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Crítica: Tom e Jerry: O Filme | Pra matar a saudade e deixar seu filho feliz

Sabe aquele amigo de infância, que a gente decide ir a um lugar especial pra reencontrar? Nem preciso dizer que, em tempos de pandemia, o lugar especial é o cinema, mesmo (ô, saudade…), mas a gente sabe que só existem dois finais possíveis para um reencontro destes, não é? O primeiro, é o ruim, em que a gente descobre que ambos mudaram tanto, que aquela identidade que vocês sentiam um pelo outro se tornou algo vazio, mas difícil de preencher, porque vocês não gostam mais das mesmas coisas. Mas Tom & Jerry não mudaram em nada! E quer saber? Para eles, nem eu!

O filme de 2021, que chega hoje aos cinemas do Brasil, conseguiu captar a essência do gato e do rato com o antagonismo mais longevo dos desenhos animados e mostra, desde o início, que, nesta vida, ninguém é 100% bom, nem 100% mau. Não sei vocês, mas minha cabeça pirou, quando eu percebi que o Jerry é o vilão da história. Um vilão carismático, mas um vilão! E é bem assim que se desenrola a história dos dois coadjuvantes mais protagonistas do cinema atual. Sim, coadjuvantes! Ou vocês pensavam que iam transformar a perseguição de Tom a Jerry em mote principal de um filme exibido na tela grande?

A trama do filme empresta o protagonismo a Kayla (a simpática Chloë Grace Moretz), uma vigarista que se mete a roubar o currículo de uma produtora de eventos e acaba se tornando funcionária temporária de um grande hotel de Nova Iorque, para produzir o casamento do casal “coqueluche” do momento: Ben e Preeta (interpretados por Colin Jost e Pallavi Sharda), a despeito de seu chefe e antagonista, Terence (do divertido Michael Peña). O gato e o Rato acontecem como pano de fundo para esta trama, pois Jerry se aloja no hotel e Tom é “adotado” por Kayla para capturar seu rival.

Boas tiradas, muita confusão e uma trama simples e sem muitas viradas nem contratempos (é um filme pra criança, né?), uma fotografia bem “prime time” (pouco contraste, tudo iluminado, tudo bem fácil de entender), o que deve ter exigido bastante da direção de arte são aspectos técnicos bem fáceis de perceber. Uma montagem bem simples, também, bom ritmo, mas nada muito adaptado à linguagem de videoclipe dos dias de hoje: algo bem na média para agradar pais e filhos. Os pais ainda se divertem com as inúmeras referências cinematográficas colocadas, especialmente para as ações de Jerry. A sacada de ter todos os animais como desenhos animados justifica a naturalidade com que Tom e Jerry são tratados pelas personagens humanas (é hilário, na sequência de apresentação de Tom, quando o gato finge ser cego ao tocar piano no Central Park e as pessoas descobrem que ele não é cego, graças a uma travessura de Jerry: “Olha! É apenas um gato normal tocando piano! Quero meu dinheiro de volta!”).

A pintura dos cartoons é rebuscada, com tratamento de sombras, não usual para Tom & Jerry, mas serve para a ambientação dos animais, seguindo o que nos ensinaram “Uma Cilada Para Roger Rabbit” e “Space Jam”, ambos da Warner (mesmo estúdio), mas, fora isso, está tudo lá. Até o cachorro que odeia Tom e a gata, que é sua crush. Tudo.

Não é o filme dos sonhos, mas acaba arrancando risadas de adultos e crianças e é uma boa pedida, com o ensinamento de que não há maniqueísmos no mundo real e ninguém é só bom ou mau de verdade!