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Zoom em Quadrinhos | We3 – Instinto de Sobrevivência

Um roteiro emocionante, desenhos surreais, narrativa inovadora e animais fofinhos em carcaças de alta tecnologia com o objetivo explícito de matar, este é We3.

Não é novidade para nenhum leitor de quadrinhos de longa data que todos os títulos aonde tem o nome Grant Morrison na capa, tem uma narrativa arrebatadora e um roteiro bem… diferente, de certa forma, We3 é até que bastante simples, mas a complexidade de sua narrativa tanto visual quanto escrita é surpreendente e tocante.

A história é simples: Um complexo de pesquisas nos EUA está desenvolvendo um exército de animais inteligentes, a partir da fusão com tecnologia, sob o pretexto de substituir os soldados humanos em guerras, Dan Washington, futuro candidato à presidência dos EUA, vê aquilo como algo negativo para sua campanha e ordena que o projeto seja encerrado e tudo mantido em segredo, para tanto, os animais deveriam ser sacrificados. Neste meio tempo a Doutora Roseanne Berry, a principal cientista que cuida do projeto, decide tramar um plano para libertar os animais e impedir que ele sejam sacrificados, após libertos, os bichinhos vêm que o mundo é bem mais ameaçador que eles imaginam e buscam novamente um lar.

Uma história com animais de estimação, por si só, já é emocionante, isto somado aos enredos de Grant Morrison (Homem-Animal: O Evangelho do Coiote, Grandes Astros: Superman, Multiversidade), a experiência vai para um outro nível. O enredo apesar de simples apresenta uma complexidade emocional surpreendente, não apenas pelos animais, mas também em relação aos humanos, e dar para os bichos o poder da fala é um instrumento narrativo extremamente desconcertante em muitos momentos, transmitindo emoções que você não iria sentir se os mesmos não falassem, dando um crescendo inacreditável na história.

Mas o que realmente vale citar é a arte de Frank Quitely (JLA: Terra 2, Multiversidade, Grandes Astros: Superman, Flex Metallo) e sua parceria na composição do enredo da história com o Morrison, que produz uma narrativa visual surpreendente e inovadora em diversos patamares, transmitindo emoções difíceis de se desvencilhar depois da leitura. Para ter ideia de quão inovadora é, eles produziram diversas artes de páginas duplas contendo cenas em 3D, que são de deixar qualquer um bestificado. Parte do encadernado, tem a história contada por meio de câmeras de segurança, passando uma sensação claustrofóbica que é totalmente desfeita pela arte de página dupla arrebatadora dos animais escapando do complexo nas páginas finais.

Apesar de ser uma das melhores HQs do autor britânico, pode ser uma leitura um pouco incômoda para leitores novatos no mundo dos quadrinhos, justamente pela narrativa estar mais presente na interpretação dos quadros do que nos diálogos, apesar de ser facilmente entendida. A arte visceral também contém diversas cenas de desmembramento humano impactando bastante o leitor e contrabalanceando o lado emocional da história, totalmente desaconselhável para menores de 18 anos, ou para pessoas que não gostam de ver imagens deste gênero. O encadernado relançado pela Panini, contém o arco fechado e mais alguns extras dos autores, infelizmente caiu na onda dos preços absurdos por parte da editora, mas em alguns sites é possível encontrar com um promoção razoável, mas com toda a certeza, é uma obra memorável que merece estar na estante de qualquer colecionador.