Adão Negro talvez seja um dos projetos mais antigos da DC. Tendo sido anunciado há 7 anos atrás, confirmando Dwayne Johnson no papel principal, o filme parecia nunca ver a luz do dia. Com a expectativa de criar um universo compartilhado, Walter Hamada trouxe o projeto de volta trazendo primeiramente o filme “Shazam!”. O projeto inicialmente contaria com Billy Batson e Adão Negro entrando em conflito no primeiro filme, mas Dwayne Johnson preferiu optar por um filme solo antes desse crossover. Agora com o projeto enfim finalizado e nos cinemas, será que a espera valeu a pena?
Adão Negro conta a história de Teth-Adam, um ex-escravo de Kandhaq que é ressuscitado nos dias atuais vendo seu país dominado por forças militares estrangeiras. Retornando emanando ódio, a Sociedade da Justiça parte em busca do anti-herói para prende-lo e impedir que a destruição ocorra.

A era de “anti-heróis” nos cinemas permanece proliferando novos filmes. Desde Deadpool a “violência em heróis” se tornou um chamariz para criar personagens mais “realistas e diferentes”. E isso é algo que também está presente no filme, afinal de contas temos um personagem que supostamente não faz o que heróis fazem. Trazendo um contraste com toda a DC, a campanha de marketing visou apresentar uma “mudança na hierarquia”, que é incitada, mas acaba não ocorrendo.
Inicialmente somos apresentados a um bom plano de fundo. O debate envolvendo um país ocupado por forças militares de outro país, e até mesmo a interferência dos Estados Unidos nele. Isso gera um bom plano de fundo para a chegada de um suposto salvador e em como ele pode mudar o jogo para os habitantes de Kandhaq. E o que inicialmente parece bom, perde o seu propósito durante a trama.
Não há uma real motivação para o protagonista, e o roteiro buscar criar algum desafio para esse personagem mega poderoso. Indo de um lugar para o outro, o propósito precisa ser encontrado e com isso é gerado as mais diversas situações genéricas. E os personagens secundários como Adrianna Tomaz (Sarah Shahi) buscam definir esse propósito, mas sem impacto o suficiente para sequer nós considerarmos isso importante. E também ocorre a necessidade de personagens que servem para explicar o mundo onde Teth-Adam retorna, gerando momentos expositivos demais até para crianças de 12 anos.

E através disso, há uma surpresa que gera uma real expectativa para o futuro e também durante o filme, a Sociedade da Justiça. A equipe surge com carisma e um desenvolvimento interessante durante o enredo. O Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo), Quintessa Swindell (Ciclone) e Pierce Brosnan (Senhor Destino) entregam as melhores interações do filme. Ali vemos as motivações de cada um, e por mais que sejam brevemente apresentadas, já se tornam o suficiente para sentirmos algo por eles. E ao lado deles, o carisma de Dwayne Johnson consegue se destacar em um contraste muito bom entre a equipe.
Ainda permanece visível os resquícios de Zack Snyder na direção do projeto. Desde a utilização de câmera lenta, até as cenas de ação. Os efeitos especiais são bons e nos entregam cenas de ação criativas para as habilidades de cada personagem. A fotografia de Lawrence Sher pesa nos tons laranjas e amarelos traz uma identidade para aquele mundo e nos faz remeter a outros filmes como 300. E algo que deve ser elogiado aqui é o Design de Produção feito por Tom Meyer. Os uniformes e equipamentos de cada personagem são não somente fieis aos quadrinhos, mas adaptações coerentes para o cinema.
E com esses resquícios “Snyderianos”, vemos ainda um certo peso no “tom sério” que ele buscava trazer em seus projetos, o que acaba não criando uma conexão para os momentos mais leves do filme. Ao mesmo tempo que o filme busca se provar como uma aventura épica, ele também tenta ser leve para o público geral. O contraste não casa e se torna uma aventura conflitante em diversos momentos.
De fato Adão Negro é uma jornada caótica, da qual até mesmo o seu final descontrói as críticas que ele buscava propor sobre o imperialismo. Novamente caímos em um projeto que nos oferece boas perspectivas sobre o que poderá ser feito no futuro, mas o seu presente se torna esquecível e caótico.