Dirigido por João Fonseca em sua estreia no cinema, o longa é uma adaptação da peça teatral Non Si Paga! Non Si Paga! de 1974 do italiano Dario Fo.

Comédia brasileira critica o cenário atual do abuso de preços.
Na trama somos apresentados ao cotidiano difícil de Antônia, interpretada pela ótima Samantha Schmütz em mais uma boa atuação. Desempregada e já passando dificuldades, ela é surpreendida pelo aumento dos preços no mercado do bairro, e fica em uma situação ainda pior quando tenta comprar fiado e é barrada pelo novo dono do local.
Revoltada com a situação ela cria uma verdadeira manifestação dentro do mercado contra o abuso dos preços. E no meio do caos todos os clientes decidem saquear o mercado, levando todas as suas compras sem pagar nada.
Tentando esconder o ato do marido (interpretado pelo divertido Edmilson Filho) e contando com a ajuda da melhor amiga Margarida (personagem de Flavia Reis), ela se vê envolvida em várias situações desconcertantes ao longo daquele dia, quando a polícia passa a investigar a situação no bairro.

Samantha Schmütz em cena do longa.
Eu gostei muito das ácidas críticas que o roteiro faz o tempo todo. Em um Brasil onde o abuso dos preços está cada vez mais presente em nosso cotidiano, e grande parte da população vive com um salário mínimo que não passa de mil reais, ver essa realidade escancarada na cara da sociedade é sempre um bom alerta.
Há muitas cenas absurdas, mas acredito que essa seja a real intenção da produção. O humor negro está muito presente, e ele brinca com a situação real o tempo todo, criticando governo, população e até autoridades sempre que pode.
A realidade é que o arroz e feijão estão absurdamente caros, e sem emprego para grande parte da população, como as pessoas irão se sustentar? É um ponto pesado e importante a ser abordado, mesmo que seja em forma de comédia.
E “Não Vamos Pagar Nada” parodia a nossa realidade de forma divertida e convincente, que com certeza te arrancará algumas risadas ao longo de sua exibição, mesmo que apesar dos absurdos nem todas as cenas sejam engraçadas.
O primeiro ato é de fato o melhor, onde você consegue se identificar com várias situações que presencia no Brasil. A forma como a classe baixa é retratada, e a dificuldade em se sobreviver em uma desigualdade tão gritante é notável.
O segundo e terceiro atos são realmente mais fracos, e o final é um tanto abrupto e destoa do objetivo inicial em minha opinião. Alguns diálogos são bacanas mas outros são bem descartáveis, e a diversão lá da primeira metade do filme se perde um pouco da metade pro final.
Mas ainda assim o resultado é mais positivo do que negativo. Com uma produção bem casual, que remete ao cotidiano do brasileiro, o filme prende e diverte durante sua 1h25 de exibição, e vale a conferida pra ver nossa raiva causada pela desigualdade expressa em tela.
O elenco ainda conta com Fernando Caruso, Flavio Bauraqui, Paulinho Serra, Leandro Soares e participação especial de Criolo. Todos em atuações bacanas. O longa é mais uma produção do grupo Globo Filmes.
O filme se encontra em exibição no canal Telecine desde o dia 15/10, após poucas semanas em cartaz nos cinemas, devido á pandemia e ás poucas salas de exibição abertas. Corre para o Telecine para conferir esta comédia repleta de críticas com uma metalinguagem fácil e atual.

Filme se encontra em exibição no Telecine.