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Crítica: Enola Holmes 2 | Uma divertida aventura que tenta ir além disso

Enola Holmes é uma personagem que permanecia no oculto do universo de Sherlock Holmes. Tendo sido criada pela autora Nancy Springer, temos uma personagem juvenil da qual possui aventuras simplistas, mas que tentam elaborar temas mais tensos sobre a sociedade e seu tempo. No primeiro filme, recebemos uma grata surpresa com o elenco, a própria personagem e uma trama, que apesar de simples, funcionava. Agora na sequência temos mais uma aventura, que busca se provar como algo de valor, mas através disso vemos as suas falhas.

Na sequência acompanhamos Enola (Millie Bobby Brown) logo após abrir a sua agência de investigação. Sua iniciativa não vai muito bem, até o momento que uma criança surge em busca da sua irmã desaparecida. Vemos a personagem entrar em uma espiral de conspirações das quais possuem conexões diretas com um caso de Sherlock (Henry Cavill).

Enola Holmes e Sherlock enfrentando alguns problemas.

Tal qual o primeiro filme, vemos aqui uma trama simples e que cria uma estrutura firme para os personagens. O mistério, acaba não sendo tão elaborado, mas entrega o suficiente para ser criado um suspense. E com um suspense simples, o foco fica para os personagens e suas interações nesse mundo. O plano de fundo envolvendo o trabalho das garotas com fósforos, e uma ascensão do poder feminino e das trabalhadoras, gera um debate interessante e palpável mesmo para a época do filme.

E esse plano de fundo funciona até determinado ponto. É dado uma determinada importância para ele justamente para trazer “algo há mais”, mas acaba não sendo isso. Por mais que eu me interessasse pelos problemas que eram apresentados, não tinham impacto direto na narrativa, funcionando como um enredo paralelo. O desenvolvimento possui conexões com o mistério, mas acaba sendo menosprezado pela sua própria relação.

Os personagens acabam se destacando em meio a trama, onde vemos uma conexão maior entre Enola e Sherlock. A química entre dois personagens egoístas com seus desejos se torna um ponto alto do enredo. Os dois crescem conforme a história se desenvolve, e constrói não somente suas relações, mas as dos personagens secundários também. Tewkesbury (Louis Partridge) entrega uma caricatura cômica e funcional para o tom do filme, e Eudoria Holmes (Helena Bonham Carter) brilha em seus poucos minutos de filme.

Temos aqui uma história que se preocupa com sua intensidade, mas sabe relaxar nos momentos cômicos e criar uma narrativa acessível para todas as idades. Com carisma e motivações, os personagens se tornam o principal ponto do filme e nos permite ficar interessados pelo mistério que buscamos solucionar.

E aqui Harry Bradbeer não foge do habitual em sua direção. Ela é ocasional, mas devido a isso temos um problema que surge das sombras. Buscando criar cenas de ação mais impactantes que seu antecessor, o filme não consegue criar um ritmo sustentável. Até mesmo o ápice final é rasamente dirigido, sem uma coerência em sua montagem e com claros problemas no que deveria ser realmente feito ali. Ao focar no mistério ou em diálogos, temos algo que consegue até mesmo se elevar em certos momentos, mas não em sua ação.

E assim como a direção, o roteiro de Jack Thorne não consegue encontrar um equilíbrio entre os momentos mais dramáticos, e os cômicos. Sua leveza é um ponto alto, mas que não consegue se equilibrar com a tensão construída em alguns momentos. O próprio Sherlock surge como um personagem de apoio para Enola, mas que cria uma sombra para a trama onde temos interesse pela sua aventura e não pela a da protagonista.

Dentre os seus problemas, ainda há um mérito para a Direção de Arte feita por Michael Carlin. Desde as montagens mais elaboradas, até o próprio figurino, há aqui um mundo bem construído. Existe ali uma identidade coesa com a proposta do enredo, e que gera um interessante contraste entre seus personagens.

Enola Holmes 2 consegue expandir o seu universo, e cria também uma abertura para um terceiro filme. O problema se encontra no fato de ainda não existir um equilíbrio entre o que ele busca ser, e o que de fato é. Tendo um final que passa uma mensagem interessante da época e também dos tempos atuais, ainda temos uma aventura divertida sobre uma detetive que ainda está tentando se encontrar nesse mundo.