Desde o lançamento de seu primeiro filme em 2008 fomos surpreendidos por sua diversão, qualidade e sua nova forma de contar histórias através de um universo totalmente conectado, desde então esse universo cinematográfico nos apresentou diferentes mundos, armas, ameaças e personagens muito divertidos que cativam o público a acompanha-los por suas sequências, suas aparições em outros filmes, ou até em cenas pós-créditos, com todo esse acervo de personagens já adorados pela cultura pop já está mais do que na hora de percebermos que não há evolução nos personagens do MCU (ou pelo menos em boa parte deles).
Sem sombra de dúvidas a primeira vez que se escuta “os personagens da Marvel não possuem evolução” pode ser um choque, podendo até mesmo gerar muitas revoltas e muitos rates, mas se realmente quiser entender isso será preciso se acalmar e ler, argumentos como “mas Thor começou magro, depois cortou o cabelo e logo depois apareceu gordo” ou “o Homem de Ferro se sacrificou no final de Ultimato, isso é uma evolução!” são frequentemente vistos nas redes sociais, porém com uma boa observação é claramente visível que esses não são bons exemplos de evolução, para que o texto possa prosseguir o foco será em 4 personagens muito importantes (provavelmente os mais importantes) do MCU, Homem de Ferro, Thor, Capitão América e Homem-Aranha.
Podemos dizer que o final de Vingadores Ultimato aonde vemos um fim para o Homem de Ferro foi um dos momentos mais emocionantes dos últimos tempos, aonde muitos choraram nos cinemas com o sacrifício do personagem, mas ao percorremos a história de Tony Stark, o personagem mais importante do MCU, vemos que isso já era esperado, não devido a uma previsão astral, mas sim porque o personagem já repetiu o ato do sacrifício 4 vezes no cinema, seja em seu primeiro filme, a onde ele pede para Pepper para ligar o reator enquanto ele segura o vilão, ou em Vingadores aonde ele joga a bomba nas naves alienígenas, ou em A Era de Ultron junto com Thor quase morrendo para destruir a cidade voadora, até finalmente chegarmos ao seu sacrifício final em Ultimato, não só uma reutilização dramática recorrente mas também nos mostra que o objetivo do sacrifício que supostamente era pra transformar Tony Stark em alguém mais humilde ou se quer em alguém diferente, foi simplesmente em vão até a quarta vez, nos mostrando que todas as subtramas como as crises de ansiedade em Homem de Ferro 3, sua briga com o Capitão América entre outras não trouxeram nenhuma mudança significativa para o personagem desde as do primeiro filme.
Talvez agora analisando os arcos mais confusos e mal escritos do MCU, vamos falar primeiro do Deus do Trovão, em seu primeiro filme Thor tem uma clássica jornada do herói, cujo sua ambição de se tornar rei e sua arrogância fazem com que Odin o envie para a Terra para aprender a ser humilde e digno, porém a confusão se inicia em Thor: mundo Sombrio, filme que estabelece que Thor negou seu direito ao trono, pois preferiria ser um bom homem do que um bom Rei, mas logo temos Ragnarok, que devido aos ocorridos e com o falho governo de Loki ele precisa liderar seu povo se tonando rei, não só bastava outra mudança logo temos Ultimato, aonde ele novamente renega seu dever, mostrando que o arco de Thor está mais pra uma novela mexicana do que algo digno do Deus do trovão. O cabeça de teia ao chegar nas mãos de Kevin Feige claramente também sofreu com arcos mal escritos e nada pensados, em De Volta ao Lar, vemos Peter com o desejo e ambição de se tornar um vingador, entrando até mesmo em conflito com Tony, porém o que aprendemos com esse filme? Que se batermos no pai malvado da namorada nós conseguimos aquilo que mais desejávamos mas aí percebemos que não queremos mais, só para em Guerra Infinita nos tornarmos um vingador mesmo tendo dito que não queríamos antes? Sim, isso não foi bem pensado.
Agora finalmente chegou a vez do primeiro vingador, que talvez tenha o arco menos problemático, mas será necessário falar de um dos filmes considerados por muitos o melhor filme da Marvel, O Soldado Invernal é um filme que mostraria pela primeira vez Steve Rogers lutando contra o governo americano, trazendo um embate diferente para o Capitão América, porém ao assistirmos descobrimos que se trata dos mesmos vilões do primeiro filme com uma roupagem diferente, desperdiçando uma história muito interessante e que poderia ser algo a mais que todos os filmes do MCU, mas talvez essa seja uma das maiores diferenças entre a Marvel dos cinemas e a Marvel dos quadrinhos e tudo que essa discussão acarreta, é claro que nos quadrinhos os personagens passam por diferentes fases mas sempre retornam a um estágio de normalidade aonde essas mudanças nem mesmo são citadas, mas diferente dos filmes que sempre precisam contar com grandes eventos os quadrinhos e suas fases se estendem por um ou mais anos, anos aonde podemos acompanhar uma visão diferente do personagem em vários tipos de histórias, contadas por vários autores diferentes, com universos isolados e próprios de cada personagem que possibilitam com que o leitor possa escolher o herói ou heróis que vai acompanhar, sem se preocupar com aqueles que ele menos gosta, podendo também experimentar diferentes estilos de narrativa e estilos artísticos, coisa que o MCU não oferece e dificilmente vai oferecer.
Mesmo com toda essa diferença entre o cinema e os quadrinhos, podemos ver que o MCU acaba sendo uma versão mais pasteurizada do que se trata ser um herói, mas justamente, por causa dos arcos enrolados e estranhos, podemos ver que o MCU está mais preocupado em elaborar suas pequenas histórias do que realmente falar de heroísmo, com a falta de foco e uma falta de aprendizado, vemos que os personagens do MCU estão se tornando cada vez mais egoístas e cada vez menos heróis, afinal não podemos ser injustos, a fase 1 da Marvel trouxe arcos bem construídos e curvas de aprendizagens interessantes, mas todas essas conquistas acabaram sendo engolidas pelo que o MCU se tornou.
O Universo Cinematográfico da Marvel apesar de sua qualidade poderia aprender com alguns outros filmes, como os dois primeiros filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi, cujo o primeiro filme se trata de que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades”, mostrando exatamente tudo que essa frase representa e trazendo vários aprendizados para Peter, o segundo explora justamente as consequências desses responsabilidades ensinando lições para Peter fazendo-o finalmente entende o significado de ser um herói, filmes como Aranhoverso, Aquaman, e Mulher Maravilha também trazem essa jornada, sem precisar de um recorrente “vai e volta” que vemos no MCU, sendo assim esperamos que os próximos filmes de heróis possuam uma evolução coerente, com aprendizagens que tornem os heróis das histórias em quadrinhos, heróis no cinema também.