Quando estava pensando em exatamente como começar a crítica de “O Destino de Uma Nação” (“Darkest Hour”, 2017), que me surpreendeu e começou 2018 com o pé direito, dei uma leve pesquisada no nome do diretor, “Joe Wright”, pois ainda não o conhecia e, surpresa para mim, seu longa de estreia foi logo o bom “Orgulho e Preconceito”. Depois, Wright passou por uma pequena lista de Blockbusters meia-boca, até chegar naquele que, para mim, foi o melhor episódio de Black Mirror feito até agora: “Nosedive” é aquele episódio que fez popularizar a expressão “meu, isso é muito Black Mirror” entre os paulistanos.
VAMOS AO FILME
Talento confirmado, vamos ao que interessa (com uma boa dose de entusiasmo extra): “O Destino de Uma Nação” conta sobre o grande momento da vida de Winston Churchill (trazido à vida por um tão irreconhecível quanto irrepreendível Gary Oldman), hoje, lembrado como herói por todo o mundo, mas que era conhecido pelos britânicos como uma espécie de “rei das pataquadas”, graças aos enormes insucessos como comandante de frontes de batalha, que causou à ilha da Rainha a morte de milhares de soldados no passado. Mas o destino foi extremamente irônico e colocou em seu colo (não, Churchill nunca foi eleito) a mais ingrata tarefa que uma pessoa poderia receber: ser o primeiro-ministro a derrotar um Adolf Hitler praticamente vencedor e dono da Europa continental.
Com um trabalho primoroso de direção de arte em um filme de estúdio (pouquíssimas sequências acontecem ao ar livre), a ambientação em uma Londres desolada, mas ainda por ser bombardeada ficou perfeita. Detalhes como o quarto com granito rachado de Churchill, o pouco dinheiro restante da família real britânica, detalhes de objetos pessoais feitos com tanto cuidado que é quase impossível repreender o filme por falta de cenas externas. E a fotografia não ficou atrás.
Numa perfeita consolidação do cinema digital (o filme foi feito com uma Arri Alexa, uma das câmeras mais modernas da categoria, mas que se acusa na sequência de alto contraste em que Churchill entra no prédio do governo e sobe as escadas contra a luz da janela, explicitando a deficiência de latitude das novas tecnologias), apesar da constância de sequências internas, a decupagem do filme não abusou dos closes, guardados apenas para momentos mais dramáticos de diálogos, especialmente os travados tanto entre o primeiro-ministro e seu rival, Visconde Halifax (também primorosamente interpretado por Stephen Dillane), quanto entre o protagonista e sua datilógrafa pessoal, Miss Layton (boa atriz, Lily James).
De resto, bons enquadramentos enchiam a tela de informações quando queriam nos causar claustrofobia, bons movimentos de câmera não nos deixavam entediar quando a montagem ficava mais lenta e, por Kubrick, o que é aquele plano de dentro da máquina de escrever?
MAS E O DIRETOR?
O bom ritmo do filme e as ótimas atuações (preciso fazer justiça, também, à ótima Kristin Scott Thomas, que interpreta Clemmie, a esposa de Churchill) nos fazem entrar neste episódio da história mundial protagonizada pelos ingleses e que, neste filme, ao contrário de “Dunkirk”, que foi ao front de batalha, contou a mesma história, mas do ponto de vista dos escritórios e corredores do parlamento e governo briânicos. Destaque para duas sequências que representaram o segundo ponto de virada do filme: a conversa de Churchill com o Rei George VI (Ben Mendelsohn) e a consequente viagem de metrô do primeiro-ministro e sua conversa com a plebe, sem contar a sequência em que Churchill é nomeado primeiro-ministro pelo Rei… impagável!