Logo no início da projeção de “Um lugar silencioso”, novo filme do diretor John Krasinski (que também interpreta um dos personagens principais da trama) já é exposto de maneira clara o tom que o título vai manter durante os seus noventa e cinco minutos de duração.
Existe uma série de valores que são fundamentais para a convivência humana, talvez por isso a maioria dos filmes de terror buscam em sua linha narrativa a degradação de algo capaz de afetar a vida dos personagens de um jeito que a empatia do público seja instantânea. Isso pode ocorrer através de grandes assassinos, espíritos e até mesmo se aproveitando da opressão, que nesse caso é imposta do modo mais cruel possível: exigindo silêncio.
A história da sociedade é repleta de momentos em que grandes ditaduras calaram a voz da população e isso acontece até hoje. Em regimes totalitários é comum a perseguição contra aqueles que expressam sua opinião de forma contundente, causando assim um movimento de repressão. Fazendo esse paralelo, conseguimos compreender melhor essa grata surpresa que chegou nos cinemas brasileiros no último dia 5 de Abril.
Em uma obra repleta de planos detalhes e sustentada por uma trilha sonora sensível, Krasinski apresenta a história de uma família refugiada em um mundo pós-apocalíptico em que as pessoas são proibidas de fazer qualquer tipo de barulho. Com essa premissa simples, o processo de construção do roteiro consegue estimular um sentimento de tensão gradual no espectador, tudo isso se utilizando das particularidades de cada ambiente retratado em tela.
Outros fatores que merecem destaque nessa proposta ousada é a direção de arte precisa – que consegue transmitir todas as artimanhas utilizadas para abafar os sons dos objetos dentro da casa e no meio exterior – e principalmente as atuações bem executadas do elenco mirim e de uma inspirada Emily Bunt.
Sobra para a criatura responsável por essa onda de destruição e coibição, o papel de fiscalizar os sons emitidos em todo o planeta e assim como na vida real punir quem desobedecer ou atrapalhar a ordem, mostrando que a voz é um instrumento de guerra que merece atenção.
Ao cinéfilo acostumado com sustos e pulos na poltrona enquanto acompanha algo desse gênero, esses artifícios também estão presentes em “Um lugar silencioso”, porém o que vai assustar e ecoar com grandiosidade, definitivamente é o silêncio.