Sem sombra de dúvidas o maior estúdio de animação de todos os tempos está passando por uma de suas melhores fases, a divisão de desenhos animados da Walt Disney Studios com certeza passou por fazes de críticas severas no começo dos anos 2000, sendo até mesmo deixada para trás por sua antiga parceira e atual subsidiária a Pixar Animation Studios, que trazendo filmes cheios de criatividade e coração (mesmo com um certo período de fracassos de crítica como em o lançamento de Carros 2) acabou ajudando a colocar as animações da Disney de volta nos trilhos, com uma grande e imbatível sequência de lançamentos, rapidamente se tornaram sucesso de crítica como a vitória do Oscar de melhor animação por Zootopia e sucesso de bilheteria com Frozen 2, filme animado responsável por arrecadar a maior bilheteria de todos os tempos, e claro que a empresa responsável por ajudar a gigante do entretenimento não estaria de fora, a Pixar atualmente faz parte da Walt Disney Company e com isso houve a mescla de criadores das duas empresas para trabalharem em suas animações, tornando a Pixar e a Walt Disney Animation mais unidas do que nunca, porém com todo esse sucesso e talentos ninguém fez uma das perguntas mais importantes que ajudaram a definir o universo animado da Disney como nós conhecemos hoje, aonde foram parar os vilões?
Responsável por alguns dos vilões mais cativantes e populares da cultura pop as animações da Disney ao longo de sua história sempre tiveram um cuidado acima da média como os personagens que seriam os antagonistas de seus heróis, desde o lançamento do seu primeiro filme A Branca de Neve e os Sete Anões (1938) vimos a importância que uma figura maléfica e espantosa pode trazer para uma trama, sem sombra de dúvidas a Rainha Má não foi a única personagem que atormentava os heróis das histórias, em seguida tivemos a Madrasta Malvada, Malévola, Cruela Cruel, entre outros personagens que entraram para o imaginário popular, alguns até mesmo se tornando maiores que os próprios heróis, até nós chegarmos no final da década de 80, aonde uma nova leva de filmes totalmente inspirados pelos musicais da Broadway nos trouxeram vilões ainda mais teatrais e carismáticos que até hoje estão nos corações dos fãs, vilões como Úrsola, Ja`Far, Scar, Hades, entre muitos outros trouxeram risadas e terror para todos que assistiam, até mesmo a Pixar em seu início com vilões como Síndrome, Hopper ou até mesmo o competidor rival de Relâmpago McQueen Chick Hicks conseguiram cativar inúmeros espectadores com a emoção que somente um vilão seria capaz de trazer.
Apesar de não possuir essa característica narrativa os filmes atuais da Disney e Pixar não são filmes ruins, mas ao assisti-los em sequência e observando o panorama geral parece que uma das artes mais bonitas do cinema, uma arte que ajudou a Disney a ser mágica desde o começo de sua história foi perdida, a arte de criar vilões, afinal um vilão não está lá somente para dar ao filme mais uma canção, explicando de uma forma extremamente simplista um vilão entre seus diferentes tipos, se bem feito pode gerar inúmeros degraus de profundidade para o filme, ele tem a função de se contrapor ao protagonista, de desafia-lo, ou até mesmo de motivá-lo, afinal a frase “todo herói só é tão bom quanto seu vilão” não existiria e claramente ainda mais nessa fase atual, a Disney e a Pixar precisão reaprender a fazer essa arte.
A maior rival das duas empresas a DreamWorks Animation pode não possuir um catalogo de filmes tão aclamados, talvez por sua estratégia empresarial muito diferente, mas mesmo assim não impede que a tanto a Disney quanto a Pixar possam aprender importantes lições com alguns filmes dessa empresa, filmes como Kung Fu Panda e Como Treinar seu Dragão são ótimos exemplos nos quais esses dois estúdios poderiam se inspirar, tanto no quesito vilões, quanto em boas sequências que podem trazer evolução aos seus personagens, principalmente porque a DreamWorks combina incrivelmente esses dois elementos, como Tai Lung um antagonista que representava a pura agressividade e raiva cuja a ameaça fez com que Po aprendesse a usar seu verdadeiro potencial tornando-se o Dragão Guerreiro, ou Lorde Shen cuja ganancia e busca incessante por glória tenha mostrado a Po sua origem e o que realmente nos define não são as lembranças dolorosas do passado mas o que escolhemos fazer com nossas vidas, ou Kay o antigo inimigo voltando para tentar destruir tudo o que a bondade e aprendizado de mestre Oogway construíram ensinando Po a ser um verdadeiro mestre, fazendo um paralelo incrível com todos esses ex-aliados que ao se deixar levar pelos inimigos mais ancestrais do homem se tornaram pessoas terríveis, mostrando a Po exatamente para onde esses caminhos obscuros levam e servindo de exemplo para que ele os compreenda e os evite. Como Treinar seu Dragão tem a mesma competência, no primeiro filme não temos um vilão muito bom, mas é sem dúvida um desafio grande o suficiente que fomenta a relação de Soluço com seu pai, sua amizade com Banguela e um desafio que nenhum outro viking conseguiu superar, ou Drago Sangue Bravo, praticamente um nêmesis de Soluço, um treinador de dragões com uma história de origem muito parecida, mas com uma ideologia completamente distorcida, usando medo e violência para dominar os dragões ameaçando destruir toda a harmonia entre eles e os homens, com coragem suficiente para matar personagens importantes para a trama e trazer mais seriedade e importância para a evolução e aprendizagem do herói, sem falar em Grimmel um caçador ardiloso e manipulador que jurou destruir tudo que Soluço construiu, fazendo com que ele se torne um homem e um líder melhor, passando por muitas dificuldades e sacrifícios, mostrando verdadeiramente uma destreza e talento em vertentes que a Disney não possui mais.
Enquanto a DreamWorks faz um ótimo trabalho unindo a evolução do protagonista com um bom vilão, podemos ver que a Disney/Pixar nem mesmo está tentando, seja por falta de coragem como ocorre em Toy Story 4 e Moana, aonde Gabby Gabby e Te Ka não passam de personagens mal compreendidas e não vilãs de fato, ou em filmes como Zootopia, Frozen ou até em O Bom Dinossauro, aonde há vilões que possuem uma pontual participação na trama, porém são fracos, pouco cativantes, esquecíveis, nada que chegue sequer perto dos vilões clássicos, em Frozen 2 cujo a trama se trata de um desastre natural, não vemos nenhuma graça e nem uma verdadeira sensação de perigo, não gerando nenhuma evolução para os personagens, que terminam o filme do mesmo jeito que começaram, mas tem algo extremamente presente nos novos filmes, é a presença de um “tema sério”, que é usado como linha condutora e até mesmo pode ser usada como vilão, como ocorre em Wi-Fi Halph, porém se tratando apenas dos protagonistas e sendo um problema único e exclusivo dos personagens, talvez deixe a trama ainda mais egoísta, por serem problemas somente deles, no meio desse exagero de exemplos podemos comparar os dois filmes de os Incríveis e ver claramente o quão inferior o Hipinotizador é em relação a seu antecessor o Síndrome, cuja as características cartunescas e história envolvente nos dão algo muito mais marcante e cheio de personalidade, mostrando que as vezes ter uma figura sombria e deplorável, de personalidade dúbia e sorriso cativante faz muita falta.
Não sabemos se há alguma nova política que impede dentro dos estúdios Disney um foco maior em personagens que pregam a pura maldade, talvez devido ao mundo atual e com pessoas cada vez mais chatas com demonstrações de vilania em obras, que pensam que seus filhos podem ser influenciados por atos claramente retratados como errados de um personagem ficcional, ignorando as importantes lições que um vilão pode trazer ensinando exatamente como não agir, esquecendo que até mesmo o simples desafio gerado por um bom personagem maligno pode aumentar ainda mais a influência e o poder de um herói, mostrando que as vezes uma escolha de temas usado como algo que deve ser combatido as vezes não é tão poderoso ou cativante quanto se esse tema ou a simples maldade estivesse impregnada em um personagem, sem falar que outros estúdios como a DreamWorks, Laika e até mesmo novas empresas que estão surgindo estão acertando mais nesse aspecto e conquistando mais fãs a cada dia, talvez por maior ousadia e maior inovação, mas com certeza aos poucos insistindo em questões que estão se perdendo dentro da atual e totalmente industrial Walt Disney Company.