Em 2022 o anime de Naruto completa 20 desde sua primeira exibição, no Japão. Desde então a obra tem conquistado uma legião de fãs no mundo todo. Hoje vamos citar alguns dos motivos que explicam esse verdadeiro fenômeno da cultura pop mundial.
Um dos principais méritos da obra é trazer uma história coesa e bem amarrada que, além disso, tem uma evolução coerente e crível. Em Naruto as coisas não acontecem por milagre, existem processos, treinamentos, estudos, jornadas. Não há caminho fácil e mágico nem para a aquisição de novas técnicas nem para aumento de poder.
Os arcos que incluem treinamentos e estudos estão entre os mais divertidos e interessantes da série. Durante essas passagens o desenvolvimento e a lógica das técnicas é explicada de forma científica (dentro da lógica interna do mundo criado por Kishimoto).
Dentro dessa lógica de desenvolvimento contínuo, linear e coerente, cada evento conta. O investimento emocional fica fácil de se fazer, não apenas nos grandes eventos, mas também nos acontecimentos menores, corriqueiros.
Uma das grandes capacidades que a obra tem é de conseguir, de forma competente, aprofundar a história de praticamente todos os personagens principais, secundários e também de seus clãs – o que confere uma noção de profundidade histórica muito consistente ao lore de Naruto, e uma sensação de que tudo tem uma origem e um porquê.
Embora o famoso “jutsu de conversa” do Naruto às vezes soe milagroso demais, o espírito, ao mesmo tempo bondoso e generoso, mas também imprudente e debochado do protagonista dá o tom da saga e traz a atmosfera geral para esse lado.
Podemos ver em Naruto (clássico e Shippuuden) um equilíbrio quase sempre perfeito entre as emoções: humor, tensão, medo, tristeza, alegria, etc. Essas características, mescladas ao sentimento de pertencimento dos habitantes por suas vilas, tornam fácil nossa tarefa de sentir a ligação e o companheirismo entre os personagens.
Um ponto que me agrada particularmente é a dosagem sensata da noção de “mais e maior”, os saltos de poder acontecem dentro de um limite que faz sentido. A escalada das forças dos personagens é aumentada e distribuída gradativamente até o ápice que acontece no final da Quarta Grande Guerra Ninja.
A construção dos vilões – em geral, personagens que têm motivações compreensíveis, um lado humano e um passado que enriquece suas histórias – faz com que os combates ganhem mais peso emocional, tornando cada luta um evento.
O arco da perseguição dos agentes da Folha (e às vezes dá Areia) aos membros da Akatsuki é cheio desses combates complexos e cheios de estratégia, estratégia que, muitas vezes, permitia que personagens mais fracos em poder e força bruta derrotassem oponentes muito mais poderosos, tudo isso com inteligência e planos adequados.
Conforme a trama se desenrola, eventos acontecidos lá no início voltam a ter importância ou têm sua importância revelada (o que faz com que nenhum momento, à exceção dos fillers, tenha sido em vão) construindo conexões detalhadas entre personagens, regiões, clãs e batalhas.
A Quarta Guerra Ninja (menos aquelas cenas em 3D, aquilo ali é muito zoado), traz um novo nível de emoção e mata nossa curiosidade sobre os guerreiros do passado, trazendo os grandes heróis e vilões de outros tempos através do jutsu Edo Tensei.
O recurso do jutsu de reencarnação nos permite, além de conhecer os personagens, medir as forças dos grandes ninjas do passado com as forças dos grandes ninjas do presente.
O arco final, que antecede o combate contra Kaguya – a deusa do chakra –, nos trás a presença de Madara Uchiha, um dos melhores vilões da história dos animes que, não só pelo poder, mas também pela postura se torna um dos ícones da obra.
Nesse arco vemos a maior escalada de poder de toda a série, chegando a um nível de destruição capaz de alterar toda a geografia de nações inteiras. Também somos apresentados à emocionante história de Madara e Hashirama, os dois ninjas mais poderosos que já existiram (sem hack, né? Porque Naruto e Sasuke têm hack).
Naruto, no que se trata de roteiro, construção de personagens e até mesmo trilha sonora, se coloca não só como uma das grandes obras entre os animes, mas entre as grandes obras do audiovisual (uma vez que é um erro considerar animações um gênero de arte menor).
Embora Boruto tenha tomado um caminho bastante diferente, entrando de cabeça no lado “Dragon Ball” da força, com níveis de poder absurdos e batalhas com muita explosão e pouca estratégia (Nada contra Dragon Ball, mas são estilos diferentes), Naruto Clássico e Naruto Shippuden ainda mantém o mundo de Kishimoto entre as grandes obras do gênero e para além do gênero, mesmo após 20 longos anos.