“Não quero ver um filme solo do Han Solo”. Era este o consenso nas redes sociais, quando a Disney anunciou a produção do segundo spin-off da maior franquia da história do cinema. Mas a ideia da atual detentora da Lucas Film é colocar em cartaz ao menos um filme de Star Wars por ano e, para não esgotar a franquia principal, a tendência é que vejamos, mesmo, uma série de “histórias Star Wars” que preencham lacunas ou que contem histórias curiosas dentro do universo criado por George Lucas no final da década de 1970.
Solo (sim, é este o nome do filme no resto do mundo) é algo que poderíamos chamas de “western interestelar” e segue a fórmula Star Wars à risca, para não decepcionar o mais ferrenho fã da saga. Easter eggs estão distribuídos por todo o burocrático roteiro, escrito à mais quadrada forma do paradigma Syd Field (estudantes de cinema entenderão), seja em diálogos, seja em elementos de imagem, escondidos em cenários e deleitam o mais distraído dos fãs, também!
Quando escolheram o até então semidesconhecido Alden Ehrenheich para interpretar o canastrão fora-da-lei intergalático, perguntaram se ele seria capaz de emular Harrison Ford e, mesmo, se ele sustentaria o protagonismo de um filme deste tamanho e o resultado é surpreendente. Claro que Ehrenheich não é Ford, mas o novato sequer tentou imitar o predecessor. Solo, em seu filme solo (não canso deste trocadilho, que está no roteiro, inclusive), não é tão canastrão quanto em Star Wars e tem uma boa dose de carisma adicionada, talvez sob desculpa do tempero da juventude. Mas o fato é que o filme se escora nos talentos de Woody Harrelson (Beckett) e Donald Glover (um fantástico Lando), que carregam a narrativa até o fim, deixando os espectadores com largos sorrisos no rosto. O ponto negativo fica para a atuação sem sal de Emilia Clarke (Qi’ra), que só prova que a pessoa tem que ser mais do que absolutamente linda para entregar uma atiuação decente.
Mas o filme é muito mais do que boas atuações. Com a melhor fotografia já feita em um filme da franquia, sem aquela luz “prime time”, mais escuro, mas sem ser tão sombrio e num filme com toda a já conhecida “cara” de Star Wars, o diretor Ron Howard entrega boas cenas de ação, empolgantes e com uma montagem rítmica gostosa, sem o frenetismo dos filmes recentes, quase que com um romantismo dos bons tempos de western macarrônico com Clint Eastwood. A sequência inicial com “derrapagens” de caros flutuantes e o assalto ao trem são dignas John Ford. A escolha de planos é perfeita e a construção da personalidade de cada personagem e da química Solo-Chewie-Millenium Falcon é acompanhada pela construção, durante a orquestração da trilha musical, passo a passo das frases clássicas do trio contrabandista. Digo trio, porque o filme, inclusive, justifica a presença orgânica da nave no bando de foras-da-lei. É tão lindo ver isso acontecendo, que um fã mais assíduo pode derramar uma lágrima quando Chewie finalmente senta ao lado de Solo e ambos começam o balé de pilotagem ao som do clásico leit motiv.