A campanha de marketing do filme Longlegs foi uma das mais criativas que pude ver recentemente. No vídeo de divulgação do filme, eles colocaram um medidor de batimentos na atriz principal do filme Maika Monroe (Lee Harker) que ao ver pela primeira vez o serial killer Longlegs interpretado pelo Nicolas Cage, quase infartou (não literalmente obviamente).
Logo após o início das divulgações do filme, o burburinho na internet começou e criou-se uma ideia em volta do projeto de que ele seria o grande terror de 2024. Nele, acompanhamos a investigadora do FBI, Lee Harker que é convidada para reabrir um antigo caso de serial killer envolvendo o Longlegs. Devido à um suposto “poder premonitório”, eles confiam o caso a ela que acaba chegando em revelações sobre seu passado.
E já digo de antemão: NÃO É O MELHOR FILME DE TERROR DO ANO!
Isso o torna ruim? NÃO! A realidade é que existe um conflito muito grande entre expectativa e realidade quando falamos sobre o atual gênero de terror, que acaba ocasionando certas contradições. E isso tem um motivo que irei me aprofundar nessa crítica.
O ponto alto do Perna Longa
Só que antes de falar sobre esse ponto, devo ressaltar a direção do Oz Perkins juntamente com a fotografia feita por Andres Arochi. A protagonista que acompanhamos possui uma grande limitação social para interagir com outras pessoas, ao mesmo tempo que se sente perseguida pela ameaça do assassino. E a forma como isso é visualmente traduzido é um dos pontos altos do filme.
Desde cenas filmadas a distância mostrando a solidão da personagem, ou situações onde podemos ver como ela percebe o mundo à sua volta. E isso também vêm em grande mérito ao diretor de fotografia que se utiliza de cores com contrastes muito fortes para criar a ambientação do filme. A ambientação de Longlegs me lembrou em muitos aspectos o videogame “Alan Wake”, onde mostra o interior dos Estados Unidos a partir de um ponto de vista intimista, mas com nuances “estranhas” por assim dizer.
A edição também fomenta o caminho que a narrativa toma, ao criar algo não linear, mas que ainda é palpável e compreensível. Conforme o progresso da história acontece, vemos como a edição se altera e se torna mais caótica ao chegarmos no clímax da história, que de clímax só tem o nome.
O ponto baixo do Perna Longa
Tal qual um avião caindo em cima de você há 200 km/hora, é visível o plot de Longlegs. Não há uma real surpresa, e se existe, devo confessar que sua imersão no filme foi maior do que o diretor pensava que seria. No personagem do Nicolas Cage se encontrar todo o terror que sentimos no filme, só que ao mesmo tempo ele sempre aparenta estar em segundo plano, como uma força invisível.
O que é coerente dado ao final da história, só que acaba criando uma atmosfera difícil de ser assistida devido à sua lentidão. Tudo que existe ali possui um propósito narrativo, só que ao mesmo tempo não possui um propósito para a audiência, e isso cria uma experiência travada em si mesma.
Só que mesmo apesar de tudo isso, eu consegui aproveitar o filme, me assustar e ficar aterrorizado pela atuação do Nicolas Cage, que foi uma grata surpresa. E olhando para a reação do público, eles se sentiram decepcionados, mas porque? Eu falo: A FEBRE DO TRUE CRIME.
O terror mudou e com isso suas expectativas
O cenário True Crime teve um grande crescimento nos últimos anos. Um gênero com foco em contar histórias reais sobre crimes e também abordar histórias cruéis da nossa história. O formato de narrativa cresceu através de filmes, documentários, podcast e entre outras mídias. Com isso, a visão de histórias sobre serial killers mudou.
E o que isso tem haver com o filme?
Ao acompanhar uma história que possui um apelo tão próximo da realidade, fugir desse aspecto para algo que questiona a própria realidade em prol de uma história sobrenatural, cria estranheza para esse público. Um público que espera aqui, um terror que existe em nossa realidade e não além dela.
Longlegs é um bom filme de terror, não o melhor. O problema surgiu quando suas expectativas superaram o que seria de fato a história do filme, acreditando que o seu plot agradaria todos os públicos. E no final das contas a gente precisa aprender a lição que Lost nos ensinou. O mistério às vezes é melhor que o final.