Imagine se passado, presente e futuro coexistissem e você pudesse ir para frente e para trás nesta teia de eventos, dependendo apenas da entropia de seus átomos. Imaginou? Pois é: esta é a grande discussão teórica sobre física quântica e a teoria da gravitação universal do momento e Christopher Nolan trouxe as questões filosóficas disso para nós, os leigos, em Tenet, seu novo filme, o filme do ano, que estreia nos recém reabertos cinemas brasileiros esta semana.
Na trama, O Protagonista (sim, este é o nome da personagem interpretada pelo bom John David Washington) é um soldado americano a serviço da CIA que comete suicídio para não ceder informações aos inimigos, mas descobre que a pílula do suicídio é falsa: apenas um teste para colocar à prova a extensão da fidelidade dos soldados e, quando O Protagonista acorda, é introduzido à real trama do filme.
Tenet é uma palavra do inglês que significa “dogma”, “preceito”, “princípio” e serve como uma luva ao conceito do filme, pois, além do significado, é um palíndromo (uma palavra que é a mesma, mesmo sendo lida de trás para frente). Tenet é, em si, algo que demonstra as pirações de Nolan desde Amnésia (Memento, 2000) e Interestelar (Interstellar, 2014): o primeiro com duas linhas narrativas, contando o tempo cronológico e o anti-cronológico, e o segundo falando de tempo em física quântica. Em seu mais novo filme, Nolan explora tanto a questão estética, que além de simplesmente estética faz todo o sentido cinematográfico, quanto a física envolvida na questão de que o tempo é uma grandeza palpável e imutável e que, eventualmente, poderemos viajar por ele assim como viajamos por espaços físicos.
O lado narrativo de que estamos lidando com uma conspiração dá um charme ao filme que, na humilde opinião deste crítico que vos escreve, tem seus pontos altos em três momentos/aspectos: a dinâmica entre O Protagonista e Neil (personagem do já vigiado novo Batman, Robert Pattinson que, aqui, faz jus à sua já notória fama de bom ator pós saga Crepúsculo), em que os papéis de mentor e discípulo se alternam momento a momento, as sequências de luta entre cronologia e anti-cronologia (cara, eu PRECISO ver o making of de como isto foi feito!) e a tomada de consciência dO Protagonista como tal, uma vez que ele pensava, durante todo o filme que ele era apenas um soldado em uma luta maior.
Do ponto de vista técnico, não há o que questionar, no filme. A montagem é primorosa, a fotografia, com uma crescente de luz, começando com um estilo de pouca cor, alto contraste e muito preto em tela e, na medida que temos a trama revelada, temos mais luz e claridade, o estilo de Nolan muito presente em tela (houve momentos que eu via a trilogia de Batman acontecendo), mas com a evolução narrativa de não perder mais muito tempo explicando conceitos, faz com que Tenet seja, realmente, um filmaço.
Abaixo dos três grandes filmes (Amnésia, Interestelar, A Origem) de Nolan, mas ainda um filmaço, Tenet é um grato convite à volta dos cinemas, que fizeram tanta falta neste ano de 2020.