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Prey e uma breve história sobre a masculinidade… e como ela está mudando

Prey é o novo filme da franquia Predador, que trouxe uma figura feminina como protagonista e atiçou de certa maneira o público masculino que sempre gostou do tipo de protagonista “brucutu” como Arnold ou Stallone, e novamente trouxe o dilema da masculinidade à tona. Mas essa é uma longa história… e, será mesmo que finalmente estamos vendo uma nova perspectiva?

Período Antigo

300 (2006)

Essa história começa a muito tempo atrás, mais precisamente ao período da Grécia Antiga onde como podemos ver nas estátuas, pinturas e outras diversas obras, a adoração ao corpo. Nesse período a humanidade não via a nudez como algo errado ou sequer ofensivo, mas sim uma forma de glorificar a forma humana como um todo. 

De acordo com o historiador Tulcídides, os espartanos costumavam praticar exercícios nus para glorificar essa beleza. E também atualmente temos alguns estudos que apontam o relacionamento na grécia antiga entre pessoas do mesmo sexo como algo visto de forma natural.

Enquanto isso, no Egito Antigo o conceito de masculinidade não se encontrava em homens musculosos e que eram capazes de cruzar grandes combates. Alguns estudos e pesquisas referentes à imagem do Faraó que era a figura principal do império Egípcio, seu corpo era de um jovem com uma cintura e rostos finos. Nesse período a juventude era o principal foco de devoção de muitos. E referente as roupas que usavam, no dia a dia eram coisas simples como saia e sandálias, mas em momentos de comemoração costumavam usar braceletes, cordões, perucas e demais adereços. O cuidado para manter a beleza sempre em seu alto nível era primordial para quem fazia parte realeza do Faraó.

Contudo esse período onde se buscavam a perfeição do homem acabou com a chegada da era moderna.

Período Moderno

Adoráveis Mulheres (2020)

Com a chegada do período moderno e também a mudança na arte tivemos uma outra percepção sendo apresentada. A arte barroca teve grande influência nessa mudança, tivemos agora um foco em apresentar o mundo como ele é.

Agora teríamos uma apreciação maior ao corpo feminino, e também maior destaque para as paisagens em volta dele. Se olharmos para o modo como o homem é representado nesse período, utilizando longas meias, roupas pomposas, perucas e até mesmo maquiagem em algumas situações. Contudo com o passar do tempo a visão do homem em si se alterou em diversos aspectos.

De certa maneira a masculinidade passou a assumir cada vez mais uma visão de controle do qual ele possuiria o maior poder. Mulheres eram treinadas desde jovens a se casarem, enquanto a visão do homem de prover alimento para a casa crescia.

Período Tecnológico 

O Pecado Mora ao Lado (1955)

Após a Revolução Industrial, e também passando pela Primeira Guerra e Segunda Guerra Mundial, nós tínhamos o homem não somente como provedor, mas também salvador, aquele que deveria estar à frente no combate para salvar aqueles que não podiam lutar. Com isso na arte a imagem do homem também seria estabelecida, onde teríamos heróis sendo apresentados e a visão de que o homem deveria ter coragem por qualquer circunstância.

E enfim chegamos ao cinema como conhecemos. No ocidente, mais precisamente nos Estados Unidos é visível como grande parte das produções apresentavam sempre personagens masculinos como destaque, enquanto as mulheres sempre serviam para satisfazer o prazer do homem ou servir a ele de certa forma. O homem, era viril, fumava e em sua maioria possuía sempre uma postura séria e que se colocava à frente dos problemas.

No cinema francês é claro, tínhamos uma abordagem diferente sendo estabelecida, mas em comparação a ascensão de Hollywood, essa guerra pela forma como o homem e a mulher eram representados, já havia sido ganha pelos EUA.

Talvez o primeiro passo para a real mudança no cinema e na cultura pop em geral foi o ator James Dean, que em seus filmes apresentava sempre uma postura diferente dos demais protagonistas da época, onde apresentava uma persona frágil fazia total contraste contra a visão do homem da época, que deveria ter total controle sobre sua casa,sua esposa, sua carreira e vida. Infelizmente o ator veio a falecer em um acidente que marcou a história do cinema.

Após isso nos anos 80 e 90 tivemos um longo período onde o cinema foi marcado pela adoração a violência, ao homem másculo e que representava tudo aquilo que a América queria naquele momento.

Os dias de hoje

Prey (2022)

Atualmente encontramos cada vez mais visões diferentes da masculinidade. Ataque dos Cães da diretora Jane Campion traz esse dilema e também o debate dele tendo como plano de fundo os filmes de velho oeste americanos. E em contraponto, temos cada vez mais a insurgência de protagonistas masculinos que não traz os trejeitos dos “personagens silenciosos que eu me identifico”. E além disso temos exemplos de protagonistas femininas fortes que fogem de estereótipos criados por essa ilusão da masculinidade.

Em Prey acompanhamos uma protagonista feminina forte e que tem sua própria narrativa desenvolvida sobre provação para a sua tribo. Além de ser um filme bem conduzido e que não se rende somente à isso para chamar atenção, é criado uma trama envolvente e que até mesmo respeita a mitologia do Predador. E mesmo com todos esses pontos positivos, parte da audiência ainda recusa o filme, não com pontos sólidos de críticas, mas somente preconceitos construídos com base em mentes vazias que não abrem espaço para novas experiências.

Comentários relacionados há uma cena de Prey.

A realidade é que grande parte da sociedade ainda está ausente da possibilidade de verem suas histórias recontadas de uma maneira diferente e para um novo público. De fato irá existir aquelas obras que utilizam do quesito representatividade para vender uma ideia, e no final ser somente isso e nada mais. Só que em Prey e vários outros filmes atuais, temos história contundentes que entregam uma nova abordagem e também trazem a representatividade que é necessária para tempos com um preconceito tão grande na arte.

A história contada até aqui mostra não a ausência de figuras masculinas que fogem do estereótipo, mas uma negação há elas. Talvez chegará o momento onde isso será deixado de lado, mas até lá ainda terá essa parcela que não acredita que isso seja algo possível. E aqui eu termino esse artigo com uma frase, que apesar de clichê, transparece algo que deve ser pensado.

A maior prova da masculinidade de um homem são as suas lágrimas!

Reinaldo Ribeiro