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Nerd Zoom entrevista | Fernanda Schmölz

Fernanda Schmölz é jornalista, podcaster, youtuber, professora de inglês e dubladora. A moça é multitalentosa, mas na internet é conhecida principalmente por ser praticamente uma enciclopédia da Disney e por integrar o time do RapaduraCast, o podcast do portal Cinema com Rapadura, capitaneado por Jurandir Filho e integrado por Thiago Siqueira, Rogério Montanare e a própria Fernanda, que hoje troca uma ideia muito interessante com o Nerd Zoom!

(André Walker | Nerd Zoom) É um prazerzaço te receber aqui no Nerd Zoom, Fernanda! Obrigado pela conversa!

(Fernanda Schmölz) “Magina”, eu que agradeço o carinho 🙂

(André Walker | Nerd Zoom) Você é conhecida na internet e na podosfera por saber tudo de Disney e de animações em geral. Quando surgiu esse seu amor pelas produções da Disney e pelas animações?

(Fernanda Schmölz) A Disney está comigo desde criança. Minha mãe me apresentou as princesas clássicas como Branca de Neve e Cinderela ainda bem pequenininha. Depois disso foi mais uma continuação de algo que eu já amava.

O primeiro filme que tenho lembrança de ter visto no cinema foi ‘O Corcunda de Notre Dame’, que segue sendo um dos meus favoritos, e depois ‘Hércules’. Na adolescência dei uma afastada mas nunca deixei de assistir aos lançamentos nos cinemas.

Já adulta, o amor voltou com tudo quando tive a chance de visitar os parques em Orlando em 2014. Desde então não parei mais, abri o meu canal no youtube em 2015 e sigo encantada, apreciando e estudando mais sobre o mundo das animações.

(André Walker | Nerd Zoom) Na virada dos anos 80 para os anos 90 nós tivemos o início de uma nova “era de ouro” das animações, então veio Toy Story e puxou a fila das animações 3D; nos anos 2000 a Pixar consolidou um estilo muito próprio e bem sucedido de animação.

Você tem algum palpite sobre qual será a próxima grande virada nesse meio de contar histórias?

(Fernanda Schmölz) Uma coisa que me chateou muito na década passada foi perceber como as animações 3D seguiam um mesmo “molde”, com todas as novas personagens da Disney tendo a mesma cara, por exemplo, e uma certa obsessão por realismo que culminou com essa onda de remakes live-action dos clássicos.

Tem um charme inegável e uma certa imperfeição nas animações desenhadas à mão que dão esse ar mais humano pros personagens e que permitiam que cada animação, mesmo seguindo um padrão, tivesse a sua própria identidade.

A tecnologia veio pra facilitar o processo, mas a indústria da animação acabou refém de algo visualmente enfadonho, se afastando da parte lúdica e da estilização que fazem desse meio uma das formas mais ricas de se contar uma história.

Pra mim a virada começou com o maravilhoso “Homem-Aranha no Aranhaverso” em 2018 da Sony Animation. Ali a estilização se tornou protagonista na história, fazendo com o que o filme parecesse um quadrinho vivo saltando pros nossos olhos.

A DreamWorks adotou parte desse estilo em filmes mais recentes como ‘Os Caras Malvados’ e o surpreendente ‘Gato de Botas 2’. Tudo ficou mais dinâmico, as cenas de ação com certos toques de desenho estático usados nos gibis pra expressar intensidade e as cores mais saturadas no fundo ajudam a colocar a emoção do personagem dentro de você.

Já a Disney está pra lançar uma animação esse ano chamada ‘Wish’ que mistura o 3D clássico com Aquarela. Acho que o 3D computadorizado é inevitável a essa altura, mas sinto que tem havido um esforço por parte dos estúdios de permitir que os filmes voltem a ter essa liberdade de não ter compromisso com o realismo e podendo estabelecer sua própria linguagem visual. Estou bem empolgada com as possibilidades.

(André Walker | Nerd Zoom) Nos últimos anos, uma série de canais e veículos de extremistas têm surgido, embalando ideias perigosíssimas na capa da cultura pop, atacando diversidade, inclusão e quaisquer ideias progressistas no entretenimento.

Você acha que esse movimento pode impactar negativamente as decisões dos estúdios de alguma forma? E, além disso, você enxerga algum risco de essa galera influenciar a opinião pública contra a inclusão e a diversidade na indústria?

(Fernanda Schmölz) A gente viu um pouco desse impacto negativo no Star Wars Episódio IX, que acabou sendo uma grande faca de dois gumes pro estúdio.

Como o episódio VIII dividiu demais as opiniões, parece que no nove tentaram olhar as principais reclamações da internet pra tentar “resolver” no IX, mas o filme acabou se perdendo e desagradando todo mundo, mesmo os fãs mais puristas e a galera que tava curtindo as ideias novas (como eu).

No mais, infelizmente a internet faz com que esse grupo de pessoas consiga ter voz, se encontrar e se reunir, mas é inegável que a sociedade vem caminhando pra se tornar mais inclusiva. Ainda bem que essa falácia de que “quem lacra não lucra” já se provou falsa várias vezes.

(André Walker | Nerd Zoom) Você pode resumir para nós a sua trajetória até se tornar uma comunicadora?

(Fernanda Schmölz) Eu fui aquela criança que não podia ver uma platéia que queria se apresentar, fazia amizade com todo mundo. Infelizmente tive anos bem difíceis na escola durante o fundamental, que me deixaram extremamente insegura. Foi aos 19 anos quando resolvi estudar teatro que as coisas começaram a andar pra mim nesse sentido e pude me reconectar com essa energia comunicadora.

Sempre falei inglês porque minha mãe teve uma franquia de um curso quando eu era pequena, então todos os meus trabalhos depois do teatro envolviam atendimento ao público e lidar com pessoas do mundo todo. Junto com a faculdade de jornalismo e o breve período em que estudei letras, criei uma base bem legal pro trabalho que levo hoje. Acho que se comunicar é principalmente sobre ouvir e nunca parar de estudar, precisa ser curioso.

(André Walker | Nerd Zoom) Você é faz parte da equipe do Cinema com Rapadura (e do RapaduraCast consequentemente), comanda o Bibidicast e o Sugar Rush, além das atividades como professora de inglês. Como você organiza sua rotina para dar conta de tudo?

(Fernanda Schmölz) Infelizmente não tem um segredo ou fórmula pra isso. O que acontece na maioria das vezes é que alguma das coisas acaba não saindo 100% como eu gostaria porque não tenho tempo hábil na semana pra dar conta de tudo. O Sugar Rush, que produzo sozinha, está parado já tem um tempo por conta disso.

Meu grande problema é querer abraçar o mundo com as pernas, tenho tentado evitar pegar mais projetos do que sou capaz de dar conta. Num geral, como sou autônoma, a agenda acaba sendo mais flexível. Às vezes acontece de ter um dia na semana que não tenho nem tempo pra respirar e no dia seguinte tô 100% livre. Depende muito da semana, eu tento me adiantar sempre que posso pra não surtar. 😛

(André Walker | Nerd Zoom) Recentemente você adicionou “dubladora” à sua bio. Conta pra gente sobre isso e sobre o processo todo.

(Fernanda Schmölz) Ai, isso é outro sonho que tô começando a correr atrás. Quase ninguém sabe disso porque não comento muito na internet mas eu também sou atriz, apesar de não trabalhar na área já tem uns 10 anos. Pra poder trabalhar profissionalmente com dublagem é preciso ser ator e ter o registro profissional, o DRT. Eu tirei o meu quando estava parando de atuar exatamente há 10 anos. Nunca achei que iria usar, mas tirei naquela de “vai que um dia eu preciso”.

Foi muito doido esse sonho se apresentar pra mim tanto tempo depois, tenho feito dublagens amadoras no youtube e na twitch desde 2019 e por conta disso apareceu a oportunidade de conhecer um estúdio aqui no Rio de Janeiro.

Fiz uns dois trabalhos pequenos pra eles até agora, mas em breve vou começar aulas pra me especializar e conhecer melhor o ramo pra poder investir mesmo. Como a minha agenda já anda uma correria, no momento tô indo devagar mas sigo cada vez mais apaixonada, é um processo lindo e muito desafiador.

(André Walker | Nerd Zoom) Além de todas as atividades que você já desenvolve, quais são as principais coisas que você ainda quer realizar na sua carreira na comunicação ou mesmo em outras áreas?

(Fernanda Schmölz) Bem, eu já me comunico por vídeo e áudio, só falta o escrito, né? 😛 (risos). Eu tenho um projeto de um livro, que está em andamento. É uma não-ficção sobre a indústria do entretenimento e o foco é Disney (pois é, quem diria :B)

Tenho algumas outras vontades de usar esse conhecimento pra ajudar e inspirar as pessoas que no momento ainda estão no campo das ideias.

(André Walker | Nerd Zoom) Considerando os livros que você já leu, qual deles você acha que daria uma animação incrível? Qual seria o estúdio perfeito para ela e quem você gostaria que dirigisse?

(Fernanda Schmölz) Meu livro favorito é Frankenstein, de Mary Shelley. O Tim Burton já fez uma adaptação lindinha sobre um menino querendo ressuscitar seu cãozinho em stop-motion, que acho que combina bem demais. Ainda assim, ‘Frankenweenie’ é uma versão fofa onde o personagem está tentando lidar com seu primeiro contato com a morte, que não é exatamente a ideia da história original.

Frankeinstein (1931/ Direção James Whale / Universal Pictures).

Queria muito ver uma adaptação mais adulta de Frankenstein, acho uma obra fascinante e o tema dela tá cada vez mais atual. Quem quiser entender a vibe, procure pelo trailer da peça do Danny Boyle estrelada pelo Benedict Cumberbatch. Se fosse pra ser feita em stop-motion eu escolheria o Henry Selick (de Coraline e O Estranho Mundo de Jack) para dirigir e o estúdio seria a LAIKA.

(André Walker | Nerd Zoom) Com todo o conhecimento que você tem sobre animações e sobre cinema em geral, você já chegou a pensar em algum plot para um filme (mesmo que só por “brincadeira”)?

(Fernanda Schmölz) Olha, filme não, mas eu sou uma fanfiqueira convicta e AMO explorar mundos sobre os quais fico obcecada. Adoraria escrever uma história de aventura para One Piece ou Piratas do Caribe.

(André Walker | Nerd Zoom) A última pergunta a gente reserva para a dica cultural. Indica pra gente qualquer coisa que você ache que todo mundo deveria conhecer na arte e na cultura.

(Fernanda Schmölz) Os livros do Yuval Noah Harari expandiram meus horizontes sobre a humanidade, acho que todo mundo devia pelo menos ler “Sapiens”. Não se deixem amedrontar pelo tamanho, a leitura é bastante acessível e gostosa.

(André Walker | Nerd Zoom) Por fim, obrigado novamente pela conversa! Sucesso!

(Fernanda Schmölz) Obrigada a vocês, foi um prazer!

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