Nos jogos, o gênero RPG entra em um dos mais populares do mercado. Entre os mais famosos temos exemplos como Skyrim que nos dão a possibilidade de explorar um mundo fantástico. Também há outros casos como Mass Effect onde exploramos o universo ao lado de fiéis companheiros ou The Witcher com um profundo e detalhado enredo.
Contudo conforme a evolução do RPG dos games tivemos uma certa difusão do que se trata o gênero. Um jogo com uma simples árvore de habilidades ou diferentes equipamentos já pode entrar nessa lista mas a real essência do conceito de RPG desapareceu aos poucos. O princípio surgiu é claro com Dungeons e Dragons um jogo de mesa onde você interpreta personagens e depende dos dados para fazer seus movimentos. E alguns jogos ainda tentam trazer isso de volta com alguns detalhes, mas nunca trazem a real imersão de um RPG, e é aqui onde Disco Elysium brilha acima de todos.
Criado por Robert Kurvitz pela desenvolvedora ZA/UM, Disco Elysium se passa na cidade fictícia de Revachol do bairro costeiro de Martinaise. No jogo acordamos sem saber basicamente nada sobre quem somos ou onde estamos até encontrarmos o policial e seu companheiro Kim Kitsugari. Ele revela para você que agora é seu parceiro, que você é um policial e que está investigando um assassinato que pode ocasionar em uma guerra civil no bairro fora outras conspirações.
E esse pequeno resumo talvez faça você pensar que sejam spoilers, contudo isso é apenas os primeiros minutos do jogo. O jogo indie traz uma clichê ferramenta narrativa que é a perda de memória para nos guiar nesse mundo, mas isso se encaixa na narrativa do jogo. Um dos principais propósitos da trama se trata sobre descobrir quem você decide ser nesse caótico mundo, um policial bruto, chato ou até mesmo famoso. Sendo a premissa principal do jogo isso eleva o nível do RPG em si, não fazendo você escolher quem seu personagem vai ser pelo visual, mas sim por suas decisões.
Se tratando de um RPG também temos uma árvore de habilidades que é gigantesca. No início do jogo decidimos qual será nossa habilidade primordial digamos assim e nosso principal foco. E também há uma gama diversa de opções, desde habilidade para combate, persuasão e sentidos aguçados, mas a complexidade passa disso. Cada situação dentro do jogo é resolvido através de uma rolagem aleatória de dois dados de seis lados que são somados com os modificadores que são suas habilidades. Se você quer abrir uma porta com dificuldade 14 e na rolagem de dados você tira 6 tendo 4 de força, o resultado é 10 então você falha.
Não há um certo ou errado ao montar seu personagem em Disco Elysium, o que existe são as situações que você tem que lidar e como você lida com elas. Sempre temos a ideia de que um mapa gigantesco é a real liberdade dos RPG, mas nada adianta ter um mundo para explorar sem a liberdade para faze-lo da sua maneira. Como Red Dead Redemption 2, somos guiados indiretamente em escolhas para tornar você um policial melhor e conforme avançamos no jogo descobrindo nosso passado, vemos um outro lado nosso.
A narrativa de Disco Elysium não é somente fluída mas magistral na maneira como ela nos leva nessa história. O personagem houve em sua mente vozes que representam cada uma das suas habilidades e isso nos faz questionar nossas próprias escolhas. Cada personagem dentro do jogo serve para um propósito específico, seja para uma missão secundária ou principal, e com uma pequena quantidade deles, o foco para detalhes é muito maior. E por mais que tenha uma quantidade grande de textos e detalhes em volta do mundo, a curiosidade por conhecer ele te faz seguir fluidamente essa história.
E não é somente na narrativa que o jogo brilha, sua estética única o faz se destacar sendo único na sua maneira. Com um design estilizado o jogo se entrega totalmente a ele nos fazendo viajar por esse mundo em destroços com uma pitada psicodélica. E para um jogo com visão isométrica ele possui uma duração relativamente grande caso vá explorar outros detalhes do mapa, fora o fato de ter uma enorme quantidade de diálogos para se explorar.
Talvez no final nós não estamos jogando um RPG, mas basicamente um livro sobre um mistério que precisa ser descoberto. Vencendo diversos prêmios como o Game Awards, Disco Elysium brilha pelo seu resultado total e dedicação para preencher cada detalhe de seu universo. Temos histórias sobre como funciona o sistema de governo desse mundo, outros países e criaturas mitológicas, e no final todas as suas decisões afetam como você termina o jogo. Um RPG talvez não seja sobre mapas gigantescos, equipamentos e entre outros que os complementam mas sobre escolhas e as aleatoriedades de um destino sombrio.