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Crítica: The End of the Fu**ing World | Série surpreende com humor negro, clichês bem trabalhados e um romance diferente

Sabe quando bate aquela vontade de pegar um carro, fugir de casa junto com o amor da sua vida (que talvez você não saiba que é o amor da sua vida) e sair por ai sem rumo espalhando o caos pelo mundo? Pois é. Isso é exatamente o que James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden), protagonistas da nova série da Netflix em parceria com Channel 4, The End of the Fu**ing World, fizeram. Calma, não entreguei a série toda para você, caro leitor. Até porque essa premissa já ficou bem visível no marketing e no início da série. Mas mais ainda porque a série vai muito além disso, ela é sobre autodescoberta, sobre um estilo alternativo de vida e sobre suas consequências, isso tudo com artifícios que irão atrair facilmente o público jovem e quem sabe determinar um dos primeiros sucessos da Netflix de 2018.

Um dos pontos mais positivos da série é como ela consegue ser tão fácil de ser assistida e tão brilhante ao mesmo tempo. Fácil, claro, se você faz parte do publico a que ela é direcionada, já que ela critica duramente o tal “sistema” citado por Alyssa e seu pai que escraviza os adultos, então estejam preparados para ouvir as verdades da juventude mostrada no programa. Ela é simples, a narração transita entre os dois protagonistas, o que faz com que fique mais fácil o entendimento deles, e conforme a relação deles evolui, a narração também se mescla mostrando o que James e Alyssa escondem por trás de respectivamente, a personalidade fria e supostamente psicopata e a outra, explosiva e decidida. Esses retratos da juventude poderiam ser meras caricaturas se o roteiro da série não trabalhasse tão bem seus personagens que vão sendo bem construídos e desconstruídos ao longo da série.

A série também resgata outro tema que vem sendo recorrentemente abordado no cinema e na tv com obras como Capitão Fantástico e Na Natureza Selvagem, o modo de vida alternativo. Isso sem se posicionar contra ou a favor disso, apenas mostrando dois pontos: a ascensão e auge da ideia de liberdade representada pelos personagens de Alex e Jessica, e a decadência e fim dessa mesma ideia manifestada pelo pai de Alyssa. Outro fator que pode chamar muita atenção dos jovens é o estilo próprio do casal, em uma época em que a melancolia, a tristeza e o inconformismo com a sociedade individualista vem sendo tratado cada vez mais abertamente em obras do gênero os dois são os personagens perfeitos para tratar disso, espalhando o caos por onde passam, descobrindo um no outro um amor que nunca tiveram e mostrando que mesmo que estivessem buscando apenas uma fuga da realidade que os divertisse e os fizesse feliz, agora a única coisa que precisam pra isso é um do outro.

Esse estilo da série também é bem representado por sua fotografia, que exalta a natureza contando com cores vibrantes que manifestam a rebeldia e a simplicidade dos protagonistas que buscam apenas uma felicidade pura e simples, e em contraponto tem de lidar com suas personalidades peculiares que afastam esse objetivo e também com cores frias quando os dois não estão juntos, representando a dor de não estar perto do que te faz feliz. A série também conta com uma trilha sonora inteligente que é especifica para cada núcleo e que empolga quando precisa.

Infelizmente, o programa perde a chance de explorar alguns núcleos melhor deixando como único centro da trama a jornada dos garotos, o que caso fosse feito resolveria algumas problemas enfrentados nos últimos episódios em questão de ritmo. Mas isso pode ser facilmente resolvido em uma 2ª temporada. Mesmo assim o desfecho da série é satisfatório e instigante e dá ao público a vontade de ver uma próxima temporada.

Divertida, com um humor negro aguçado e um romance diferente que desperta empatia do espectador, The End of the Fu**ing World é uma série que você vai maratonar em poucas horas, mas que provavelmente irá fazer você se lembrar dela para sempre e repensar seus objetivos de vida.