Você já ficou com a sensação de “eu já li isso aqui antes” depois de terminar uma HQ?
Pois é assim que me senti quando coloquei Sociedade da Justiça: A Era de Ouro na minha (humilde) estante.
Sentei um pouco para matutar sobre a obra, e percebi que era um dos clássicos mais subestimados da DC. Sim, clássico. É uma leitura que todo fã de quadrinhos, e principalmente de Watchmen deveria apreciar. A obra máxima de Alan Moore não poderia ficar de fora, afinal, SJA serviria como um belo prólogo para a história.
Era de Ouro, escrita por James Robinson e desenhada por Paul Smith, é perfeita em todos os aspectos: roteiro, desenhos, história. Na trama, o leitor acompanha a vida dos já velhos heróis da saudosa Era de Ouro dos quadrinhos (1938-1956). Alan Scott, Jay Garrick, Starman, Sandman, Canário Negro, Gavião Negro. O time de colossos da Sociedade da Justiça estava dissolvido depois que a Segunda Guerra Mundial acabou. Os Estados Unidos não precisavam mais de ídolos, de alguém que os salvasse, alguém em quem pudessem se inspirar em tempos de medo e angústia. Estava tudo bem. Não havia mais nenhum líder ansiando pela dominação global. Quer dizer, pelo menos, em tese. O que restou para os heróis foi pedir a bença e picar a mula, já que não eram mais tão amados. E é aí que a genialidade começa.
Utilizando um recurso narrativo espetacular, que foi catapultado por Alan Moore em Watchmen, a desconstrução dos super-heróis, Robinson (maldito copiador!!!!) apresenta uma realidade deprimente sobre a vida dos heróis aposentados. Jonathan Law, o Tarântula, é um escritor que conseguiu emplacar apenas um livro bom no mercado, e sofre com falta de criatividade, que o leva ao alcoolismo. Teo Knight, o Starman, vive em constante depressão, se culpando pela criação da bomba atômica. Paul Kirk, o Caçador, tem pesadelos todas as noites, e sofre de amnésia. Todo herói tem um gostinho de problemas enfrentados comumente por nós, meros seres humanos mortais, expondo que eles são tão normais quanto nós. Eles são falhos, eles tem receios, eles são tão frágeis quanto eu ou você. Se só uma realidade triste não fosse o suficiente, tanto homens quanto super-heróis tem que se preocupar com a possível eleição de Tex Thompson, antigo Mr. América, para o Senado. Apesar de cativar a população, seus discursos são demasiadamente autoritários, ameaçando invadir países como União Soviética e China. Mais uma vez, Robinson é genial ao abordar como um fascista pode facilmente conquistar o povo, por mais que não pareça ser um.
Com debates sobre política, sociedade, e claro, com momento perfeitos de pancadaria, Sociedade da Justiça da América: A Era de Ouro, por mais que não seja tão conhecida dentro do mundo dos quadrinhos, é uma obra extremamente atual e ilustre. Os desenhos de Paul Smith ainda conseguem absorver completamente o clima do final dos anos 40 e início dos 50. Se a DC falasse que a história envolve os Minutemen e serve de prólogo de Watchmen, eu acreditaria. Mesmo não sendo muito longa (tem cerca de 200 páginas), a história consegue ser desenvolvida perfeitamente e finalizada de maneira pontual. E tem uma reviravolta que, meu amigo, você não perde por esperar. Eu consegui entender mais ou menos o que estava acontecendo porque eu já sou meio macaco velho dos quadrinhos. Mas fique esperto!
O que faltou para Era de Ouro se tornar mais emblemática? O nosso querido Alan Moore xingar muito na internet falando que a DC só sabe revirar o lixo dele.
Seria um sucesso de vendas…