Borderlands é a mais nova adaptação dos videogames para o cinema e traz consigo todos os problemas que veríamos facilmente em uma adaptação de 2010. Contudo, apesar das falhas, não devemos parar por aí. Temos que entender o que torna esse filme ruim. Só que temos que ir além desse questionamento: Ele é de fato ruim?
No filme acompanhamos Lilith (Cate Blanchet), uma caça recompensas que é encarregada de encontrar Tina, uma criança viciada em usar explosivos para destruir tudo em sua volta. Ela está no planeta de Pandora onde diversos caçadores estão em busca da “Arca”, uma tecnologia de uma civilização ancestral do universo que guarda muito poder. Roland (Kevin hart) está protegendo a garota ao lado do maluco que não sabe falar direito Krieg (Florian Munteanu). No meio disso também temos o robô ClapTrap (Jack Black) que é indestrutível e está ali para te tirar boas risadas (ou não).
O mundo de Borderlands pode ser considerado um retalho de outras histórias da ficção que possui o mesmo conceito. Desde Mad Max e a ideia de mundo pós apocalíptico, até elementos de Star Wars. Dessa forma se cria por si só um universo que a “originalidade” não é o seu foco principal.
Esse é até mesmo um dos elementos melhores utilizados no jogo. Tendo um dos seus derivados inclusive, inspiração em Dungeons & Dragons com foco na personagem Tina (Ariana Greenblatt). Levar isso para o cinema traz um desafio à parte porque a linguagem muda e as opções de levar essas referências também. O problema é que apesar de ter quase como uma cópia os elementos desse mundo na tela, por ser uma mídia diferente, acaba falhando em falar uma nova linguagem.
Uma adaptação fiel? Sim, mas isso não significa muito
Como eu disse anteriormente, o filme até que consegue levar a sua estética para a adaptação. O problema está justamente em criar uma versão plástica daquela realidade. Você não sente que é um mundo palpável, e não no sentido de ser realista, mas de entender sobre o que aquele mundo se trata.
No final das contas temos aqui a prova de que nem sempre é necessário ser fiel para contar uma boa história. De acordo com as notícias após o lançamento do filme, ele era para ser +18, o problema é que isso não faz diferença para contar uma história melhor. O apelo pela violência só tem o intuito estético nessa situação, e nos jogos ele serve como estrutura de jogabilidade e não narrativa.
Há um bom exemplo aqui nesse caso. Temos no filme o personagem Krieg, que é muito querido pelos fãs. No jogo ao controlar o personagem conseguimos ver os pensamentos dele e percebemos que em comparação a suas falas que parecem de um troglodita, mentalmente ele fala com um Duque do século 18. Esse contraste que faz o universo de Borderlands tão interessante.
As nuances entre o bizarro e sério, entre diferentes conceitos sendo juntados em somente uma narrativa. Tudo isso faz com que esse mundo seja extremamente criativo. O problema está que ao levar isso para os cinemas, você não traduz a linguagem e acaba criando uma narrativa maniqueísta de vencer o vilão e conquistar o prêmio final.
E o capitalismo intergaláctico permanece
Um dos conceitos do jogo é as diferentes corporações que estão em busca da Arca. Temos desde grupos mercenários anarquistas, até corporações capitalistas. E uma nuance interessante está nos diálogos entre esses grupos e a forma como eles interagem dentro desse mundo.
De um lado temos pessoas formais e corporativas tentando seguir regras e do outros criaturas que são irracionais, pessoas que só querem dinheiro e assim por diante. O problema de novo está no filme fazer algo maniqueísta, que não explora esses contrastes.
No final, assim como no título da crítica, o filme sempre aparenta ser um coito interrompido, onde sempre há uma boa ideia, mas que para no meio do caminho. Você ainda pode se divertir no filme, particularmente por conta da Cate Blanchett, mas de resto eu digo, jogue os jogos e divirta-se.