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Crítica: Maria do Caritó | Diverte, mas não empolga.

A adaptação da elogiada peça de Newton Moreno chega aos cinemas, mas apesar de ser muito engraçada, peca por não ser tão impactante quanto deveria ser.

 

A indústria cinematográfica brasileira possui obras excelentes em seu repertório, muitas com um grande louvor dos críticos. Mesmo assim, infelizmente, o público ainda possui certo preconceito com filmes nacionais. Apesar das comédia nacionais arrecadarem ainda uma boa bilheteria, outros gêneros ainda carecem de mais atenção por parte dos espectadores, que acabam perdendo ótimas produções, simplesmente por essa aversão. Maria do Caritó, não é um dos longas que derruba este pensamento, mesmo sendo uma comédia divertida, está longe de empolgar.

A história se passa em uma cidadezinha fictícia do interior, chamada de: Caritó, aonde vive Maria, a prometida a São Jaiminho, que jamais pôde ter qualquer relação com um homem. Mesmo com a sua idade avançada, ela ainda sonha com a companhia de alguém, a oportunidade aparece quando um circo chega em sua cidade, se apaixonando quase instantaneamente por um dos artistas, que por sua vez, utiliza a imagem da mesma para conseguir mais ingressos para o espetáculo.

O filme é uma adaptação de: As Centenárias & Maria do Caritó, uma peça de teatro de enorme sucesso e duração, dirigida pelo renomado: Newton Moreno (Ópera: e outros contos). Sua versão para os cinemas conta com: João Paulo Jabur, na direção, que em muitos momentos, se mostra um pouco equivocado na montagem, com interrupções, muitas vezes abruptas, de várias cenas, que evidentemente tinham muito mais a oferecer, perdendo muitas vezes o impacto que o momento traria, em detrimento de compactar o longa dentro de 94 minutos de duração.

Apesar disto, a opção por planos mais abertos, e um foco contemplativo na cidadezinha e seu arredores, são um deleite para os olhos. Mérito em grande parte, vai para a equipe criativa e artística do longa, que dá ao espectador uma ambientação espetacular do interior. A fotografia também é muito excelente, o trabalho com as cores fica evidente, seja no cenário, com as suas peças ou a iluminação, que sempre passa ao espectador os sentimentos dos personagens com uma maestria impressionante.

O roteiro explora toda a cultura que uma cidade do interior tem para oferecer, trabalhando com a fé, muitas vezes cega, desta população através de produtos milagrosos da Santa de Caritó, sua ingenuidade em acreditar em um político autoritário, que faz de tudo para se manter no poder. O longa carrega uma alta dosagem de crítica ao cenário atual de nosso país, aonde vemos cenas parecidas se estendendo por todo o território brasileiro, lamentavelmente.

A construção dos personagens é extremamente caricata, mas alicerçada na realidade, retratando relações abusivas, aceitação, traição, política e religião de forma bastante cômica, mas não menos reflexiva.

E já que estamos falando dos personagens, as atuações estão simplesmente espetaculares, Lilia Cabral (Divã) em nenhum momento deixa a desejar em sua performance, segurando o filme praticamente nas costas. Leopoldo Pacheco (Não Devore meu Coração) e o resto do elenco quase não tem espaço para atuar, e serve mais para movimentar a trama, o que não é uma coisa ruim, já que todos estão muito bons em seus respectivos papéis, rendendo cenas ótimas.

Em suma, Maria do Caritó, é um espetáculo visual divertido e deslumbrante, com uma ambientação espetacular, e um elenco cativante, dando uma sensação de que essa cidade realmente existe. Infelizmente, graças a uma edição que não condiz com a competência de outras áreas da obra, executando cortes errôneos, que acabam por deixar cenas perderem a sua potência dramática, deixando o filme completamente esquecível e sem impacto.