[vc_row][vc_column][vc_column_text]De acordo com o American Hermitage Dictionary, “Macartismo” significa “prática política de publicizar acusações de deslealdade ou subversão baseadas em poucas evidências”. O termo surgiu pela primeira há 70 anos, em uma charge publicada pelo jornal Washington Post, em 29 de março de 1950, onde aparecia um elefante – símbolo do partido republicano – se equilibrando numa pilha de baldes. No último balde lia-se “Macartismo” e o elefante dizia: “Você acha que devo permanecer nisso?”
A charge fez parte da enorme repercussão causada pelo discurso do senador americano Joseph McCarthy, do Estado de Winsconsin, durante um evento realizado na Virgínia Ocidental um mês antes, onde alegou ter uma lista com o nome de 205 comunistas infiltrados no governo americano. Em meio a um Estados Unidos mergulhado na guerra fria, a sua declaração caiu como uma bomba. A repercussão foi o que bastou para tornar o senador McCarthy o principal rosto de uma paranoica perseguição que se instaurou nos EUA após o final da Segunda guerra, ainda antes do próprio senador ser eleito, em 1950.
Quem foi Joseph McCarthy?
O McCarthy em si era pouco levado a sério no círculo político de Washington. O seu temperamento explosivo, e o hábito de acusar qualquer um que divergisse dele como partidário do comunismo, encheu o saco de muitos e serviu para deixá-lo isolado dos outros políticos, mas a fama tornou McCarthy uma figura querida da população, o que lhe garantia acesso aos comitês do Congresso destinados a investigação de possíveis espiões soviéticos. Porém, suas denúncias se mostravam infundadas quando investigadas e seus métodos eram bem questionáveis, pois ele simplesmente saía acusando todo mundo sem ter uma prova concreta, o que causou o desagrado de muita gente importante, incluindo o presidente Harry Truman. Sua queda ocorre em 1954, quando suas audiências passaram a serem transmitidas pela TV. Ali o público viu em primeira mão a truculência de McCarthy. Sua atitude cada vez gerou mais indignação, mas a gota d’água veio mesmo quando ele chamou o Brigadeiro-General Ralph Zwicker, militar condecorado da Normandia e considerado herói de guerra, de “uma desgraça para o uniforme que usava”. Como sabemos, insultar soldados nos EUA (ainda mais sem qualquer prova) não pega muito bem e todos, políticos e população, concordaram que McCarthy merecia o ostracismo.
Uma conjuntura que abriu espaço para a paranóia
A verdade é que McCarthy só ganhou atenção porque o seu comportamento histérico era um retrato do período. No final da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética representava uma ameaça real aos Estados Unidos. Stalin exercia controle sobre todo o leste europeu, os russos testaram sua primeira bomba nuclear em 1949, Mao Zedong e seu exército comunista chegavam ao poder na China, a Coreia estava numa tensão crescente e mergulharia numa guerra civil em 1950, com participação direta dos EUA. O conflito duraria 3 anos e resultaria numa Coreia separada ao meio, uma divisão que perdura até hoje. Isso sem falar dos casos de espionagem envolvendo Klaus Fuchs e o casal Julius e Ethel Rosenberg, acusados de passarem informações ultrassecretas aos russos.
Em meio a tudo isso, o governo passou a investigar mais perto atuais e antigos associados ao partido comunista, bem como seus simpatizantes e até mesmo amigos dessas pessoas, que pouco ou nada tinham a ver com as afiliações políticas dos acusados. É lógico que em meio a todo esse clima de histeria, muitas pessoas foram acusadas sem provas e, por terem o nome associado ao partido socialista, não conseguiam mais emprego nos EUA. Alguns precisaram até mesmo mudar de país, como aconteceu com vários atores, produtores, diretores, roteiristas e outras figuras de Hollywood.
A Lista Negra de Hollywood
Foi uma lista de trabalhadores de diversas mídias (cinema, TV, música, rádio, imprensa e até advogados) inelegíveis para emprego por causa de supostos laços comunistas ou subversivos, gerados pelos estúdios de Hollywood no final dos anos 40 e durante os anos 50. No furor anticomunista da América pós-Segunda Guerra Mundial, muitos “cruzados” – tanto no governo como no setor privado – visaram a mídia como um local de infiltração subversiva. A lista negra foi implementada pelos estúdios de Hollywood para promover suas credenciais patrióticas diante dos ataques públicos e serviu para proteger a indústria cinematográfica dos danos econômicos que resultariam de uma associação de seu produto a subversivos. Embora muitas das entradas na lista negra fossem resultado de rumores, a sugestão de suspeita era o que bastava para por fim a uma carreira.
As acusações do Congresso de influência comunista na indústria cinematográfica começaram em 1941, quando os senadores Burton Wheeler e Gerald Nye lideraram uma investigação do papel de Hollywood na promoção da propaganda soviética. Wendell Willkie, o advogado que defendeu os estúdios, revelou a fusão dos senadores do judaísmo com o comunismo, classificando os senadores como anti-semitas em vez de patriotas. Essas audiências anteciparam as investigações muito mais infames e influentes que ocorreriam após a Segunda Guerra Mundial.
Em 1947, o Comitê de Atividades Não-Americanas do Congresso (HUAC) iniciou sua investigação sobre Hollywood. Dos indivíduos intimados pelo comitê naquele ano, 10 se recusaram a testemunhar. Tornaram-se conhecidos como os Dez de Hollywood e foram indiciados por desrespeito ao Congresso e sentenciados a uma breve prisão. Embora os líderes dos estúdios de cinema tenham apoiado inicialmente o “Hollywood Ten”, eles logo os denunciaram, e o grupo logo foi suspenso sem remuneração. Logo depois, foi anunciado que nenhum subversivo seria empregado pelos estúdios. Assim nascia a lista negra de Hollywood.
O HUAC continuou a intimar membros da indústria cinematográfica na década de 1950, fazendo perguntas não apenas sobre suas próprias atividades, mas também sobre colegas de trabalho. Um terço dos intimados cooperou com o comitê, o que muitas vezes significava acusar amigos e colegas de trabalho, e aqueles que não cooperaram arriscaram ir para a cadeia e serem incluídos na lista negra.
Além do HUAC, grupos privados monitoravam as indústrias de entretenimento e publicavam artigos e panfletos que identificavam indivíduos subversivos. Talvez o mais poderoso desses grupos tenha sido a Legião Americana, que não apenas disseminou informações sobre associações comunistas de trabalhadores da mídia, mas também incentivou seus 2,8 milhões de membros a boicotarem filmes feitos por pessoas que não haviam cooperado com o HUAC.
Quando a cruzada anticomunista diminuiu no início dos anos 1960, a lista negra de Hollywood foi lentamente caindo em desuso. A própria Hollywood relembrou seus dias de lista negra em filmes como Culpado por Suspeita (1991) e Testa-de-ferro Por Acaso (1976). Esses filmes reforçam a noção popular da lista negra como uma mancha na história do entretenimento americano, uma época em que a indústria cinematográfica cedeu à histeria tanto do HUAC quanto de organizações anticomunistas privadas. Como parte da ampla variedade de atividades anticomunistas do período pós-guerra, a lista negra de Hollywood levou trabalhadores da mídia para a teia de suspeita e medo que caracterizavam a época.
Histórias do período da lista negra
Edward Dmytryk

Edward Dmytryk, diretor de Rancor, um filme poderoso sobre antissemitismo que lhe rendeu uma indicação a melhor direção em 1948. Teria esse filme propaganda comunista?
Em 1948, o diretor Edward Dmytryk, ao lado de outros nove colegas de Hollywood, se recusou a testemunhar no Congresso sobre atividades suspeitas de seus colegas. Dois anos depois foi condenado a cumprir 12 meses na prisão, além de ser banido de Hollywood.
Depois de alguns meses preso, Dmytryk decidiu abrir o bico e um dos nomes que entregou às autoridades foi o de Adrian Scott, outro membro do “Os Dez de Hollywood” e produtor de quatro filmes seus – Até a Vista, Querida; Acossado; So Well Remembered; e Rancor. Dmytryk disse que foi forçado por Scott a por propagandas comunistas em seus filmes. Era sabido que Scott foi membro do partido comunista, mas é incerto se ele obrigou Dymtryk a fazer propaganda ideológica para os soviéticos. Fato mesmo é que Adrian Scott foi banido e passou a trabalhar na TV, usando pseudônimos. O banimento acabou em 1963, mas ele nunca mais conseguiu retomar a carreira de produtor. Já Dmytryk teve a prisão revogada e voltou a trabalhar em Hollywood.
Lena Horne
Apesar de seu talento, beleza e fama em Hollywood, a cantora e atriz Lena Horne não era estranha ao racismo e à discriminação. Sua experiência a inspirou a se tornar politicamente ativa, e muitas das organizações que ela participou incluíam membros que eram esquerdistas radicais e comunistas.
O FBI tomou conhecimento e a colocou na lista negra de Hollywood, forçando-a a passar vários anos em turnê como cantora de boate para ganhar a vida. Determinada a retomar sua vida e carreira, Horne negou publicamente que era afiliada ao Partido Comunista e escreveu uma série de cartas a pessoas importantes de Hollywood denunciando sua ideologia. Eventualmente, ela conseguiu voltar ao cinema e à televisão e também produziu discos de sucesso. Ainda assim, seu gosto pela política não esmoreceu. Quando o Movimento pelos Direitos Civis ganhou força na década de 1960, Horne se tornou uma proeminente defensora da causa.
Vários artistas e ativistas do movimento pelos direitos civis foram considerados comunistas apenas por criticarem publicamente as leis racistas da época. Além de Horne, também foram considerados comunistas o dramaturgo e poeta Langston Hughes e a atriz, cantora e pianista Hazel Scott.
Charles Chaplin
![Limelight | film by Chaplin [1952] | Britannica](https://cdn.britannica.com/91/175591-050-F303973A/Charlie-Chaplin-Claire-Bloom-Limelight.jpg)
Chaplin em “Luzes da Ribalta”, de 1952.
Hoover até colaborou com o MI5 para vigiar Chaplin, mas no final, a agência de espionagem britânica concluiu que não havia risco à segurança e, em vez disso, acreditava que ele era apenas um progressista.
Ainda assim, Chaplin foi banido dos EUA. Em vez de lutar para retornar ao país, Chaplin decidiu morar na Suíça e divulgou uma declaração sobre sua experiência:
“… Desde o final da última guerra mundial, tenho sido objeto de mentiras e propaganda por poderosos grupos reacionários que, por sua influência e com ajuda da imprensa marrom da América, criaram uma atmosfera doentia na qual indivíduos de mente liberal podem ser enquadrados e perseguidos. Nessas condições, acho praticamente impossível continuar meu trabalho cinematográfico e, portanto, desisti de minha residência nos Estados Unidos“.
Orson Welles

Orson Welles, diretor e protagonista de Cidadão Kane, nos anos 1950.
Como diretor, ator e escritor, Orson Welles estava no auge de sua carreira profissional quando o governo dos EUA começou a investigá-lo como um possível comunista enrustido. Seu filme Cidadão Kane, de 1941, cujo personagem principal começa como um jovem idealista e se transforma em um capitalista manipulador sedento de poder, foi considerado evidência pelo FBI de que o filme não passava de uma campanha de difamação orquestrada pelo Partido Comunista. Ele era considerado uma ameaça tão grande que o governo o colocou em uma lista de pessoas que deveriam ser detidas em caso de emergência nacional.
Sabendo que estava sendo investigado pelo FBI, Welles deixou os Estados Unidos em 1948 e se mudou para a Europa, onde viveu pelos oito anos seguintes. Uma década depois, ele encontrou sua maneira de expressar seu desgosto pela Caça às Bruxas através do filme noir A Marca da Maldade, onde retratava policiais corruptos que optaram por abusar de seu poder, perseguindo inocentes em vez de proteger seus concidadãos.
Dorothy Comingore, cercada de inimigos poderosos
A história de Dorothy Comingore é digna de um post por si só. A atriz passou anos trabalhando no anonimato e quando finalmente alcançou a fama ao interpretar Susan Alexander Kane, segunda esposa do Cidadão Kane, foi vítima de ampla perseguição da imprensa, tudo porque o magnata das comunicações William Rudolph Hearst, que inspirou o longa, odiou a personagem dela. Para quem não sabe, o filme foi inspirado na vida do ricaço e Susan Alexander Kane era uma retratação da amante favorita de Hearst, a atriz Marion Davis. Para se vingar, o magnata usou os seus jornais para denunciar Comingore como membro do partido comunista, o que não era verdade.

Dorothy e Orson Welles em Cidadão Kane, 1941.
No entanto, a atriz possuía um lado ativista, que a pôs na mira do FBI. Ela fez vários protestos contra o apartheid racial que vigorava nos EUA daquela época, como quando trabalhou junto com os músicos negros Lead Belly e Paul Robenson para forçar clubes noturnos a suspender a política idiota de “só para brancos”. Ela também fez campanha para o ator Albert Dekker quando este se candidatou a deputado pela Califórnia pelo partido democrata. Ele ganhou e se tornou um crítico ferrenho de Joseph McMcarthy e de seus métodos. Quando seu mandato acabou, ele próprio foi para a lista negra e trocou Hollywood pela Broadway.
A carreira de Dorothy chegou ao fim em 1952, quando foi intimada a depor na HUAC e se recusou a colaborar. Para piorar, ela foi presa acusada de prostituição, algo que muitos acreditam ter sido parte de vingança, por ela ter zombado da polícia na HUAC. Após toda a perseguição, ela se entregou de vez ao alcoolismo, o que serviu de munição para que seu ex-marido, o roteirista Richard Collins, ficasse com a custódia dos dois filhos do casal. Ela morreu aos 58 anos, vítima de uma doença no pulmão e debilitada por conta de um acidente doméstico ocorrido anos antes. A história de Dorothy e de Richard serviu de inspiração para o filme Culpado por Suspeita, de 1991.
Sindicato de Ladrões
O célebre diretor Elia Kazan já era um dos grandes quando foi chamado ao HUAC para testemunhar sobre seu conhecimento de atividades subversivas na indústria. Ele entregou oito nomes de antigos membros do partido comunista americano às autoridades e sofreu duras críticas pela atitude, incluindo o dramaturgo e ex-amigo Arthur Miller. Isso foi em 1952.
Miller havia escrito para a Columbia Pictures o roteiro de um longa intitulado The Hook e Kazan havia concordado em dirigir o projeto. Harry Cohn, o dono do estúdio, estava preocupado com o fato dos vilões serem policiais corruptos e que isto não iria ser bem aceito entre o público. Ele propôs a Miller que reescrevesse o roteiro, trocando os policiais corruptos por comunistas, como uma forma de tornar o longa “mais americano”, mas Miller se recusou e tornou a dizer “não” novamente quando Kazan pediu o mesmo. A relação entre os dois já havia se rompido por conta do testemunho de Kazan a HUAC.
Miller saiu do projeto e foi substituído por Budd Schulberg. Ele e Kazan transformaram o longa numa resposta às críticas sofridas pelo diretor, defendendo os testemunhos dados perante o Congresso americano. O filme foi lançado em 1954, intitulado On The Waterfront, ou Sindicato de Ladrões, como ficou no título brasileiro. Foi um sucesso de bilheteria e de crítica, vencendo 8 Oscars, incluindo o de melhor filme.
Artur Miller, o inventor do termo Caça às Bruxas
Depois da briga com Kazan, o dramaturgo Arthur Miller foi até Salem em Massachussets para estudar como ocorreu a caça às bruxas no século XVII. O resultado da pesquisa foi a peça As Bruxas de Salem (The Crucible, no original) onde o autor buscou retratar o cenário que levou a caça às bruxas. Apesar da crítica aberta ao macartismo, a obra ganhou um Emmy de melhor peça em 1953 e foi se tornando um clássico ao longo dos anos. Foi essa peça, aliás, que baseou o longa de 1996 de mesmo nome, com Daniel Day-Lewis (genro de Miller) e Winona Rider nos papeis principais. Miller adaptou a própria peça e foi indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado.
Lançada em meio a histeria do macartismo, que também começou a ser chamado de “caça às bruxas” por conta da peça, era óbvio que Miller seria chamado a testemunhar, o que aconteceu em 1956. Ele foi até o Congresso acompanhado da esposa, uma tal de Marilyn Monroe, que confessou a amigos íntimos o medo de que o marido tivesse a carreira prejudicada.
Miller se recusou a testemunhar porque “não queria trazer problemas” a ninguém citado por ele. Depois do fato, ele naturalmente foi para a lista negra e respondeu por crime de desobediência, sendo condenado a um ano de prisão e multa. A condenação foi revogada em 1958, quando um juiz considerou que Miller havia sido mal interpretado pela HUAC em seu testemunho. No começo dos anos 1960, ele saiu da lista negra e fez as pazes com Kazan.
Lee J. Cobb e Adolphe Menjou, dois lados diferentes das testemunhas de Hollywood

Lee J. Cobb. O autor salvou a carreira e ainda conseguiu ser indicado ao Oscar pouco tempo depois.
Mesmo sendo acusado de ser comunista, Lee J. Cobb se recusou a comparecer ao Congresso para testemunhar por dois anos. Porém, ao ter a carreira ameaçada, ele mudou de ideia e além de reconhecer que já havia sido membro do partido, denunciou outras 20 pessoas que também tiveram ligações com o partido comunista no passado. Ele salvou a carreira e seria indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante 2 anos depois. Nos anos 1970, ele foi indagado sobre esse período e explicou por que decidiu dar os nomes dos colegas às autoridades:
“Quando todo o aparato do governo dos Estados Unidos se direciona a um indivíduo pode ser aterrorizante. A lista negra é apenas o começo – ser privado de trabalho. Seu passaporte é confiscado, o que é secundário. Mas não ser capaz de se mover sem ser seguido é outra coisa. Depois de um certo ponto, as ameaças implícitas quanto explícitas crescem tanto que as pessoas sucumbem. Minha esposa testemunhou e foi colocada à força numa instituição. O HUAC fez um acordo comigo. Eu estava praticamente exausto. Não tinha dinheiro. Não podia pegar emprestado. Eu tinha as despesas do cuidado com as crianças. Por que estou sujeitando meus entes queridos a isso? Se isso valesse a minha vida, eu não teria medo de ser idealista. Mas decidi que não valia a pena morrer por isso, e se esse gesto significa a minha liberdade, então eu o faço. Eu precisava trabalhar de novo“.

Adolphe Menjou, mais conhecido por seu papel em Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick.
Já Adolphe Menjou era um conservador ferrenho e trabalhava ativamente nas campanhas de candidatos republicanos, admirava o chefe do FBI, o temido J. Edgar Hoover. Era tão paranoico quanto o próprio senador McCarthy e não tinha problema nenhum em colaborar com o Congresso. Certa vez el declarou: “Sou caçador de bruxas se as bruxas são comunistas. Sou um isca vermelha. Gostaria de vê-los todos de volta à Rússia“.
Nos bastidores do longa Sua Esposa e o Mundo, Menjou vivia brigando com a atriz Katharine Hepburn, que criticava as audiências do HUAC. A tensão chegou a tal ponto, que atrapalhou as filmagens. Depois que elas acabaram, Menjou dizia sobre Hepburn: “Cutuque um justiceiro, como a Hepburn, e eles vão gritar ‘Pravda!’“. Já Hepburn rebateu e se referiu ao ator como um “um tipo caricato e engraçado de super patriota, que investiu seus dólares americanos em títulos canadenses e que tinha um tesão em comunistas“.
Bartley Crum, o advogado das celebridades que perdeu tudo

Bartley com Rita Hayworth, quando a atriz se divorciou do príncipe Ali Kahn.
Ele era amigo do milionário William Rudolph Hearst e frequentava os círculos íntimos da Casa Branca e tinha vários clientes importantes tanto fora quanto dentro da indústria do cinema, mas perdeu todo o prestígio que tinha quando aceitou defender “Os Dez de Hollywood”, em 1950. Passou a ser tratado como ameaça pelo FBI, que gravava todas as suas ligações, vigiava sua correspondência e o colocava sob vigilância contínua. Como resultado, ele perdeu a maioria de seus clientes e, incapaz de lidar com o estresse do assédio incessante, cometeu suicídio em 1959.
Dalton Trumbo, salvo pelos amigos importantes

Trumbo na sua banheira
A lista negra chegou ao seu auge em meados da década de 1950, entre 52 e 56, mais precisamente, afastando não só nomes de Hollywood, mas também profissionais do rádio, músicos, jornalistas e advogados. Vários filmes e outras obras deixaram de serem feitas por serem considerados propaganda ideológica socialista, mas havia gente audaciosa para tentar furar esse bloqueio e produzir filmes com uma clara crítica ao macartismo em Hollywood. Ao mesmo tempo, alguns desses profissionais rejeitados por Hollywood tornaram a encontrar espaço na TV, ou continuaram a trabalhar em filmes B ou com ajuda de amigos que assumiam o crédito do trabalho, mas o gesto mais marcante e que contribuiu para dar um golpe mortal na lista negra foi quando o ator Kirk Douglas exigiu que Dalton Trumbo fosse creditado pelo longa Spartacus. Isso inclusive causou discórdia entre ele e o diretor Stanley Kubrick, que estava com medo do filme ser prejudicado e queria ele próprio receber os créditos como roteirista. A relação entre Kirk e Kubrick nunca mais foi a mesma.

Kirk Douglas em Spartacus, clássico obrigatório.
Douglas demonstrou imensa coragem ao enfrentar Hollywood e o público, ainda mais quando ele próprio admitiu, em uma entrevista em 2015, que estava com muito medo de que aquilo pusesse um fim à sua carreira.
Trumbo era um dos roteiristas mais respeitados de Hollywood. Com a lista negra, passou 10 anos sem receber créditos em seu nome e só continuou a trabalhar porque amigos na indústria o ajudaram a se esconder por meio de pseudônimos.
O sucesso de Spartacus foi um duro golpe na lista negra, em 1960. O longa recebeu 6 indicações ao Oscar e ganhou 4 estatuetas. Naquele mesmo ano, o diretor Otto Preminger também exigiu que Trumbo fosse devidamente creditado por Exodus, outro filme que foi um sucesso entre o público. Também foi indicado a 3 categorias no Oscar, ganhando uma estatueta. A boa recepção de dois filmes escritos por um pária da indústria cinematográfica no mesmo ano deixou claro que os espectadores não estavam mais dominados pelo sentimento de histeria que vigorou durante boa parte daquela década e marcou o início de um novo período em Hollywood.
Outras curiosidades:
- Marsha Hunt e Walter Bernstein são os únicos membros da lista negra que ainda estão vivos. Ela tem 102 anos e ele, 100. A atriz disse em matéria publicada em fevereiro desse ano que não estava nem aí se fulano ou beltrano era comunista, e achava que o governo deveria agir da mesma forma, por isso se opôs a HUAC publicamente. A atriz considera que o fato de não ser tão famosa á época a protegeu de ter tido a carreira ainda mais prejudicada. Já Bernstein teve o nome citado em publicações de grupos anticomunistas por causa do ativismo de esquerda, mas continuou seu trabalho como roteirista na televisão, usando pseudônimos ou nomes de conhecidos que não estavam na lista negra.
- Um roteirista chamado Louis Pollock descobriu que teve o nome colocado na lista negra porque autoridades o confundiram com Louis Pollack, um vendedor de roupas que se recusou a cooperar com a HUAC.
- O ator Orson Bean foi parar na lista negra porque namorou uma militante comunista. Em 2001, ele comentou: “Basicamente, eu fui posto na lista negra porque eu namorei uma comunista fofa“, ele explicou. “Parei de trabalhar na TV por um ano“. Bean morreu esse ano, vítima de atropelamento.
Já viram essa foto do Kirk Douglas com o Brian Cranston? O ator foi indicado ao Oscar por sua interpretação de Dalton Trumbo, no filme Trumbo, de 2015.
Fontes:
https://history.howstuffworks.com/historical-figures/mccarthyism.htm#pt3
https://www.britannica.com/topic/Hollywood-blacklist
https://www.biography.com/news/artists-blacklisted-hollywood-red-scare
https://www.brandeis.edu/now/2018/june/blacklist-qa-tom-doherty.html
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