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Crítica: Brinquedo Assassino | A Tecnologia Assusta Mais que o Boneco em Remake de Chucky

No fim dos anos 80 os fãs do terror puderam apreciar um marco no gênero, Brinquedo Assassino, um filme de terror sobre um boneco que ganhava vida após um assassino morrer e assumir seu corpo, matando todos que encontra em seu caminho. Na época o longa assustou muitas crianças (eu fui uma delas, não na época porque ainda não era nascido, mas quando vi pela primeira vez ainda criança), e adultos, e marcou tanto que ganhou várias continuações, algumas até pouco tempo, onde foi lançado O Culto de Chucky (2017), último filme da franquia original até então. Mas agora, 31 anos depois do primeiro filme da franquia original, é finalmente lançado o esperado remake do boneco assassino.

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O novo Brinquedo Assassino traz no elenco Aubrey Plaza (Os Caça-Noivas) no papel de Karen, uma jovem mãe solteira que enfrentando problemas financeiros, e uma recém mudança, decide presentear seu filho Andy, agora interpretado pelo jovem talentoso Gabriel Bateman (Quando as Luzes se Apagam), com o boneco mais moderno e tecnológico do mercado, Buddi. Mas o que Karen não sabe é que Buddi (chamado de Chucky por ele próprio ao entender errado o nome dado por Andy) é o único boneco que foi modificado em sua fabricação, resultando em um produto sem limites, que poderá aprender tudo com a tecnologia presente, assim como um bebê ou um filhote de cão. De início o roteiro já ousa por mudar a forma como Chucky vira um assassino, mas é depois da apresentação inicial que o longa de Lars Klevberg se distancia do original, e ousa por focar na atualidade, com o excesso de tecnologia e aparelhos modernos que se conectam á tudo, graças a era da internet. E ele usa isso á seu favor, criando um roteiro original e interessante.

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É uma jogada ousada, arriscada e que acima de tudo, poderia ter dado muito errado. Mas de alguma forma acabou dando certo, e resultando em um remake no mínimo atual e interessante. A inteligência tecnológica de Chucky aqui é abordada de forma interativa com o público, como lições erradas podem ser aprendidas através da TV, de conversas alheias ou de outras coisas relacionadas a internet, fazendo refletir e levantando até questões importantes á serem abordadas aqui na vida real. Uma criança exposta á certos conteúdos violentos, ou á certas conversas adultas, pode crescer e ter uma visão distorcida sobre violência, abuso ou outras situações cotidianas perigosas. A cena em que Andy e os amigos se divertem assistindo á alguma continuação tosca de O Massacre da Serra Elétrica, rindo de várias cenas extremamente violentas expostas em tela, já é uma crítica e tanto sobre a distorção de valores na infância, faz o espectador atento pensar sobre como algo violento e grotesco poderia ser engraçado para crianças ou adolescentes. Há também outras questões importantes levantadas, como o abuso de poder e relações tóxicas, como a amizade entre Chucky e Andy, que a princípio parece ser algo bonito e inocente, mas que com o decorrer do tempo se torna abusiva, violenta e tóxica, com Chucky declarando diversas vezes que Andy pode ser apenas seu. Em um filme de terror é uma questão bacana a ser abordada, os relacionamentos abusivos, e seus fins trágicos, devido á pessoas desestruturadas emocionalmente que não aceitam um fim. E aqui aborda o início, de como alguém pode crescer mentalmente instável, se tornar uma pessoa abusiva, e o fim, de como age dentro de um relacionamento. Tudo isso dentro de uma história sobre um brinquedo assassino. Interessante, não?! Também acho interessante a visão da mãe mais jovem e inconsequente, aqui vivida por Aubrey Plaza bem em seu papel, não sendo como a do original, carinhosa trabalhando apenas para criar o filho. A Karen é um tanto inconsequente com Andy, que aqui é um pré adolescente e não uma criança como no original, namorando um cara que não gosta de seu filho e se importando pouco com o que o garoto está passando, apesar de ser visível que o ama. As críticas sociais abordadas neste remake, acabam por torná-lo mais importante que o filme original principalmente na era em que vivemos, porém não se enganem, pois isso não o torna melhor.

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Sobre a parte técnica do longa, a direção é eficiente, e a produção é bem caprichada usando todos os recursos que tem á seu favor. As atuações são boas, com destaque para o garoto protagonista e para a voz de Chucky dada por Mark Hamill. A fotografia, locações e takes são bem parecidos com os do original, principalmente em cenas focadas no prédio em que mãe e filho vivem, filmadas do lado de fora. Apesar da tecnologia ser o foco principal, abordando como a internet pode ser útil mas também o quanto pode ser prejudicial, há várias referência ali que podem lembrar ao filme original. Em contrapartida o visual do boneco me incomodou um tanto, já que ele é feio, mas não de um jeito assustador que poderia cair bem dentro da proposta, mas de um jeito bizarramente engraçado. Por falar em engraçado a parte cômica é bem inserida, arrancando algumas boas risadas em momentos oportunos, que fazem sentido dentro da obra e acabam por deixar o filme divertido. Mas já que ele arriscou tanto nem tudo poderia dar certo, e este remake tem um grande problema que é deixar Chucky menos assustador e ameaçador do que deveria. Os trejeitos do boneco parecem menos tecnológicos que os do filme original, parecendo ter uma qualidade inferior, sendo que agora temos recursos muito melhores para fazer o boneco parecer mais real e menos artificial, mas infelizmente o que acontece é que Chucky parece muito mais artificial, principalmente quando usa objetos como facas. E isso por sua vez o deixa menos ameaçador, fazendo com que seus ataques não sejam brutais como os do filme clássico. Olhando para este boneco parece impossível que ele seja tão perigoso ou forte a ponto de conseguir matar alguém, ao passo que o antigo mesmo que pequeno, parecia realmente forte e assustador. Aqui como eu já disse, o uso (ou mal uso) da tecnologia é mais ameaçador e assustador do que o brinquedo assassino do título, Chucky só é violento ou assassino devido á sua tecnologia, o que faz com que isso seja o verdadeiro vilão do longa e não o boneco em si. Mas apesar dos pesares, é um filme inteligente e ousado, que pelo menos pra mim deu certo e me divertiu bastante na poltrona do cinema. Com certeza não será uma perda de tempo assistir esta releitura interessante da história de Andy e Chucky.