O Batman ao longo dos anos recebeu diversas adaptações, e podemos considerar o personagem como o grande trunfo da Warner e também da DC como um todo. Após a versão trazida pelo Ben Affleck e a grande franquia do Christopher Nolan, muitos pensaram em como o personagem iria retornar. A discussão em volta da saturação do herói voltou, contudo era inegável que o personagem tal qual outros da cultura pop voltaria cedo ou tarde.

Quando Matt Reeves assumiu o projeto após a retirada de Ben Affleck, todos questionaram o que o diretor de Planeta dos Macacos faria com o herói. A escolha de Robert Pattinson como protagonista trouxe novamente o alvoroço dos fãs, e deixou todos com um pé atrás. Devido a pandemia e outros diversos problemas, demoramos para ver o resultado final, contudo a espera sem sombra de dúvidas valeu a pena.

Após dois anos combatendo o crime, vemos Batman indo em busca de um misterioso assassino que está fazendo diversas vítimas em Gotham. Durante sua investigação ele irá enfrentar o submundo de Gotham com o Pinguim (Colin Farrell) e Carmine Falcone (John Torturro) como pilares centrais. Ao seu lado Batman terá aliados como o policial Gordon (Jeffrey Wright), Selina Kyle (Zoë Kravitz) e Alfred (Andy Serkis).

 

A Gotham de Matt Reeves

É digno de nota o modo como o diretor Matt Reeves sempre falava com empolgação sobre o projeto e ainda mais as inspirações que ele estava utilizando. O cineasta sempre citou HQs como Ano Um, Batman: Ego, O Longo Dia das Bruxas e entre outras que eram icônicas do herói. E ao ver o resultado final, de fato vemos um fã do personagem.

Durante a maioria das cenas sem muito esforço fica visível as principais inspirações do diretor na ambientação e narrativa. Os personagens em diversos momentos parecem ter saído direto das HQs em suas ações e também na própria estética. Quando você vê determinada ação de algum personagem você pensa “pelas HQs ele faria isso”, e de fato ele faz, sendo fiel as suas motivações e origens, o que muitos filmes do gênero não conseguem.

Fora toda a qualidade em ser uma adaptação, a Gotham de Reeves consegue criar uma identidade própria, trazendo sempre cores vivas como o vermelho e laranja, e criando uma Gotham que vive durante a noite. A estética do filme não somente funciona, como em diversos momentos tem coesão com a narrativa desenvolvida. Sempre questionam a mudança de etnia de alguns personagens como o Gordon, mas ao ver o filme eu só conseguia enxergar os personagens que eu lia nas HQs.

A direção de Reeves foge muito dos filmes habituais do gênero, onde o diretor usa toda sua experiência de projetos anteriores como Cloverfield e Planeta dos Macacos para criar diferentes experiências. O ponto alto está em como o diretor consegue transitar em diferentes pontos de vista, nos colocando na visão de um personagem e logo depois nos fazendo roer as unhas com pura tensão.

O Batman de Robert Pattinson

A questão provavelmente mais importante é… Robert Pattinson consegue ser um bom Batman? E a resposta curta é sim e muito mais. Agora para a mais longa, o ator que já havia mostrado diversos méritos em outros filmes como O Farol, aqui vemos sua dedicação e identidade para o herói. Ele traz um Bruce Wayne ainda atormentado pela morte dos seus pais e que está cada vez mais se afundando nas sombras do Batman.

Temos aqui um Batman que ainda não incorporou a persona filantrópica de Bruce Wayne, mas alguém que está cada vez mais perdido nos seus próprios objetivos. A atuação de Pattinson em muitos pontos é singela, mas são nos momentos de verdadeira emoção ou tensão, podemos ver os reais sentimentos do herói até mesmo atrás da máscara.

Durante o filme acompanhamos o crescimento e evolução do herói e até o final enxergamos o que de fato mudou. Trazendo uma visão diferente das outras versões anteriores do herói, aqui temos um Bruce Wayne que nos faz questionar suas reais motivações e se de fato ele seria um herói.

Aqueles que vivem em Gotham

Retirando o personagem central do tabuleiro, agora podemos olhar com mais atenção para os outros personagens que orbitam Gotham. E um grande mérito do filme é saber dosar o tempo de tela de cada um, nos fazendo ter um certo apego por todos os personagens que estão ali. O Gordon de Jeffrey Wright foi uma das grandes surpresas, onde ele consegue ficar de igual para igual com o Batman e trazendo aquela figura heróica em meio a toda a corrupção da cidade.

Zoë Kravitz também consegue se igualar ao herói como Mulher-Gato, a personagem traz um grande peso dramático ao lado de todos os principais aspectos das HQs que tornam a personagem única. Colin Farrell também surpreende fazendo um papel diferente de tudo que ele fez anteriormente como Pinguim, e ao lado de John Torturo que o pouco que aparece, se destaca.

É interessante notar que mesmo que esse filme seja totalmente focado ao personagem que dá título ao filme, os personagens secundários conseguem ainda assim trazer uma identidade própria. Cada um reflete as cicatrizes de Gotham e buscam para sobreviver e vencer as sombras e corrupção de Gotham. E nesses reflexos o Charada de Paul Dano traz uma coesão sublime com a narrativa ao lado de uma atuação que quando surge, nos mostra o motivo de sua escolha no papel.

A opressão Noir na narrativa

Dentre as muitas escolhas feitas ao desenvolver esse projeto, a principal que é mais assertiva e se difere dos filmes anteriores é a opressão de Gotham e sua ambiguidade. Nessa obra vemos a versão mais sombria do personagem ao lado de um herói que não tem um Lucius Fox para lhe auxiliar ou sequer o Alfred em si. Temos uma Gotham que caiu nas sombras da corrupção, e somos sempre questionados ao que define o bem e o mal, e qual o verdadeiro sentido de justiça.

Tendo referências do cinema como Chinatown e Seven: Os Sete Pecados Capitais, o filme respira de diversas referências ao Noir e traz consigo uma trama pesada, tensa e que não para até a resolução final do problema. Bruce Wayne incorpora toda essa opressão e tensão em seus traumas, o que não acaba no final da história, mas progride devagar com coesão a cada detalhe do filme.

Uma nota adicional vale para o compositor Michael Giacchino que consegue esboçar toda a tensão do filme em sua trilha sonora, ao incorporar toda essa estética, opressão e clima noir nela. Utilizando da trilha não somente como plano de fundo mas para compor a direção de Reeves junto é claro com a estupenda fotografia de Greig Fraser.

O melhor filme de herói?

Dizer que The Batman é o melhor filme do gênero possa soar estranho, mas ao mesmo tempo ao tentar apontar erros no filme é difícil pois tudo se encaixa e não é deixado de lado. Talvez ao não termos uma resolução catártica e épica no final, ou ser um filme muito mais tenso do que épico, faça com que o sentimento de fato seja estranho.

Contudo esse filme é de fato uma das melhores adaptações e versões do herói, senão a melhor. Ao apresentar essa nova Gotham Matt Reeves destaca todo seu potencial e ainda se permite a mostrar fagulhas do que o futuro nos espera.

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