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Extremismo na cultura pop | Eles querem te radicalizar para o mal

Nos últimos cinco anos a internet foi tomada por uma onda de canais de viés perigosíssimo – meteção de louco da pior qualidade -, cujo objetivo é, basicamente, usar a cultura pop como plataforma para discursos de ódio e ideias retrógradas, numa tentativa desesperada, no melhor estilo “tiozão do zap”, de tentar trazer jovens e crianças para o lado “1939” da força.

Claro, eu não vou citar nomes aqui, primeiro porque não faz sentido dar visibilidade a esse tipo de conteúdo, segundo, porque caso você cruze com um desses canais por ai, vai ser bastante fácil identificar o discurso, principalmente depois desse breve (e vomitativo) resumo que nós vamos fazer logo abaixo.

A embalagem

Há três grandes truques quando se trata de recrutar e criar novos extremistas por meio da cultura pop; o primeiro deles é a embalagem. Quando se trata de adolescentes e jovens adultos, o discurso político direto, seco, raramente cola, por isso a embalagem é importante. Essa gente traz a cultura pop: filmes, séries, quadrinhos, desenhos e até música, como pano de fundo e, a partir desses elementos, eles transmitem as ideias de violência, preconceito, intolerância e exclusão do diferente. O segredo é fazer parecer natural.

Mas quais ideias?

Tudo aquilo que foge do padrão “comercial de margarina dos anos 80” é atacado com deboche e agressividade. Personagens de nacionalidades e etnias diferentes do habitual, negros em papéis de destaque, mulheres como heroínas – tudo isso é atacado com virulência – o que é bastante bizarro, considerando que vivemos num país onde 48% das famílias são chefiadas por mulheres e os negros são 56% da população, além do fato de sermos basicamente um país de imigrantes. Doideira, né?

Mas não se enganem! Essas pessoas não são malucas e nem estão fora de si ou algo assim. Existe um plano muito bem elaborado por trás disso. A repetição de palavras como “lacração”, “ideologia de gênero” (e esse bagulho nem existe, mano!), “progressismo”, “agenda”, “diversidade”, entre outras, como se fossem coisas ruins e destrutivas à sociedade, tem um objetivo bem claro: tentar solidificar a ideia de que a luta de certos grupos pelo direito de existir é uma ameaça à uma suposta “família tradicional brasileira”.

Muita gente boa cai nesse papinho

Eu sou de uma geração que cresceu vendo artistas como Prince, David Bowie, Freddy Mercurie, Madonna, e assistindo desenhos como Pica-Pau e Perna Longa, no caso dos desenhos, ambos que passavam a vida se vestindo de mulher e beijando outros personagens masculinos – o que segundo a lógica infantil desses disseminadores de preconceito e pânico moral faria dos boomers (geração nascida no pós Segunda Guerra Mundial) majoritariamente parte do grupo LGBTQIA+, uma vez que eles também cresceram com essas referências na cultura pop em sua época.

Eles acham que podem pautar a indústria

Claro, a indústria do entretenimento tem vários problemas, no entanto, esse mercado, assim como qualquer outro, apenas segue as tendências em voga na sociedade. Ninguém está “a frente do seu tempo” (embora alguns estejam para trás), tudo funciona exatamente de acordo com aquilo que sua época lhe permite fazer. Alguns desses semeadores do caos reacionário acreditam que tudo aquilo que não faz parte de sua própria visão de mundo deve ser destruído, parado, apagado.

Vamos fazer uma pausa para explicar o termo, nem todo mundo tem o Aurélio na cabeça (a não ser que você tenha crush em algum mano chamado Aurélio… enfim, vocês entenderam).

Reacionário: adjetivo

  1. 1.relativo, pertencente ou favorável à reação, ou caracterizado pela mesma; reacionarista; contra quaisquer mudanças sociais ou políticas.
  2. 2.DIREITO contrário, hostil à democracia; antidemocrático.

É evidente que a cultura pop, ao mesmo tempo que influencia, também é influenciada pelo movimento da sociedade e pela forma como o mundo se desenvolve. Pensando dessa forma, é uma total loucura imaginar que se negros, LGBTS’s, mulheres em posição de protagonismo e a própria existência de diversidade étnica e cultural não devam ser traduzidos nas telas, nas páginas dos livros e na música, uma vez que tudo isso existe no mundo real.

Dia desses eu preparei meu saquinho de vômito, meu antiácido e um copo d’água e resolvi maratonar um desses canais de chorume misturado com cultura pop. O bordão de abertura da dupla deplorável que apresenta a atração é “Grande momento”. Fiquei bastante chocado ao perceber que eles usam essas palavras citadas anteriormente nesse mesmo texto, como: “diversidade” e “inclusão” como se fossem coisas terríveis a serem combatidas – quase como se fossem equivalentes a “crime”, por exemplo.

Para um inocente ou desavisado, a repetição insistente de uma ideia pode acabar formatando sua maneira de pensar e de enxergar o mundo. Sabe? Tipo aquele efeito de tocar tanto uma música na rádio, no Tik Tok e no Instagram, que você começa a achar que gosta daquele som, mas na verdade ele só grudou na sua mente de tanto ser repetido. Enfim, esse é o efeito.

O Don Quixote reaça e os moinhos de vento do entretenimento

O mais engraçado (e ao mesmo tempo desesperador) é que esses lunáticos perversos usam uma tática muito inteligente: eles escolhem alguns inimigos grandes, como Disney, Netflix e Prime Video, entre outros, e criam fanfics sobre como essas empresas pretendessem impor uma ditadura de depravação e destruição da inocência das nossas crianças e, pasmem… eles acreditam (ou fingem acreditar) que seu movimento desvairado (uma espécie de Don Quixote deprimente) será capaz de destruir essas empresas.

Não é conspiração, a parada é business!

Nenhum estúdio, nenhum streaming ou qualquer outro player do mercado do entretenimento faz qualquer coisa, ou toma qualquer atitude, sem pensar cuidadosamente nos balanços financeiros. No fundo, os Quixotes sabem bem que, se vender conteúdo conservador desse lucro, as empresas estariam fazendo. É quase infantil a ideia de que qualquer CEO de empresas que valem bilhões de dólares, colocaria um suposto plano ideológico na frente das planilhas de faturamento. Chega a ser hilário!

Tomem cuidado com o que vocês consomem. Analisem, estudem, pensem, não comprem discursos malucos e sem uma lógica baseada na realidade material.