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Crítica: A Forma da Água | Um belo filme sobre uma surreal história de amor

Um dos indicados ao Oscar, mostra que não está para brincadeira quando se trata de qualidade.

Ontem (23) foram divulgadas as indicações a 90ª edição do Oscar. Entre os indicados um em especial se destacou com nada menos que 13 indicações, isso entre categorias como Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Ator – e também Melhor Atriz – Coadjuvante, Melhor Direção e claro, Melhor Filme. O recordista de indicações deste ano, já muito citado em premiações anteriores se chama A Forma da Água, e é dirigido pelo já aclamado entre o cinema de gênero Guilherme Del Toro (O Labirinto do Fauno, Hellboy, Círculo de Fogo). Inclusive, o diretor já até celebrou o fato de seu filme e Corra! terem sido reconhecidos pela academia, já que não é todo ano que se vê filmes de gênero nas categorias mais importantes da premiação. Mas vamos direto ao ponto, A Forma da Água realmente mereceu todas estas indicações? Após saber de todo o sucesso que o filme fez na premiação me vi praticamente obrigado a ver a obra, e devo dizer que realmente não me decepcionou, e sim, creio que o filme mereceu todas as indicações que teve na premiação.

A trama do filme se passa em plena Guerra Fria, e gira em torno de uma zeladora muda, Elisa (Sally Hawkins) que trabalha em um centro de pesquisa do governo americano onde uma criatura que é mantida em cativeiro para estudos. Desta história derivam-se então tramas politicas, questões sobre a humanidade, preconceito e muito mais, mas todos estes temas servem apenas para desenvolver algo maior e mesmo que simples, difícil de definir, algo belo, como um romance, não um romance com coincidências infantis e textos clichês, aliás, nem sequer há texto já que o diretor opta por usar o que de melhor o cinema oferece, a imagem, as expressões, os detalhes. Não que o som fique esquecido, aliás esse é um grande ponto do filme, a trilha sonora que harmoniza perfeitamente com os outros pontos do filme. Inclusive, “harmonia” é um bom nome para definir o filme. Isso porque tudo é feito com um senso artístico muito apurado, direção, atuações, fotografia, trilha, nenhum dos quesitos se excede ou entrega pouco dentro do contexto do filme, por isso os poucos erros da produção (se é que ela tem) são difíceis de perceber já que tudo está em equilíbrio nele.

O diretor Guilherme Del Toro preparando o personagem de Doug Jones

A atriz Sally Hawkins em nenhum momento deixa a desejar ou deixa de brilhar por causa da “limitação” de sua personagem, aliás o cinema nunca foi e nunca será uma arte limitada que não possa apresentar diferentes tipos de pessoas. Logo nas primeiras cenas do filme você já começa a criar uma empatia pela personagem, o que apenas cresce durante todo o filme com destaque para as lindas cenas em que ela faz contato com a criatura interpretada com delicadeza por Doug Jones. Os coadjuvantes da obra também entregam ótimas atuações com destaque para os que foram indicados merecidamente ao Oscar, Octavia Spencer que interpreta a falante Zelda e Richard Jenkins no papel do carismático Giles. Não deixemos de citar também o antagonista do filme, Strickland, interpretado por Michael Shannon, que mesmo sendo a pedra no sapato da maioria dos personagens no filme não deixa de ser um personagem interessante já que cresce durante todo o filme, indo de ameaçador a praticamente insano, evitando então que se torne um vilão caricato. Isso acontece porque todos os personagens do filme são muito bem resolvidos, um mérito do roteiro muito bem feito, assim Strickland por mais cruel que seja não deixa de ser um tipico cidadão americano, assim como Giles que se vê envolvido em uma trama surreal de uma hora para outra, mas também não deixa de ser um homem americano procurando oportunidades de trabalho.

Outro mérito do roteiro é a escolha de mostrar o cruel apenas quando necessário, isso porque o filme podia explorar muito mais a crueldade do ser humano usando isso para despertar empatia pelo homem anfíbio, mas prefere em vez disso mostrar o belo em algo que aparentemente não é humano deixando a brutalidade apenas para a conclusão de sua história, e mesmo nesses momentos prezando pela beleza e naturalidade do casal formado por Eliza e pela criatura. Toda essa ideia é ainda reforçada pela fotografia e pela música (aliás, não é a toa que o filme também foi indicado nessas categorias) que ajudam a passar todo o sentimento que o roteiro pede com as cenas mais bonitas do filme sendo as mais simples e calmas com uma trilha que atende a demanda da trama. E além de ser um filme extremamente artístico, A Forma da Água ainda é um filme sobre arte já que durante grande parte do primeiro e do segundo ato do filme a trama é acompanhada por filmes, musicas e musicais que imergem o expectador na atmosfera do filme.

Definitivamente, A Forma da Água é merecedora de todas as suas indicações e é desde já uma grande obra do diretor Guilherme Del Toro que merece todo o reconhecimento que está recebendo. Agora é esperar o dia 4 de março para ver se o filme também irá quebrar recordes como vencedor na premiação.[rwp_box id=”0″]