O Quarteto Fantástico surgiu em sua revista própria em novembro de 1961, na emblemática Fantastic Four nº 1. Desde então, o título sempre trouxe elementos criativos de ficção científica, mesmo em épocas menos queridas pelos fãs, sem deixar de lado a interação familiar dos personagens. Quarteto Fantástico: Primeiros Passos tenta fazer a mesma coisa, mas falha de forma fantástica.
Ao priorizar um espetáculo visual realmente digno de nota, o roteiro sofre de problemas severos. Ao passar pelas mãos de quatro roteiristas, a trama se escora em clichês e soluções nada cativantes que tentam soar grandiosas, ressoando a megalomania vazia de uma obra que tenta ser mais do que consegue a todo momento.
A história de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
Um grupo de astronautas passa por uma tempestade cósmica durante um voo experimental. Ao retornar à Terra, os tripulantes descobrem que possuem novas e bizarras habilidades. Reed Richards (Pedro Pascal) pode esticar seu corpo e se torna o Sr. Fantástico. Susan Storm (Vanessa Kirby), por sua vez, ganha a habilidade de se tornar invisível e vira a Mulher Invisível.
O irmão mais novo de Susan, Johnny Storm (Joseph Quinn), adquire o poder de controlar o fogo e voar, tornando-se o Tocha Humana. Já o piloto Ben Grimm (Ebon Moss-Bachrach) é transformado em um ser rochoso, praticamente uma Coisa. Juntos, eles se tornam o Quarteto Fantástico.
Após quatro anos em atividade, a equipe é amplamente querida pelo público. Contudo, quando um ser alienígena conhecido como Surfista Prateada (Julia Garner) ameaça a Terra de ser devorada pela entidade cósmica Galactus (Ralph Ineson), a única forma de impedir que isso aconteça é fazendo um sacrifício que abalará a equipe e sua imagem perante o público.
O filme em si
Ao se passar em um universo paralelo, o filme consegue apresentar um cenário retrô-futurista encantador, que serve como pano de fundo para a história e algumas soluções criativas. Contudo, ele não passa disso: um espetáculo visual.
Por falar em visual, aqui vale uma parte especial para Galactus, cujo design de personagem e sua tecnologia remetem diretamente aos traços explosivos e criativos de Jack “The King” Kirby, dentro das devidas proporções. Dentro da narrativa, ele e a Surfista Prateada intimidam pelo poder cósmico incompreensível, cuja escala grandiosa muitas vezes remete a Duna (2021).
Contudo, essa é uma inconstante no filme, onde muitas vezes Galactus fica desproporcional, dependendo do que a cena demanda. E esse pode ser o único defeito desse núcleo, que, apesar disso, funciona de maneira magistral.
O mesmo não pode ser dito dos personagens centrais, que, apesar da dinâmica familiar cativante, individualmente são desenvolvidos de maneira rasa e não conseguem gerar senso de perigo em nenhum momento, já que você sabe que eles irão aparecer no grande evento da Marvel Studios: Avengers: Doomsday.
Além disso, o filme se vale de motivações clichês para movimentar a trama e possui uma solução final que lembra muito o filme Caça-Fantasmas (1984). Quando você assistir, vai entender do que estou falando.
Direção
Visualmente, o filme é realmente fantástico (com o perdão do trocadilho). Ao apostar na estética retrô-futurista e na escala cósmica dos elementos que envolvem Galactus, o longa gera cenas deslumbrantes, que encantam tanto os cinco fãs dos quadrinhos da equipe (incluindo este que vos fala) quanto o público em geral.
Contudo, a narrativa possui pouco tempo para aprofundar os conceitos apresentados, incluindo os personagens, soando superficial. Isso impede uma maior conexão com os protagonistas, em prol de uma história megalomaníaca, que, por conta dessa falta de profundidade, soa como uma aventura genérica e somente mais um capítulo de uma saga muito maior. A cena pós-créditos potencializa esse sentimento ao sempre prometer mais alguma coisa.
Elenco de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
O grande destaque deste filme vai para Vanessa Kirby, que apresenta a melhor Mulher Invisível adaptada às telonas. Ao se deparar com o dilema ético — que, embora clichê, movimenta toda a trama —, ela consegue entregar uma atuação potente e realmente rouba a cena toda vez que aparece.
Pedro Pascal convence como Reed Richards, apresentando um ser completamente racional diante dos desafios da paternidade e sua própria incapacidade. Johnny Storm também é o mesmo ser impetuoso dos quadrinhos e surpreendentemente importante para a trama, mas seu pseudo-romance com a Surfista Prateada serve somente para gerar piadinhas insidiosas e um clima de vergonha alheia realmente incômodo.
Falando em Surfista Prateada, Julia Garner está muito bem no papel de Shalla-Bal e, mesmo sendo uma personagem totalmente em CGI, consegue entregar nuances interessantes. Junto de Galactus, eles são o ponto alto do filme, apresentando uma ameaça verdadeiramente grandiosa.
Quem realmente sofre é o Coisa, jogado completamente de escanteio, servindo mais como alívio cômico e bate-estacas do que como um personagem interessante. O filme até tenta dar uma trama de fundo para ele, mas ela soa tão desinteressante e mal explorada que dificilmente você consegue se importar.
É melhor que Superman?
Resposta direta? Não. Apesar do visual ser um pouco mais consistente que Superman, Quarteto Fantástico escorrega no desenvolvimento de personagens e falha em entregar um filme que consiga ser, ao mesmo tempo, um produto vendável e marcante. Ele é somente mais um capítulo da história da Marvel, que sempre promete para o futuro, mas esquece de entregar algo relevante no presente.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos vale a pena?
O longa, que era para ser a grande aposta da Marvel Studios para tentar recuperar seu status cinematográfico, torna-se apenas um espetáculo visual, entregando um roteiro que, apesar de funcional, tem a profundidade de uma poça d’água. Ao apostar na grandiosidade, o filme toma decisões óbvias e perde chances de entregar soluções criativas, que poderiam ser dignas de uma das equipes mais inventivas dos quadrinhos.
Em suma, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é apenas mais um produto enlatado, que tenta ser grandioso a todo momento, mas esbarra na falta de criatividade e em uma narrativa corrida que impede o público de se importar realmente com os personagens.
