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Crítica: Ruído Branco | O medo da morte e o anseio pela felicidade

Ruído Branco é um barulho que combina e oscila diferentes frequências com o objetivo de atingir todo o espectro de som para mascarar qualquer tipo de frequência que esteja atrapalhando a pessoa.

Constantemente nos encontramos em frente à questão ‘morte’. No seu sentido mais frio e simplista, como também nos níveis mais complexos de seu tema. Entre a maioria das pessoas, ainda há um medo iminente da morte, no seu sentido pessoal. Digo pessoal porque em uma escala maior há uma fetichização da ideia de morte, com programas, notícias e entre outros. E como uma família do suburbano americano lida com esses temas, em meio há um caos que pode devastar tudo? 

Ajustando a frequência

Em Ruído Branco acompanhamos a família do professor Jack Gladney (Adam Driver) e Babette Gladney (Greta Gerwig) que se encaram um momento desafiador nas suas vidas quando um gás químico começa a se espalhar pela região onde moram. Eles terão que lidar com questões pessoais e mistérios que cada um esconde, assim como uma catástrofe que se aproxima.

A trama nos estabelece uma família grande, onde o casal está no seu quarto casamento, mas aparenta lidar bem com isso. Todos ali possuem uma mente sagaz capaz de discernir informações com velocidade (assim como desinformações). Jack é um professor perito no tema ‘Hitler’ na faculdade e possui como grande amigo o professor Murray (Don Cheadle). Babette dá aulas de pilates para idosos e o resto das crianças estudam somente.

Vendo essa explicação, não vemos nada de diferente de uma família tradicional americana, e de fato não é. O contraponto aqui surge nas relações criadas com cada um, sendo diferentes de uma família tradicional. Sendo favorecida pelo roteiro de Noah Baumbach, que também assume a direção do projeto. 

Precisa ser entendido que o filme não busca ser “realista”, pelo contrário. Ruído Branco paira por uma narrativa surrealista, onde tal surrealismo está presente nos próprios diálogos que são metodicamente escritos e falados. A proposta aqui é quase como um “filme ensaio”, que através desse ensaio conta uma história mas nos deixa perguntas para as quais devemos responder.

Os mistérios me intrigaram do início ao fim, e a resposta oferecida para eles não foi satisfatória por si só, mas pela justificativa que eu dei para ela. A proposta aqui é levantar uma pergunta que percorre boa parte das famílias. Você tem medo de morrer?

Interferência no Sinal

A família principal de Ruído Branco.

Essa pergunta não é feita constantemente pelas pessoas, mas surge em diversas situações do nosso dia a dia. O medo de viajar de avião, de experimentar certas coisas, até mesmo de sair de casa. Nós fizemos essa pergunta e então respondemos de acordo com cada situação.

No filme, temos dois aspectos desse dilema. De um lado os acadêmicos da faculdade de Jack que trazem uma conversa rebuscada, buscando interpretar o conceito além dele. E do outro Babette que fala de uma maneira humana e pautada no cotidiano do ser comum da sociedade. 

E há outros temas que podem ser encontrados na superfície do enredo, mas a morte é seu principal motor. A noção de cada personagem sobre o tema, seus pensamentos e ideias. Expostos de forma direta, retornando novamente à questão de ser um filme ensaio.

A própria ambientação do filme que se utiliza dos anos 80 é proposital para elevar esse tema. O medo do futuro que está constantemente conectado com a morte. De novas máquinas de destruição, tecnologias perigosas e medicamentos especiais. 

Com a entonação em volta das informações que chegam até a família, de notícias sobre o desastre e em como essas informações fazem o medo aumentar. E temos a reação de Babette que logo se preocupa e deixa o medo dominar, e Jack que responde de forma passiva, sem saber sequer o que fazer. E quando o medo toma conta, enfrentamos um momento onde a morte surge não como pergunta, mas resposta.

Ruído Intermitente 

Chegando ao terceiro ato da história, ela nos oferece uma conclusão melancólica em relação ao tema. Uma fuga da pergunta, onde somente uma felicidade artificial pode ser a resposta ideal. Só que ao chegar no final, temos uma resposta otimista para algo que sempre é considerado pela maioria, pessimista.

Ele retrata de uma maneira cativante os dilemas de uma família que enfrenta a mudança dos tempos e deles como indivíduos. Não é uma história simples no sentido de ser fácil de consumir, mas é fluída o bastante.

Com uma fotografia que casa com a forma como é contado a história, e uma trilha muito bem feita pelo Danny Elfman, Ruído Branco nos oferece um ensaio sobre a morte, e como ela não se trata sobre o fim de algo, mas a resposta para o que faz a vida ter valor.