Thunderbolts* é o típico projeto da Marvel Studios que você olha de longe e pensa: “Meu deus, que coisa feia é essa”. Ele tem personagens reciclados de projetos anteriores, todos coadjuvantes e que não possuem a mesma fama de outros grandes nomes que já vimos em projetos anteriores. Com exceção de Yelena (Florence Pugh) e do Bucky (Sebastian Stan), todo o resto poderia facilmente ser categorizado como personagens B.
Contudo ao chegar mais perto, é como conhecer aquele cachorrinho que apesar da beleza “peculiar”, ele é fofo, carinhoso e tem um carisma único. Esse é o caso de Thunderbolts e por mais estranho que a analogia pareça, ela faz sentido no contexto dessa crítica.
No filme, acompanhamos Yelena lidando com sua solidão e falta de propósito enquanto trabalha para Valentina (Jullia Louis-Dreyfus). Ao realizar uma última missão para tentar seguir um novo objetivo na vida, ela percebe que caiu em uma armadilha onde se reencontra com o Agente Americano (Wyatt Russell), Fantasma (Hannah John-Kamen) e o misterioso Bob (Lewis Pullman). Agora eles precisarão se unir para enfrentar uma ameaça misteriosa ao lado do Soldado Invernal e o Guardião Vermelho (David Harbour).
As peças quebradas de Thunderbolts
E de antemão, o principal mérito desse filme está nos personagens. Somos reintroduzidos a esses personagens onde cada um se encontra em uma situação diferente. Todos enfrentando dilemas emocionais e entre os principais estão a solidão e falta de propósito.
Vale ressaltar o protagonismo da personagem de Florence Pugh onde todo o filme e a trama se desenvolve por conta da personagem. Uma função que funciona devido ao carisma da atriz e também pela carga emocional da personagem. Nossa conexão entretanto não se dá somente ao carisma, mas também aos traumas apresentados.
Os traumas desenvolvidos no filme não são sobre um herói que não conseguiu impedir uma invasão alienígena ou não conseguiu proteger o legado ancestral de uma família, são traumas próximos à nós. Desde a a distância da família, até a falta de propósito ou de se sentir bem consigo mesmo. Esses dilemas que enfrentamos no dia a dia são transpostos nesses personagens.
E quando eles interagem entre si, nós vemos como nenhum deles consegue lidar com outro ser humano. Relações quebradas e fragmentadas de personagens que tentam ser algo diferente somente para esconder seus traumas. O que reflete no principal personagem do filme, Bob… ou melhor dizendo, SENTINELA.
O herói de muitas faces, Sentinela
O Sentinela é um personagem um tanto quanto complexo. Dentro dos próprios quadrinhos, é possível contar no dedo às vezes que ele apareceu e teve algum destaque. Isso acontece devido aos seus poderes complexos e que tornam ele uma peça poderosa, a torna também complicada de se manter em equipes. Já em suas HQs solos, tivemos alguns grandes autores como o Jeff Lemire que conseguiu trabalhar essa dualidade do herói.
Já em Thunderbolts nós temos uma versão que conseguiu me surpreender ao trazer uma adaptação fiel e também que consegue centralizar através dele todos os dilemas do filme. Um personagem que sente não possuir propósito e enfrentar a si mesmo o tempo todo. Questões essas apresentadas através de um dilema: O que fazer quando você se sente vazio?
O filme possui muitos pontos altos, um enredo coeso e personagens cativantes. Entretanto há um ponto que vale ser lembrado. Quando o nível de qualidade é o chão, qualquer 2 pontos vale.
A fórmula dos fracassados
O James Gunn pode ser considerado o precursor dos “Heróis Fracassados” nessa era de filmes de heróis. Trazendo os Guardiões da Galáxia, um grupo B da Marvel Comics para as telas e criando a possivelmente maior trilogia da Marvel Studios.
A comparação é inevitável aqui em Thunderbolts, e até mesmo injusta, afinal de contas os personagens possuem nuances diferentes. Contudo é inegável as referências a fórmula que já havíamos conhecido antes, e muito dos elogios a esse filme se dão pelo fato da fase atual da Marvel. Não temos um parâmetro recente bom de qualidade, e um dos poucos é Guardiões da Galáxia 3.
Mesmo com uma boa qualidade, ainda é possível ver certos vícios narrativos da Marvel Studios como a promessa de “algo novo por vir” ou a falta de coragem em certos momentos, onde mesmo com esse filme sendo o mais ousado da nova fase da Marvel, é possível ver que ela pisou no freio em alguns momentos.
No final, temos um saldo positivo, onde vemos personagens sendo aproveitados de novas maneiras, mas temos que lembrar que no final a Marvel ainda lida com os mesmos dilemas que lidava anteriormente.



