013, fãs e críticos se dividiram sobre a abordagem sombria e “realista” do Superman de Zack Snyder, mas quando o diretor Richard Donner trouxe o super-herói para as telonas em Superman, em 1978, não houveram tais debates. O filme prometia: “Você vai acreditar que um homem pode voar” e o público comprou com entusiasmo. O filme arrecadou US $ 300 milhões em todo o mundo – o equivalente a US $ 1,09 bilhão hoje.

Mas a história por trás da produção do filme é quase tão dramática quanto o que apareceu na tela. Como diz Donner, ele estava sentado em seu banheiro, aproveitando o sucesso de 1976, A Profecia, quando o telefone tocou e Alexander Salkind se apresentou. “Você sabe quem eu sou?”, ele perguntou. Donner nunca tinha ouvido falar dele.

Salkind foi o produtor de Os Três Mosqueteiros, de 1973. Ele pegou filmagens não utilizadas do filme e as transformou numa sequência, Os Quatro Mosqueteiros: A Vingança de Milady, de 1974, que levou o Sindicato dos Atores a introduzir “a cláusula Salkind” proibindo qualquer cineasta de dividir um filme em duas partes, sem permissão contratual.

Agora ele dizia a Donner que estava a meses do começo das filmagens de Superman, mas perdeu seu diretor original, Guy Hamilton (Goldfinger). Ele queria oferecer a Donner o trabalho, juntamente com uma enorme cachê de US $ 1 milhão.

Salkind já havia contratado Marlon Brando como o pai de Superman, Jor-El e Gene Hackman como o vilão Lex Luthor – o último por um valor estimado de US $ 2 milhões, o primeiro por quase US $ 4 milhões. Ele também tinha um pesado roteiro de 500 páginas, que continha a história para um filme e uma sequência, ambas para serem filmadas consecutivamente. Mas o relógio estava correndo e ele precisava de uma resposta.

Ao longo desse texto, o próprio diretor descreve os percalços que enfrentou para levar o projeto adiante.

1 – Donner odiou o roteiro original

Depois de se impressionar com o tamanho do cachê, o diretor perguntou sobre o roteiro. Salkind respondeu: “É perfeito” e logo o encaminhou a Donner. O diretor leu todas as 500 páginas e da leitura tirou duas conclusões: 1) Aquela era a coisa mais longa que já tinha lido na vida e 2) O roteiro era depreciativo, só tinha ação gratuita e tratava os quadrinhos com desrespeito. Aqui ele explica:

Nesse roteiro, Superman está procurando por Lex Luthor em Metropolis e ele está procurando por todas as cabeças carecas da cidade. E então ele voa para baixo e bate no ombro de um cara, que é o Telley Savalas (da série Kojak), que entrega a ele um pirulito e diz: “Quem te ama, baby?

Ok, esse ponto precisa de um esclarecimento maior. “Quem te ama, baby?” ou “Who loves ya, baby?” é um bordão que foi popularizado por Telley Savalas, protagonista de Kojak, uma série policial exibida no horário nobre da CBS entre 1973 e 1978. É um bordão tão famoso nos EUA que até hoje é usado como um meme e inclusive virou música na época. Além do bordão, outra marca associada a Kojak (Savalas) é o fato dele estar sempre com um pirulito na boca. Imagine um personagem soltando aqueles bordões do zorra total para o Superman, enquanto entrega a ele um pirulito. Daí já dá para imaginar o desgosto de Richard Donner ao ler esse trecho do roteiro.

Eu fui criado lendo Superman“, continua Donner. “Houve um momento inteiro na minha vida em que eu lia Superman. Então, quando terminei, fiquei tipo: ‘Cara, se eles fizerem esse filme, vão destruir a lenda do Superman’. Eu só quis fazer esse filme para defendê-lo“.

 

2 – Começam os primeiros desentendimentos por causa do orçamento

Donner, então, ligou para seu amigo de longa data – o roteirista Tom Mankiewicz. Quando o amigo apareceu em sua casa, Donner – chapado de maconha e fantasiado de Superman – foi até ele. Depois de um tempo segurando Tom para que não fosse embora (ele não queria fazer nada relacionado a quadrinhos e achava que Donner estava louco), ele diz: “Faça uma história de amor e prove que um homem pode voar“. Tom deu uma olhada e mudou de ideia. Ambos então foram até Salkind, em Paris.

Ali começam as primeiras discordâncias. Salkind não quer alterações no roteiro, mas, talvez pressionado pela proximidade das filmagens, aceita ouvir o que Donner tem a dizer. Então dispensam o roteiro antigo e Mario Puzo começa a reescrever do zero.

Chegando em Londres para dar continuidade a pré-produção, Donner percebe que o roteiro não é a única coisa que precisa ser refeita do zero:

Eles filmaram alguns testes de vôo e eu olhei para eles e disse: ‘Isso é terrível’. O vôo era como se tivesse saído de um programa ruim de televisão, como se você estivesse deitado em uma prancha diante de uma tela de processo” (imagine os efeitos especiais de voo na série do Superman nos anos 50). “As coisas que eles tinham eram bregas. Eu disse: ‘Vocês não entendem. Vão fazer disso uma farsa’. Então eu chamei os Salkinds (Alexander e seu filho, Ilya) e disse: ‘Escute, talvez isso não vá funcionar. Temos que começar do zero’. Eles disseram: ‘Não, não, tudo que você tem é perfeito‘. Tudo com o que eles se importavam era quanto as coisas custavam“.

Donner se livrou de tudo e recomeçou do zero, independente do que os produtores achavam. Haviam várias unidades trabalhando ao mesmo tempo. A unidade principal se dividiu em três: uma filmava o Superman, outra filmava com os vilões e a última fazia as tomadas com Marlon Brando. Havia também uma unidade para as cenas de voo (comandada pelo diretor Andre De Toth) e as outras duas construíam as miniaturas de Krypton e da represa.

3 – Escalando o Superman 

Os Salkinds queriam um nome importante para protagonizar o filme. Lyle Waggoner (O Steve Travor da série original da Mulher-Maravilha), Arnold Schwarzenegger, Jon Voight, Nick Holte, Charles Bronson, Christopher Walken foram alguns atores considerados e cerca de 200 desconhecidos foram testados [até o então atleta Bruce Jenner (hoje Caitlyn) fez audição]. Ninguém parecia se encaixar no papel e a busca se tornou tão desesperada em um momento, que até o dentista da esposa do Salkind filho fez uma audição.

Encontramos caras com um físico fabuloso, mas que não sabiam atuar ou atores maravilhosos que não se pareciam nem um pouco com o Superman“, disse Tom Mankiewicz em 2006.

Tivemos um ótimo diretor de elenco (Lynn Stalmaster). Ele conseguia encontrar muitas pessoas, mas os Salkinds queriam um nome. Eu me encontrei com Sylvester Stallone por causa deles. Tentei ser legal e dizer: ‘Isso é errado’. Eu gostava de Stallone; se mostrou um cara legal. Ele queria fazer esse filme. Lembro-me de encontrá-lo no escritório de seu empresário e fui o mais cordial que pude. Ele era uma grande estrela e eu era só um garoto qualquer.[..] Mesmo se você visse Paul Newman ou Robert Redford nesse traje, ninguém iria acreditar neles. As pessoas iriam ver o Robert Redford vestido de Superman, mas não o Superman. Então eu lutei por um desconhecido“, diz Donner.

Depois de semanas e mais semanas de procura, um rapaz magrelo de 1,93 de altura, aparentando ter uns 24 anos, vem até Richard Donner para fazer uma audição. O diretor não ficou muito impressionado, como dá para notar aqui:

De qualquer forma, um dos atores entra e é esse garoto, Chris Reeve. Ele entra, usando um suéter enorme, cabelos claros. Eu disse: ‘O que está embaixo do suéter?’ E ele diz: ‘Bem …’ . O suéter dele era grosso, mas ele era muito magro. Então eu falei: ‘Olha, moleque, o problema é que eu preciso de um cara que seja robusto, que tenha uma montanha de músculos’. Ele disse: ‘Ouça, eu era um atleta na escola e quando comecei a atuar perdi 22 quilos’ Eu falei: ‘Eu não acredito nisso – você é um ator’. Ele diz: ‘Não, eu perdi. Juro para você'”.

Curioso sobre Reeve, Donner foi ver uma peça sua, na qual o jovem ator fazia dois papeis, um filho e um avô. Foi o suficiente para causar uma boa impressão no diretor, que levou Reeve até Londres para convencer os produtores de que ele era o cara certo. Reeve fez o teste e conseguiu o papel. Quando recebeu o roteiro, ficou feliz que Donner levava o personagem a sério.

“Até o final dos anos 70“, disse Reeve em certa ocasião, “o ideal masculino mudou. Agora é aceitável que os homens sejam gentis e demonstrem fragilidade. Sinto que o novo Superman deveria refletir essa imagem contemporânea do homem“. Já a interpretação de Clark Kent seria inspirada em Cary Grant, no filme Levada da Breca, de 1938.

https://www.youtube.com/watch?v=TWKBHzxDu20

 

Christopher Reeve se submeteu a um treinamento intenso, coordenado por David Prowse (ator que usou o manto de Darth Vader, na trilogia original de Star Wars). No começo das filmagens, Reeve já pesava 96 kg. Prowse disse à imprensa que achou o ator adorável, mas confessou a Sarah Douglas (a Ursa de Superman II) que o achava estranho. Douglas ficou aliviada por não ser a única que não gostava tanto assim do Reeve. Margot Kidder também chegou a dizer que o colega era chato para caramba.

 

3 – Margot Kidder ou Stockard Channing?

A decisão final para definir a Lois Lane acabou ficando entre Stockard Channing e Margot Kidder. Obviamente a última ficou com o papel e Channing entraria para o elenco de Grease – Nos Tempos da Brilhantina.

No vídeo abaixo podemos ver algumas das atrizes testando. Margot aparece nos instante 3:47 e 8:56, já Stockard no instante 5:46.

https://www.youtube.com/watch?v=yN0-Ycw3olA

Eu tinha visto Margot Kidder em uma série de TV chamada Nichols. Ela era charmosa e muito engraçada. Quando eu a conheci no escritório de elenco, ela tropeçou na entrada e eu simplesmente me apaixonei por ela. Foi perfeito, esse comportamento desajeitado. Ela foi uma das poucas (atrizes) que trouxemos a Londres para testar com o Chris. Anne Archer também testou, mas eles eram mágicos juntos“. Diz Donner sobre a escalação  de Kidder. Sobre a atriz, que se foi neste ano, ele continua: “Quando estávamos filmando, o maquiador veio até mim e disse: ‘Temos um pequeno problema. Margot arranhou um olho quando colocou a lente de contato’. Eu disse: ‘Faça isso sem suas lentes’. Naquele dia, ela estava maravilhosa, porque seus olhos estavam arregalados, sem percepção de profundidade. Ela foi até a mesa – e nesse momento ela era a garota que eu queria que ela fosse, então falou: ‘Mas eu não posso ver!’ Havia uma lei depois disso: Todas as manhãs as pessoas tinham que vir até mim para me certificar de que ela não havia achado suas lentes e que ela atuaria sem elas. Isso só a deixou maravilhosa“.

4 – Marlon Brando

Antes de encontrar Brando em Los Angeles, onde o ator residia, Donner conversou com Jay Kanter, um poderoso agente e executivo de estúdio, sobre o que esperar do encontro com o famoso ator. Kanter apenas respondeu que Brando “odeia trabalhar e ama dinheiro“. Ainda carente de uma resposta mais específica, Donner ligou para Francis Ford Coppola, que então disse: “Ele é brilhante. Tem uma mente brilhante. Mas ele gosta de conversar. Deixe-o falar, e ele vai se convencer de qualquer problema“.

Munido dessas informações, ele, Tom Mankiewicz e Ilya Salkind foram até a mansão de Brando, em Mulholland Drive, onde o próprio ator os recebeu e os convidou para tomar alguma coisa. Depois de um tempão, segundo Donner, Brando finalmente toca no assunto:

Ele disse: ‘Por que eu não interpreto este papel como um bagel?‘” (Bagel é um tipo de pão). “Ele disse: ‘Como sabemos como as pessoas de Krypton são?’ Ele tinha boa lógica e disse: ‘Talvez eles se parecessem com bagels naquela época?’ Eu falei: ‘Por Deus, Marlon, deixe-me dizer uma coisa: É 1939. Não existe uma criança no mundo que não saiba como Jor-El se parece, e ele se parece com Marlon Brando’. Ele olhou para mim, sorriu e falou: ‘eu falo muito, não é? OK, me mostre o figurino‘”.

Reeve, Donner diz, ficou maravilhado em trabalhar com Brando. O astro se dava bem com todos no set e de fato era um gênio, segundo o próprio diretor, ainda que tivesse que “pendurar os diálogos dele no peito dos outros atores com quem contracenava“. O ator inclusive salvou Tom Mankiewicz de ser esfaqueado por uma mulher em um restaurante quando ambos jantavam com Donner. Para Christopher Reeve, no entanto, a boa impressão inicial se transformou em decepção, uma vez que ele se deu conta de que Brando não estava nem aí para atuação e até criticou a imprensa por tratar o ator como uma entidade acima de qualquer crítica.

 

5 – Fazer um Homem Voar Custa Caro

Como todos sabemos, efeitos visuais não existiam naquela época, mas a semente do que viria a se tornar o Computer Generated Image – ou simplesmente CGI – já havia sido plantada por George Lucas em Guerra Nas Estrelas, de 1977. Então como fazer um homem voar? Richard Donner explica como foi e quanto custou:

Todos os dias, durante oito meses, testávamos os voos e os analisávamos diariamente. Aí um homem maravilhoso entrou em nossa vida, Zoran Perisic. Naqueles dias, uma unidade de projeção frontal era enorme e pesava cerca de uma tonelada. E ele inventou uma unidade de projeção frontal que pesava 15 ou 18 quilos. Ele tinha um zoom no projetor e na lente que fotografava tudo. Então você pode ampliar e mover, a câmera era flexível. Ele veio até mim e fizemos todos esses testes e eu disse: ‘Isso é ótimo!’ Então fui ao Salkind e disse: ‘Eu quero fazer isso’, mas eles não pagariam os US $ 25 mil (cerca de US$ 97 mil em valores atualizados) para que Perisic terminasse de desenvolvê-lo, então a Warner pagou. E no dia em que vimos Superman voar pela primeira vez, houve um silêncio mortal. Alguns caras que comandavam a unidade de voo estavam chorando, porque aquilo ficou muito bom“.

O leitor nesse momento pode se perguntar: Do que diabos o Donner está falando? O que é essa tal projeção frontal? Um efeito de projeção frontal é um processo de efeitos visuais de câmera durante a produção de filmes para combinar a interpretação em primeiro plano com imagens de fundo pré-filmadas. Foi a técnica usada em Superman. No entanto, eles ainda enfrentaram o problema de ter que fazer o Reeve realmente voar em frente a câmera. O assistente de efeitos Zoran Perisic patenteou um novo refinamento na projeção frontal que envolveu colocar uma lente de zoom na câmera e no projetor. Essas lentes de zoom são sincronizadas para aumentar e diminuir o zoom simultaneamente na mesma direção. À medida que a lente de projeção aumenta o zoom, ela projeta uma imagem menor na tela; a lente da câmera faz zoom ao mesmo tempo, e no mesmo grau, de modo que a imagem projetada (a placa de fundo) apareça inalterada, conforme visto pela câmera. No entanto, a pessoa colocada em frente a tela de projeção frontal parece estar se aproximado da câmera e é assim que Superman voa em direção ela. Perisic chamou essa técnica de “Zoptic”. O processo também foi usado nas duas sequências do Superman (menos no quarto filme devido a restrições orçamentárias).

Para ajudar no entendimento, segue uma ilustração:

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Perisic ainda explicou o método para uma reportagem, na época do lançamento. A matéria infelizmente está em inglês:

 

6 – Mais Brigas por Orçamento e Despedida Amarga

Superman custou cerca de US$ 213 milhões em valores atualizados. Os produtores tornavam qualquer coisa difícil e Donner queria fugir do ar de filme tosco e pastelão que eles queriam dar ao projeto:

O maior problema que tive foi mesmo com os produtores, porque ao invés de me ajudar, eles estavam me prejudicando. A coisa (com os Salkinds) sempre foi sobre dinheiro. Eles diziam: ‘Você não pode fazer isso’, mas eu não tinha alternativa e eles não me mostravam o orçamento. Eles nunca me disseram qual era o orçamento. Eu não tinha ideia do que estava gastando. Estava fazendo um filme e eles não me diziam o orçamento, então não havia como saber quanto gastava. Às vezes eu autorizava algo e aí não era atendido; eles simplesmente cancelavam de forma arbitrária. Acho que não queriam que alguém soubesse para onde o dinheiro ia“.

Eles ficavam dizendo: ‘Você está ultrapassando o orçamento’. E eu dizia: ‘Como estou superando o orçamento se não sei qual é o orçamento?’. Chegou ao ponto em que eu disse a eles: ‘Não venham ao set, vocês são contraproducentes’. E virou uma questão de nós contra eles, que eram contra a qualidade do filme“.

Outro problema inesperado surgiu durante as filmagens: Eles não conseguiam encontrar um final adequado para o filme. Depois de muitas conversas a respeito, Donner diz que decidiu roubar o final de Superman II e notou que ao fazer isso, teria que bolar algo para encerrar a sequência. Aliás, o filme 2 estava sendo gravado quando o lançamento do primeiro chegou. Ocupado com as filmagens do segundo longa, enquanto cuidava da pós-produção do primeiro, Donner confessa que sequer teve tempo de fazer uma exibição-teste:

Eu finalmente consegui um corte, e nós iríamos levar o workprint para Los Angeles e fazer uma exibição no estúdio, porque nós estávamos editando em Londres. Estava tudo organizado e o (editor) Stuart Baird e eu voamos para Los Angeles. Quando chegamos lá, recebi uma ligação do (executivo da Warner Bros.) John Calley, que disse: ‘Temos um grande problema. Os Salkinds não vão liberar o workprint porque dizem que estamos tentando roubá-lo’, e eu digo: ‘Não podemos roubá-lo. Eles têm o negativo lá’. Então ele diz: ‘Bem, eles estão alegando que podemos fazer um negativo do workprint’. Aí eu falei: ‘Não, você não pode. Isso é fisicamente impossível‘”.

Para quem não sabe, workprint, segundo a Wikipedia, é uma versão “crua” de um filme que ainda está no processo de edição. Tipo essa imagem aqui, que compara um quadro finalizado de “O Máscara” e um workprint do filme:

Imagem relacionada

Donner continua: “O negativo tinha que ser enviado a L.A. e a Warner tinha que pagar aos Salkinds todo esse dinheiro para isso ser feito. O negativo ainda tinha que ser cortado, cronometrado, impresso. Então não houve tempo para realizar exames. Nenhum. Eu vi no laboratório, sem público, sem som. O segundo eu vi com o som“.

Eu não sabia o que eu tinha até que o assisti com o público na estréia. Eles amaram. Eu não pude acreditar. Foi emocionante“.

Vale dizer que o casal David e Leslie Newman, creditados no filme como roteiristas, não escreveram de fato a versão que foi para o cinema (que é atribuída a Mario Puzo), mas sim o roteiro inicial de 500 páginas, que Donner descartou por completo para salvar o personagem de um filme ruim. O diretor gravou dois filmes do Superman, mas antes de finalizar o segundo projeto, foi demitido pelos Salkind, que contrataram Richard Lester para finalizar Superman II e dar um ar mais pastelão ao longa, que era o pretendido por eles inicialmente. Partes do filme também foram reescritas pelo casal Newman.

As cenas escritas pelos Newman e dirigidas por Lester não casaram muito bem com o material de Donner e dá para perceber o tom de cada um ali na versão de cinema de Superman II.

A versão de Donner de Superman II foi lançada em DVD em 2006, onde o vilão continua sendo Zod, mas a trama segue caminhos e tons diferentes da versão de cinema. Sem ter como criar um novo final para o segundo filme por motivos óbvios, o diretor precisou repetir a conclusão do primeiro filme em sua versão.

Superman II foi um sucesso de bilheteria (não tanto como o primeiro, mas ainda assim um sucesso). Richard Lester e o casal Newman foram trazidos de volta para o terceiro filme, para o desgosto de Margot Kidder e Gene Hackmann, que exigiam Donner de volta. a primeira foi riscada da produção e substituída por Lana Lang (Anette O’toole) e Hackmann se demitiu. Como resultado, Superman III é mais uma comédia pastelão protagonizada pelo Richard Pryor do que um longa de aventura do Superman. Esse fracasso e o de Supergirl fizeram com que os Salkinds desistissem do personagem.

A cena do “beijo do esquecimento” em Superman II é claramente uma ideia do casal Newman, pois ela não existe na versão do Donner. Se a gente for prestar atenção, depois dessa cena tudo segue ladeira abaixo na franquia. O tom de comédia pastelão do terceiro filme nem de longe encanta como a seriedade trazida por Richard Donner. Se ele não tivesse aparecido para defender o personagem, como ele mesmo diz, os Newman e os Salkind teriam antecipado o Superman III logo para o primeiro filme, transformando sua origem numa patacoada, matando a franquia e,possivelmente, atrasando o “gênero” super-heróis em uns 20 anos no processo. A única coisa que os Salkind fizeram de certo foi contratar o Donner.

Com o lançamento bem sucedido de Superman – O Filme, Donner estava pronto para finalizar o segundo filme em Londres:

Eu quase comprei uma pequena van Chevy. Iria enviá-la para a Inglaterra porque era grande o suficiente para que eu pudesse ter uma mesa e as cadeiras reclinassem. Então recebo uma ligação do meu agente, que disse: ‘Acabei de receber um telegrama dos Salkinds. Você não é mais necessário’. Então foi isso“.

https://www.youtube.com/watch?v=QNEg09Yuz8A

Fonte: Hollywood Reporter

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