Nanananananana, Batman!
Se você não conhece essa musiquinha, sinto lhe informar que a sua vida está um pouco incompleta…
Inaugurando uma nova série de artigos no site, decidi começar justo com uma história dele: o justiceiro sombrio, o vigilante mascarado, o riquinho-eternamente-traumatizado, ele mesmo, o ̶A̶r̶q̶u̶e̶i̶r̶o̶ ̶V̶e̶r̶d̶e̶ Batman!
O propósito desses artigos será apresentar quadrinhos que desconhecidos no mercado brasileiro, que nunca foram publicados, ou nunca chamaram a devida atenção mesmo.
A edição gringa de Batman: The Black Mirror – ou Espelho Negro, em tradução livre-, compila as edições 871 a 881 da Detective Comics em 304 páginas. Surpreendentemente, essa HQ sequer foi lançada no Brasil. E olha que estamos falando do Batman, hein? Ah, e a edição é em capa cartão de extrema qualidade gráfica, então, se você é um daqueles sommeliers de lombada que tem NOJO de qualquer gibi que não seja capa dura, passe longe!
O autor desse quadrinho desagrada muitos: Scott Snyder. Sim, ele. O criador da Corte das Corujas, do BatGordon (ô coisa ridícula), que até hoje causa brigas nas melhores famílias brasileiras e não brasileiras. Os desenhos são de Mark Simpson, ou simplesmente, Jock, que dá uma aula de como adequar uma trama soturna e detetivesca (ah, vá!) aos desenhos, e Francesco Fracavilla, que não decepciona.
Na trama, Dick Grayson, ainda vestindo o manto do morcego, antes do retorno muito louco de Bruce Wayne ao presente (longa história), descobre mais uma pérola do submundo de Gotham; um lunático conhecido como O Comerciante (The Dealer), está realizando leilões secretos, voltados especialmente para a elite da cidade. Mas o que está sendo leiloado? Bugigangas de super-vilões, é claro! Entre os itens vendidos, pode-se citar um hormônio injetado no Crocodilo, o selo de domínio mental do Chapeleiro Louco, e a cereja do bolo, o pé-de-cabra utilizado pelo Coringa para espancar Jason Todd até a morte! Ah, esses ricos excêntricos…
Para piorar, o Comissário Gordon ainda tem que lidar com a volta do seu filho, James Gordon Jr, a Gotham, que além de possuir problemas para se relacionar com as pessoas desde a sua infância, já havia sido acusado pelo próprio pai de matar uma menina que desagradava-o… mas que bela família, hein?
A narrativa, abrangendo sempre o suspense e o clima dark, aspecto que hoje já não é tão comum nas mensais do Batman escritas pelo Tom King, consegue atiçar a curiosidade do leitor, desde a primeira história com O Colecionador, até interligar as tramas secundárias e principais, e ainda, mostrando diferentes pontos de vista sobre um psicopata; a visão “racional” e desacreditada, representada por Bárbara Gordon, a própria irmã de James, e o ponto de vista paternal e “humano” do Comissário Gordon, que ainda tenta acreditar em seu filho e se preocupa constantemente, mesmo com as maiores adversidades.
O ponto forte da HQ é mostrar que ainda é possível criar histórias do Batman sem a necessidade de super-vilões e arcos excessivamente grandiosos que levam a finais decepcionantes. É extremamente surpreendente uma HQ desse nível ainda não ter sido publicada nas terras tupiniquins, que possuem um apreço enorme pelo Morcegão. Uma grande chance se dispõe agora, com os 80 anos do cruzado encapuzado chegando.
O nome Snyder ainda causa pesadelos nos fãs de HQ, e de cinema também. Porém, o autor consegue fazer o que grandes autores atuais ainda tentam; criar uma trama “pé-no-chão”, sem super-vilões explodindo cidades inteiras, e unir a desenhos sombrios. Aproveitem para desfrutar uma história, que, infelizmente, está se tornando cada vez mais incomum no colossal mercado de quadrinhos…
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