Vitória é um filme que estreou recentemente nos cinemas brasileiros com a direção de Andrucha Waddington e como protagonista a atriz Fernanda Montenegro. Baseado no caso real de Joana Zeferino da Paz que foi uma idosa responsável por registrar diversas atividades criminosas da sua janela que ficava na Ladeira dos Tabajaras, uma comunidade em Copacabana no Rio de Janeiro.
Baseado no livro de nome “Dona Vitória Joana da Paz: A heroína por trás da câmera que mudou a história de um bairro e marcou o país” escrito por Fábio Gusmão. Fábio foi o jornalista responsável por documentar o caso, temos aqui uma adaptação que retrata não somente a criminalidade, mas a solidão na velhice.
Os dilemas da Ladeira dos Tabajaras
Quando olhamos para o cotidiano da vida de Nina, vemos sua rotina, sua forma de lidar com a criminalidade que a cerca e em como ela busca resolver isso. Sua indignação sendo transmitida pela belíssima atuação da Fernanda Montenegro entrega algo palpável até para os mais críticos a filmes do gênero.
E isso também está no dilema de uma idosa em uma sociedade que o tempo todo trata ela como uma criança perdida, sem propósito. O que entra em contraste com um personagem de apoio interpretado pelo jovem Thawan Lucas. Através dele vemos como a infância é perdida devido ao crime, e em como isso afeta ainda mais a opinião de Nina sobre tudo que está acontecendo.
Já o Fábio, interpretado por Alan Rocha, se torna uma figura “adotada” pela personagem Nina que vê nele talvez uma saída de tudo que está acontecendo. E em paralelo temos a personagem interpretada pela Linn da Quebrada que cria esse laço de amizade e conexão com Nina. Isso nos mostra como a personagem acolhe e se sente acolhida por aqueles que também sofrem com a situação que passam.
Todos os personagens orbitam a protagonista e servem ao propósito da trama de entender e buscar solucionar o problema da Ladeira dos Tabajaras. Só que é nesse momento que enfrentamos o seguinte dilema: E se não existir uma solução?
Existe uma Vitória de fato para tudo isso?
Talvez o ponto principal da história se encontre na forma como acompanhamos uma personagem mais mundana. Uma história dela tentando resolver um problema de níveis gigantescos, envolvendo não somente pessoas da periferia, mas também da polícia e políticos. E o confronto não se dá de uma maneira poética,. Ela nos é apresentada de maneira crua e realista que mesmo mostrando os esforços que tem resultado, ainda assim não vêm sem sacrifício.
O retrato é realista, mas ao mesmo tempo nos traz uma história sobre alguém que mesmo com as maiores limitações que poderia ter, ainda tentou fazer a diferença. A mensagem que o filme deixa não é para algo triste, mas para pensarmos sobre o que podemos fazer a partir daquilo que temos.
Um ponto que vale destacar é que somente ano passado foi revelado a foto de Nina. Após as denúncias, ela precisou mudar seu nome na vida real para não descobrirem a responsável pelas denúncias. Foi revelado que ela era uma mulher negra.
Apesar da atuação magistral de Fernanda Montenegro, é possível ver em alguns momentos do filme a diferença que seria ter uma senhora negra ali. Esse ponto não tira méritos do filme, mas traz uma perspectiva diferente.