Qualquer um que tenha mais de 30 anos, especialmente homens, se lembram de Lara Croft. Numa época em que gráficos de videogames não eram, lá, uma GRANDE e perfeita representação do real, a heroína do jogo Tomb Raider, que poderia, sim, ter uma leitura feminista, era, na visão da maioria, apenas uma versão interativa da “Mulher Nota Mil” (“Weird Science”, John Hughes, 1985), uma representação do que um macho frustrado mais queria em uma mulher do início dos anos 1990. Seios enormes e firmes, apontados para cima, glúteos avantajados e um corpo atlético em uma mulher que obedece a todos os seus comandos e não tem voz. ESTA Lara Croft já tinha sua versão levada ao cinema, com uma Angelina Jolie hipersexualizada e photoshopada em TODOS os pôsteres, que, supostamente, “arrancaram seus mamilos” (esta era a reclamação da época, bem me lembro, mas, hoje, penso: quantos mamilos vemos em mulheres vestidas no dia a dia?), para baixar a censura do filme para o famoso PG13.
Tempos que não voltam mais. Ainda bem. Não que os antigos jogos de Tomb Raider não fossem divertidos (recentemente baixei uma coletânea na Live do XBOX e me diverti horrores, por horas!), nem que os filmes com a Angelina Jolie (“Lara Croft: Tomb Raider”, Simon West, 2001) fossem um lixo completo, mas a “repaginada” que a Square Enix (mesma produtora do clássico de RPG Final Fantasy) deu na heroína “ladra de tumbas” não só era necessária, como a trouxe a um novo patamar. Não só o “novo corpo” de Lara se encaixou melhor em padrões modernos e mais realistas, como a atitude firme e forte da personagem, a profundidade de caráter e, mesmo suas “falhas” (teimosia, a principal) e “crenças” (ou a falta delas) a deram, além da tridimensionalidade de grandes personagens, a abrangência e possibilidade de atingir, também, o público feminino, se tornando mais um símbolo da força da mulher moderna.
E é isto o que o novo filme do norueguês Roar Uthaug tenta recriar nas telas. E, se Tomb Raider não é nenhum quebra-cabeças, pelo menos, é um filme redondo pra atrair e satisfazer os fãs da franquia de videogames. Uma Lara Croft cheia de questões morais, dilemas modernos e muita força para enfrentar os coadjuvantes e vilões, TODOS homens, no filme da Warner Brothers. Cheio de ação e acrobacias tensas, como no jogo, Tomb Raider, definitivamente, não é um filme praquelas pessoas que duvidam de tudo o que elas não conseguem executar. Lara Croft (a perfeita para o papel Alicia Vikander) tem ações em tela que dariam inveja ao James Bond de Pierce Brosnan e, em alguns momentos, lembra muito o Rambo, com testosterona (sim!!!) exalando de seus braços magros, que empunham um arco e vencem uma guerra contra metralhadoras.
O roteiro redondinho daria orgulho a Syd Field (pontos de virada contados no relógio!!!), uma bela direção de arte, apesar do CGI desapontar em alguns breves momentos, e uma fotografia natural até demais (faltou exagerar e dramatizar nas cenas da caverna, onde dava pra forçar um pouco mais as emoções, que ficaram um pouco falsas) e uma montagem com um ritmo agradável. No fim, apesar de algumas atuações fracas (especialmente a do pai e a do vilão) e o relacionamento fraco de Lara com seu marinheiro chinês, é um filme que diverte bastante e levanta algumas bandeiras, mas, claro, sem aprofundar demais e perder o clima de Sessão da Tarde.
Um bom filme, boa distração. Só que, mais uma vez, somos obrigados a assistir em 3D e pagar mais caro por algo que não faz sentido disso.
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