Deadpool é um caso peculiar que temos no cinema onde um personagem se encontrava perdido no início, e quase se perdeu no seu fim. Esse foi um projeto que ficou enterrado nos cofres da Fox até o “vazamento” de um breve curta do personagem. Isso chamou a atenção dos fãs e viabilizou o projeto tendo Ryan Reynolds como protagonista.
Então foi criado uma franquia de muito sucesso, garantindo uma sequência logo de cara. O problema surgiu quando a Disney comprou todo o estúdio Fox, e a partir disso ficava nebuloso o caminho que o anti-herói iria levar. Afinal de contas na época não havíamos ideia se a Disney permitiria um personagem +18 coexistir em seu universo cinematográfico. Então o terceiro filme entrou em um longo hiato.
Também houve uma questão que dificultou ainda mais o terceiro filme acontecer, a greve dos roteiristas. Durante esse período se tornou cada vez mais incerto as produções da Marvel, além das constantes mudanças de direção que o estúdio estava passando devido a repercussão negativa de certos projetos que estavam sendo lançados.
Foi então que anunciaram o retorno de Hugh Jackman ao papel de Wolverine no terceiro filme que se chamaria “Deadpool e Wolverine”. Com as gravações retornando tendo agora o diretor Shaw Levy no comando, esse projeto veria enfim a luz do dia. Contudo sequelas desse caminho de pedras estaria presente no resultado final.
Sobre o que é esse filme?
Temos aqui o final de uma trilogia correto? Logo temos que encerrar o arco atual do personagem. Só que também temos o retorno do Wolverine correto? Logo temos que explicar como ele retorna e seu papel no filme. Também é preciso explorar o multiverso correto? Afinal é preciso explicar como o personagem vai para o MCU e sua conexão com a AVT que controla as linhas do tempo. Só que esse filme também marca o fim do legado Fox correto? Então temos que tratar esse final de trilogia como um filme legado de tudo que a Fox fez.
E essas questões estão todas presentes no filme que tornam ele uma teia de narrativas tentando se conectar entre si. Contando com diversas participações especiais, houveram poucas das quais eu me impressionei. Não porque foram ruins, mas devido ao fato que o meu foco não estava ali.
Pela primeira vez eu pude de fato me conectar com o personagem Deadpool, que tem um arco que se encerra e se conecta ao Logan que vemos nesse filme. A carga emocional funciona e a comédia também, só que quando vemos a necessidade de fan service, parece que ele está ali somente para cumprir uma cota que a Marvel pretende cumprir com os fãs.
Pode até mesmo ser surpreendente ter uma vilã em um filme do Deadpool cheio de referências que funcione e tenha um carisma que impressiona. Cassandra Nova interpretada pela Emma Corrin é uma grata surpresa ao MCU, que já nos dá uma pitada dos futuros vilões dos X-Men que viremos. A forma como adaptaram os poderes dela das HQs é criativo e brutal, o que torna a classificação +18 ser coerente, acredite nisso.
Temos uma boa história, propósito. O que torna você um herói? Só que em meio a todo o caos do multiverso também temos uma outra pergunta: Porque?
Entender os seus defeitos não te torna melhor Kevin Feige
O Universo Cinematográfico da Marvel tem mais de 10 anos, e ao longo desse tempo se tornou perceptível os erros da suposta fórmula construída por Kevin Feige em companhia. E o que se torna comum de todo estúdio, gênero ou franquia em algum momento é satirizar esses erros e problemas.
Contudo apesar da sátira, não ir além dela e somente reafirmar tais problemas torna a piada de certa forma “infame”. Durante a narrativa do filme, somos levados o tempo todo a entender que a Marvel sabe o que o povo fala. Desde os problemas típicos de enredo, até as participações especiais que os fãs esperam.
Só que ao mesmo tempo, os problemas tais como ganchos sem sentido, explicações rasas para enredos e personagens sem propósito estão todas presentes no filme (e não como piada).
Vamos supor que alguém esquece de te entregar um livro que você emprestou, e ela diz que vai tentar entregar na sexta-feira mas provavelmente ela vai esquecer. Antes de se encontrar com a pessoa você pontua esse erro e diz para ele não se repetir, contudo ela vai e esquece de novo. Como ela resolve isso? Ela conta uma piada pra tentar te fazer esquecer do problema.
Esse filme traz consigo erros e defeitos, e ao mesmo tempo que você pensa “olha, ele é muito bom”, você também pensa “é isso?”.
Um filme que não vai além dele… E está tudo bem
Apesar de tudo ao sair do filme, eu me senti satisfeito. Me diverti, dei boas risadas e ainda por cima conseguir um balde de pipoca novo. Desde o trailer, até as propagandas sobre o filme fica muito claro a proposta que ele tem. Ser um “filme pipoca” do qual você irá se divertir, se distrair e não irá precisar pensar muito.
Então não espere grandes conexões com um universo maior, não espere muito menos um filme intenso e complexo. Se divirta com as cenas de ação criativas elaboradas pelo Shaw Levy, com o humor ácido do Deadpool e sua dinâmica com o Wolverine. Fique chocado com os poderes da Cassandra Nova e se surpreenda (ou não) com as participações especiais.
Deadpool finalmente chegou ao MCU e se despedindo da Fox que chegamos a conhecer. E a partir de agora? Bem, nos resta aproveitar as coisas novas que virão (e participações especiais sem fim do Ryan Reynolds).