Segundo a teoria da relatividade de Einstein, o tempo não é absoluto, mas sim relativo. A noção de passagem de tempo varia de acordo com a perspectiva, as condições e a posição do observador no espaço-tempo, entre outras condições.
É exatamente isso! O tempo não passa da mesma forma para todo mundo, em todas as épocas e em todos os lugares. Até mesmo a noção de antiguidade passa por esse lapso de compreensão e perspectiva. O tempo para um adolescente de quatorze anos é diferente do tempo para alguém com trinta e quatro anos como eu, e muito diferente ainda para um idoso de setenta e quatro anos, por exemplo.
Essa diferença tão grande na sensação de passagem de tempo interfere diretamente na forma e na velocidade com que nós consumimos conteúdo. Por exemplo, quando eu tinha dez anos de idade, as coisas produzidas na década de 1970 já tinham mais de vinte anos. No entanto, como a quantidade de filmes, séries e desenhos lançados naquela época era bastante menor, havia mais tempo para que as obras fossem “digeridas”.
Além disso, a menor quantidade de produções e o fluxo consideravelmente mais lento com que elas eram apresentadas ao público faziam com que não tivéssemos a sensação de que um filme ou série de dez anos atrás era um fóssil pré-histórico, já que não éramos soterrados com dezenas e até centenas de novos conteúdos por semana.
Só para exemplificar, “De Volta para o Futuro” (1985), “Indiana Jones” (1984) ou mesmo “O Poderoso Chefão” (1972) eram assistidos pela molecada dos anos 2000 com uma empolgação muito parecida com a que os grandes filmes da época eram vistos. Eu espero que você entenda que não estou fazendo nenhum juízo de valor sobre a situação da época; a discussão aqui é sobre os efeitos de cada época na nossa relação com as obras.
Dia desses, eu conversava com um dos colunistas do Nerdzoom e ele citou “Game of Thrones” (2011 – 2019) como uma série antiga, para minha surpresa. Isso, como venho dizendo ao longo deste texto, é um sinal dos tempos; um sinal de como todos nós estamos sendo inundados com tanto conteúdo, que a noção de tempo passou a se distorcer diante de nossos olhos.
Com a quantidade imensa de streamings e, consequentemente, de filmes, novelas, séries e minisséries lançadas todos os meses, e a falta de tempo hábil até mesmo para tomar conhecimento da maioria dos lançamentos, dentro da disputa ferrenha das plataformas pela nossa audiência, é como se um mundo de informações estivesse sendo jogado sobre nós todos os dias.
Da mesma forma que, segundo a teoria de Einstein, um objeto muito massivo e a gravidade gerada por ele são capazes de distorcer o espaço-tempo, a massa gigantesca de conteúdo de todos os tipos a que somos expostos diariamente afeta completamente nossa noção de passagem de tempo e distorce nossa perspectiva de antigo e novo.
Nesse cenário, uma música de um ano atrás já é antiga, um filme de cinco anos já é uma velharia, qualquer coisa que tenha sido produzida há mais de dez anos é praticamente um artefato medieval. E, claro, além de tudo isso, ainda existe o FOMO.
O chamado “F.O.M.O” – “Fear of Missing Out” (algo como “medo de ficar por fora das coisas”) é uma síndrome moderna, cujos principais sintomas são a ansiedade e o medo em relação a não estar vivenciando coisas que outras pessoas estão vivenciando. Não saber da última fofoca, não ter assistido ao último filme que esteve na moda, não ter visto a série que todo mundo gosta, etc.
A hiperconexão, o boom incontrolável de conteúdo e o tempo cada vez mais encurtado por rotinas de trabalho estressantes e longas, as quantidades inacreditáveis de informação de boa e má qualidade e a pressão social pelo consumo de conteúdos e tendências estão nos levando por um caminho de estafa mental, cansaço físico e perda da capacidade de apreciação plena das coisas.
Quando foi a última vez que você separou uma ou duas horas para não fazer absolutamente nada? Quando foi a última vez que você não se importou em perder o filme do momento? Quando foi a última vez que você teve tempo?