RESSALVAS

Antes de discorrer pelo assunto que escolhi para a minha primeira crônica no Nerd Zoom, eu gostaria de fazer algumas colocações. E atenção a quem (AINDA) não viu o filme: vou dar muitos spoilers!!!

Primeiro, sou fã em absoluto de Christopher Nolan. O considero um dos grandes talentos do cinema da atualidade, responsável por filmaços, como o que me fez conhecê-lo pelo nome, “Amnésia”, e tantos outros, como “Insônia”, “A Origem”, até o mais recente (e mais fraco de todos), “Dunkirk”, sem contar a já inesquecível trilogia do Batman (destaque para “O Cavaleiro das Trevas”).

O diretor tem seus vícios, como explicar demais sua trama em diálogos, mas poucos conseguem sair da casinha com tanta propriedade (lembrando que Nolan é, além de diretor, roteirista da maioria dos seus filmes) quanto ele.

O FILME

E “Interestelar” é um fime fantástico. Talvez, o segredo de Nolan esteja no ritmo com que ele coloca as peças do filme, fazendo-nos acreditar em naquilo que vemos. A conta-gotas, ele vai nos transformando em pseudoespecialistas no assunto abordado e vamos mergulhando na velocidade certa na narrativa que ele propõe. Em “Interestelar” não é diferente.

Devagarinho, vamos entendendo como os últimos humanos sobreviveram. Depois, como chegaram àquele ponto, então, somos apresentados à NASA e à viagem espacial e suas particularidades nos são colocadas como se lêssemos uma SUPERINTERESSANTE. Mas, também, é aí que começa (e termina) o problema do filme. Não estou nem comentando dos erros científicos que há no roteiro (veja detalhes aqui: https://exame.abril.com.br/ciencia/duas-coisas-que-incomodam-os-cientistas-em-interestelar/), como a posição do buraco de minhoca e o que ele faria no nosso sistema solar, ou a mortalidade da aproximação de uma singularidade, mas um erro narrativo muito mais grave, que me pegou no exato momento em que ele foi cometido em tela e me perturbou pelos quatro anos que se passaram desde então. Vou explicar.

OI?

A humanidade está em risco na Terra, ok. Precisamos achar um novo planeta para habitar, ok. “Apareceu” um buraco de minhoca do lado de Saturno, ok (com ressalvas…). Mandamos uma nave tripulada para o buraco de minhoca para testar planetas previamente encontrados do outro lado, ok.

Achamos alguns planetas possivelmente habitáveis, ok. Perto destes planetas, há uma singularidade (pra quem, a esta altura, ainda não sabe, é um buraco negro), que permitiria a nosso herói voltar no tempo, ok (com ainda mais ressalvas: além da questão de sobreviver à singularidade, tudo o que acontece à partir daqui é uma enorme licença poética, pois ainda estamos longe de saber o que há dentro de uma singularidade).

Então, nosso herói entra lá, no buraco negro, e começa uma baita viagem lisérgica, onde Cooper (Mathew McConnaghey) encontra um meio de se comunicar com sua filha na Terra antes mesmo de ele partir em viagem. Lindo demais. Ele consegue que sua filha, já adulta, consiga que a humanidade parta para os planetas encontrados, para salvar nossa civilização e evitar o lance “Adão e Eva” e todos os problemas que o incesto poderia trazer para o novo rebanho de humanos. Então, BUM!

O ERRO

Nolan consegue, com uma linha de diálogo, estragar tudo. Entenda: o filme inteiro criou a discussão “quem enfiou aquele buraco de minhoca milagroso que nos salvou da extinção dentro do Sistema Solar?” Questão, esta, fácil de responder: alguma civilização alienígena que nos observava? Talvez! Ótimo! Ou, simplesmente, não explique, deixe no ar! Quem quiser que interprete! Mas Nolan explicou: Cooper pondera, filosofa e responde “It’s not ‘them’. It’s us!”(“Não são ‘eles’. Somos nós!”). Ou seja, não há uma raça alienígena. Como os humanos se salvaram para colonizar um novo planeta, evoluíram através dos tempos e, com conhecimento, voltaram no tempo e colocaram o buraco de minhoca lá.

Só tem um problema: para a humanidade se salvar, evoluir e fazer isso, ela precisaria de um buraco de minhoca. E, sem a humanidade evoluída, não há quem coloque o buraco de minhoca, então, a humanidade não se salva! É o erro mais primário, bobo, besta e comum quando falamos em viagem no tempo: PARADOXO. Aliás, isso nem pode ser chamado de paradoxo, é erro, mesmo. Porque, para haver um, deveria poder haver uma viagem no tempo, o que, sem o buraco de minhoca, NEM ACONTECERIA.

Aliás, o filme e seu roteiro cuidam muito bem para não deixar acontecerem paradoxos. Eles descuidaram foi da coerência, mesmo. O que não tira o mérito de “Interestelar” ser um filmaço, lindo, muito bem executado. Eu gosto tanto, que é o único pôster de filme que eu tenho pendurado na parede do meu quarto. E licenças poéticas foram assumidas, inclusive, no ultrarrealista e cultuado “2001”, então, por que Nolan não pode, não é?

https://www.youtube.com/watch?v=frD_IiY_A3E

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Luiz Salles
Sou um profissional de foto e vídeo no mercado desde 2007. Minha graduação é em Imagem e Som, pela Universidade Federal de São Carlos, sendo especializado em Direção de Fotografia e Produção. Tenho pós-graduação em Artes Visuais: Cultura e Criação pelo SENAC-Rio (EAD) e curso de Filmmaking pela New York Film Academy.