Written by 14:08 Criticas, Filmes | Criticas

Crítica: Eu, Tônia | Os reflexos do passado na construção de uma identidade

Margot Robbie brilha na melhor atuação de sua carreira

Qual seria exatamente o peso do passado em nossas vidas?

Ele é um fator determinante para o sucesso ou apenas uma barreira a ser ultrapassada durante o caminho?

Tonya Harding nasceu em Portland e passou por traumas durante toda a sua infância. Sua mãe era autoritária ao extremo e os abusos sofridos se tornaram constantes. Nesse mesmo período ela encontrou o grande amor da sua vida, a patinação artística.

Participando de duas Olimpíadas e quebrando recordes nacionais, Harding se tornou uma das mais importantes atletas da modalidade em toda a história.

Filmar uma biografia nunca foi tarefa fácil, porém o diretor Craig Gillespie consegue extrair de Margot Robbie a atuação da sua vida. Desprovida de trejeitos típicos desse tipo de personagem, a atriz busca uma crescente linha tênue de interpretação que chega ao seu ápice por volta do terceiro ato, culminando em uma merecida indicação ao Oscar.

Destaque e méritos também para Allison Janney (indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante), que entrega uma figura materna repleta de diálogos controversos e expressões marcantes.

O humor negro surge como alivio cômico em boa parte da fita, porém possui um papel de maior importância na construção da narrativa. Através desse artificio, o texto de Steven Rogers busca confrontar paradigmas da sociedade americana, como a imagem da família perfeita e o padrão de beleza a ser seguido para obter direito de representar o país em qualquer tipo de esfera.

As belíssimas sequencias de Margot patinando são acompanhadas por uma câmera que dança junto com ela em uma sincronia quase perfeita, mostrando também detalhes do ginásio e atitudes de personagens que são essenciais para o entendimento de suas motivações futuras.

O ponto negativo fica apenas por conta de algumas cenas de Tonya com o seu marido (interpretado por um convincente Sebastian Stan) que chegam a ultrapassar um pouco os limites e fogem do tom que a obra constrói desde o início, inclusive com a quebra da quarta parede em um determinado momento.

Stan é o responsável pelos atos que antecedem o clímax da conhecida história que abalou os tabloides e noticiários no início dos anos noventa.

“Eles querem alguém para amar, eles querem alguém para odiar” diz Tonya em um trecho do filme. Essa frase responde também a indagação feita no início texto. O passado vai sempre nos acompanhar pelo decorrer da vida, todo amor e ódio que recebermos será usado de alguma forma. Resta decidir de qual maneira isso será feito.

[rwp_box id=”0″]