Dez anos.
Uma década inteirinha que passou diante dos nossos olhos.
O que VOCÊ fez nesses últimos dez anos? Namorou? Casou? Comprou um videogame? Adotou um gato?
Seria muito clichê dizer que parece que foi ontem que eu assisti no cinema esse filme, mas parece mesmo. Sendo um inocente jovem/fedelho/fã do Batman, eu fui no cinema tendo como conhecimento as séries animadas da Liga da Justiça, do Batman, a série formidável de 1966 do Adam West, e alguns filmes aqui e acolá. Na época, eu não lia gibis do Batman pois achava que só adultos conseguiam ler e entender tudo (eu não estava errado, de fato), então acabava me divertindo com a Turma da Mônica. Cheguei no cinema três horas antes da sessão, e jamais poderia pensar que estava vendo ao vivo uma revolução nas telonas.
Batman: O Cavaleiro das Trevas não é só o melhor filme de super-herói de todos os tempos. Merece estar ao lado dos gigantes Hollywoodianos, como O Poderoso Chefão, Cidadão Kane, E o Vento Levou. Do início ao fim, com diversos personagens essenciais, o filme não perde o ritmo. Vemos um bom policial, James Gordon, honesto, incorruptível, ser levado ao limiar da sanidade quando todo seu departamento faz parte de máfias italianas e sua família é ameaçada por outro homem parte de uma tríade da bondade. Batman, aparentemente inabalável e inatingível, é destruído por dentro quando Rachel Dowes, sua paixão de infância, é brutalmente assassinada. Harvey Dent perde sua namorada, sua cidade, e metade de seu rosto. Os paladinos da justiça, a tríade da bondade, brilhantemente adaptada da HQ O Longo Dia das Bruxas, que realmente estava mudando Gotham City, prendendo mafiosos e controlando a criminalidade, são divididos e rechaçados por um único indivíduo em comum: o Coringa.
Um artigo não é suficiente para descrever e interpretar toda a atuação de Heath Ledger e a filosofia proposta pelo vilão. Toda a destruição, todas as mortes, toda a anarquia criada pelo antagonista, e em nenhum momento ele fez aquilo para encher o saco do Batman ou apenas frustrá-lo. Ele não queria dominar a Terra, ficar milionário ou conquistar Gotham City. O Coringa era um agente do caos. Durante o filme, vemos o seu desprezo pela humanidade, pelos valores morais, e por toda a ordem vigente. O niilista apenas queria se divertir. Nenhum filme de super-herói desde então trouxe um vilão que não seguisse uma fórmula ou um pretexto. Ozymandias, de Watchmen, e Thanos, de Guerra Infinita, apesar de serem excelentes dentro de seus universos, ainda são adaptados fielmente de suas respectivas obras. Mas onde que um Coringa com cicatrizes no rosto, uma maquiagem borra-botas e com vestes maltrapilhas se adequa aos quadrinhos? Talvez, o que Christopher Nolan faz com o personagem seja o que falta hoje, tanto na DC, quanto na indústria de cinema em geral. Um vilão que não segue planos, fórmulas, e que ainda assim, dá uma aula de atuação, seja na famosa cena do interrogatório, no hospital com Harvey Dent, ou na luta final do terceiro ato. Ainda hoje, as comparações de Jared Leto, de Esquadrão Suicida, e o mais novo Coringa, de Joaquin Phoenix, com Heath Ledger, são inevitáveis. E sim, são necessárias; até hoje, somos orfãos de um vilão magistral e revolucionário.
Depois de dez anos e de reassistir o filme diversas vezes, ainda me surpreendo com a habilidade e a primorosidade de Nolan em construir um filme impecável. A cena de perseguição do batmóvel, a luta monumental do Batman contra a SWAT, as frases de Harvey Dent e do Coringa, arrasando a sociedade como um todo, são tantos pontos brilhantes que é difícil enumerá-los. Além de tudo isso, o niilismo do Coringa acabou por funcionar, mesmo que indiretamente; dez anos se passaram e até agora, sinto um vazio em relação aos filmes de super-herói. Nenhum conseguiu chegar perto de Cavaleiro das Trevas. Seja pelo vilão, seja pela história. A obra é um marco, que permanecerá por muitos anos na mente de quem estava presente no momento histórico.
O legado deste filme é imensurável. Provou que super-heróis podem protagonizar filmes dignos de um Oscar, com uma história que não agrada apenas aos fãs, mas aos críticos, aos leigos, e ao público como um todo. Foi o primeiro filme do gênero super-herói que atingiu 1 bilhão de dólares na bilheteira, e possibilitou um respeito crítico e artístico aos heróis no cinema. É um clássico moderno, que merece ser assistido e reassistido. Cavaleiro das Trevas, atualmente, é o Watchmen dos super-heróis no cinema. É o Magnum Opus do gênero. E eu, com um sorriso no rosto, posso dizer: “Eu estava lá!”