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Crítica: Monkey Man | A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena

Monkey Man é um filme que estreou em 2024 e chegou agora no Prime Video e mostra como contar uma boa história através da violência

Monkey Man é um filme que chegou aos cinemas em 2024, e agora em agosto está disponível no Prime Video. O filme marca a estreia de Dev Patel na direção ao lado de Jordan Peele como produtor do filme. Nele acompanhamos um jovem (Dev Patel) que está em busca de vingança por aqueles que mataram sua mãe. A partir disso ele começa uma jornada autodestrutiva em Batam, na Indonésia enfrentando policiais corruptos e um suposto guru que está se tornando cada vez mais popular.

A partir dessa descrição provavelmente seu pensamento é: “Mais um filme de ação genérico tentando imitar o John Wick.”

E sim, em muitos aspectos ele imita de certa forma a ação de John Wick, só que a reviravolta está em como Dev Patel se utiliza da violência para potencializar a história que ele quer contar. Então não se preocupe, nenhum cachorro é ferido nesse filme, mas eu posso te garantir que a ferida aberta nele vai ser muito mais profunda que John Wick e sua frase categórica: “Yeahhhhh”.

Um mundo corrupto e dividido

Na ambientação do filme, temos claramente uma disputa de classes sendo apresentada na narrativa. Vemos de um lado os poderosos que estão constantemente obtendo o controle de tudo, e com isso destruindo parte da cultura do seu próprio povo para criar-se uma nova.

É interessante olhar que a visão de Dev Patel em sua direção não degrada os cenários das classes mais baixa, mas exalta ao mostrar a sagacidade das pessoas e também a forma como são estruturados. Cada vez que acompanhamos o personagem principal transitando entre os dois mundos, percebemos suas diferenças e o quanto que apesar da pobreza, há muito mais humanidade nas classes baixas.

Já quando olhamos para cima, vemos como essa classe se tornou corrupta e constantemente se vê abusando do poder. Contudo o abuso vai além, afetando pessoas e constantemente as ferindo para conquistar um patamar maior de autoridade.

O ponto chave da narrativa aqui, está em usar a figura de um Guru interpretado por Makarand Deshpande. Como ele supostamente representa a preservação cultural daquele povo, há um respeito pela sua figura e que garante que o abuso de poder não seja visto pelos demais.

O reflexo que essa história apresenta com a realidade é bem claro ao vermos por exemplo no Brasil, figuras indígenas sendo utilizadas por movimentos de extrema direita para viabilizar o desmatamento e tomada de terrenos indígenas em prol de uma “boa mudança”.

E devido a esse mundo de constante abuso e sendo corroído pela corrupção, a violência se torna o único meio de resposta para uma criança que cresceu sem sua mãe.

Uma resposta primitiva para um mundo primitivo

O nosso personagem principal não possui muitas falas. Muitas vezes o vemos sendo obrigado a falar para conseguir conquistar o objetivo que ele almeja para a sua vingança. Nisso vemos muito mais de sua atuação corporal e também gestual para enxergamos os seus sentimentos.

O personagem principal do filme usando a máscara do Monkey Man.

Tendo sua mãe morta devido ao próprio cenário corrupto que se perpetua pela população, ele vê a resposta para isso na violência. Assumindo o papel de “Monkey Man” que é baseado no deus-macaco do hinduísmo Hanuman, ele se torna uma figura vingativa e lidando constantemente com seu próprio ódio.

O retrato da raiva do personagem está na forma como ele luta, não se importando com as feridas deixadas pelos seus inimigos e agindo literalmente como um animal em certos momentos através de grunhidos e movimentos agressivos.

E no decorrer do filme vemos a evolução do personagem, que reflete também sua expressão corporal e forma de lutar. Aqui entra aquilo que citei no início desse texto, diferente de outros filmes de ação. A violência e combate evoluem conforme a narrativa acontece, e possuem um propósito para além da ação. Vemos através da forma como o personagem se porta, como estão seus sentimentos, suas motivações e até mesmo a visão daquele mundo sendo traduzida para os nossos olhos.

A vingança para além do ocidente mata a alma a envenena

Através de uma fotografia poluída, uma direção caótica, mas ao mesmo tempo que sabe como criar momentos calmos, somos apresentados a um diferente tipo de vingança. O que é comumente apresentado para nós através dos olhos frios de uma ação ocidentalista, aqui é feito diferente.

Existe uma humanidade no filme que te faz até mesmo se sentir desconfortável quando vemos a ação, que não se engane, estou falando sobre aspectos críticos aqui, mas não deixa de ser extremamente divertido de assistir. Só que retornando ao assunto, quando vemos a ação nós sentimos em certos momentos agonia devido a forma como aquela brutalidade está sendo conduzida.

Esse filme dá um pontapé inicial muito bom na carreira de diretor do Dev Patel e mostra que ainda existe formas de trazer profundidade para ação nos tempos atuais.